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Vidas ou não Vidas

11-07-2014 - Henrique Pratas

Fui almoçar com a minha mulher, como ela trabalha numa Unidade de Saúde, isolada em termos habitacionais, rodeada de campo aberto, onde resta o restolho das plantas que crescem e acabam por secar e uma palmeira que dá uma sombra fabulosa e está colocada no meio do terreno.

Ao chegar como é meu timbre reparo em tudo ou quase tudo para não me esquecer de nada e junto à palmeira à distância vi algo estranho inerte, noutras alturas da minha vida teria começado a “disparar” para tudo o que se mexesse, hoje com mais calma e juízo, aproximei-me lentamente e com as cautelas necessárias.

Cheguei perto e vi que uma pessoa estava deitada no chão na sombra da palmeira, não se mexia, pensei o pior, de imediato liguei para a minha mulher, ela constatou o mesmo que eu era de facto uma pessoa que estava ali, tentámos tudo mas respostas nenhumas, a respiração estava muito débil, devido à sua posição não conseguíamos identificar se era mulher ou homem, se era novo ou nova.

Como estávamos perto da Unidade de Saúde, chamámos de imediato um médico, tivemos sorte porque demos com um médico que se disponibilizou para sair da Unidade e deslocar-se ao local para avaliar o estado de saúde da pessoa que ali estava deitada inerte.

Rapidamente a medicou, e escrevo a porque era uma rapariga com 34 anos que ali se encontrava já a espumar pela boca e eu não consegui entender nada do que disse apenas ouvi da boca dela que a viver é muito difícil, que não comia nada há 3 dias e que lhe tinham tirado a filha, não sei porque motivos, razões ou o que quer que seja.

O INEM, como convém chegou em tempo oportuno porque agimos de imediato, passado o devido tempo e distância, em que vos estou a escrever mais este episódio, não me posso esquecer do que a rapariga/mulher disse “viver é muito difícil”, que palavras tão abençoadas como diriam os meus avós.

Não irei saber o desfecho desta situação, mas acho que fiz o que achava que era certo, só espero é que as instituições funcionem e dêem uma nova vida a esta pessoa e a tratem com o carinho e a dignidade que ela merece, mas tenho as minhas dúvidas, este Governo despreza as pessoas e viola claramente e constantemente os direitos consagrados na Carta dos Direitos Humanos.

Por outro lado o meu lado de revolta está aqui aos pulos e pergunta-me a mim como é que é possível que estas situações ocorram, já ninguém dá por nada estamos anestesiados, petrificados ou somos autómatos, a cabeça e o coração serve para quê?

Desculpem maçá-los mas tinha que vos contar mais este episódio, eu acho que fiz bem, mas se me colocar do lado da pessoa sem conhecer a história de vida dela fico na dúvida, mas habituei-me a não deixar ninguém, que esteja perto de mim, conhecido ou desconhecido, a ficarpara trás, provavelmente não tenho o direito de “obrigar” as pessoas a viver e não conhecendo profundamente o historial de vida, ponho em causa a minha atitude, na medida em que não sou capaz de ir mais longe e resolver estas situações e outras, nunca mais me convenço que não consigo sequer mudar uma “vírgula” quanto mais o Mundo, mas desistir nunca.

A vida só se vive uma vez e convém vivê-la bem, estou de consciência tranquila mas inquieto quanto ao estado/caminho da Nação.

Henrique Pratas

 

 

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