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ALGUNS ASPECTOS PREOCUPANTES DO DESCALABRO SOCIAL DA NAÇÃO

17-01-2020 - Pedro Pereira

Sinais preocupantes do descalabro social da nação entram-nos pelos olhos dentro, assaltam-nos os sentidos nos tempos que correm.

Resumidamente elencamos alguns exemplos como contributos para a reflexão do leitor sobre esta matéria, na certeza de que são extremamente preocupantes no contexto de uma nação onde os pilares base: Saúde, Justiça, Habitação, Emprego e Educação se encontram gravemente doentes.

De acordo com o INE, em 2018, 2,2 milhões de pessoas encontravam-se em risco de pobreza ou exclusão social em Portugal. Além de 1,8 milhões em pobreza relativa, havia 615 mil que viviam em privação material severa. Refira-se que a população total do país, registada em 2018 era de 10,29 milhões.

Os Serviços de Saúde

Médicos

A falta de médicos, em particular de especialistas suficientes para acudir às necessidades da procura permanente e crescente dos centros de saúde e hospitais, de gentes provenientes das mais variadas partes do mundo que todos os dias arribam a Portugal, sobretudo do Brasil, Venezuela, países de Leste e de África, gerando com isso longos atrasos para consultas, de longo meses e até de anos, revelam muitos casos que deveriam ter sido atendidos com brevidade dada a natureza da doença, não sendo raro que doentes inscritos em longas listas de espera, quando são chamados para consulta já tenham falecido.

Por outro lado, a sobrecarga de trabalho dos médicos em exercício, a insegurança física perante frequentes agressões por parte de doentes, a desarticulação das carreiras hospitalares aliadas a um baixo estatuto remuneratório, entre outros aspectos degradantes, tem vindo a conduzir para os caminhos da emigração e da saúde privada, um cada vez maior número de clínicos.

Para suprir as faltas, o Ministério da Saúde contrata médicos provenientes de países de Leste e da América Latina, na sua maior parte com manifesta dificuldade em entender o idioma português e os doentes portugueses, sendo que nunca os novos contratados são em número idêntico aos que abandonam a saúde pública, aumentado, portanto a insuficiência de médicos para os doentes que deles necessitem.

Para agravar este cenário, de acordo com o Orçamento do Estado aprovado, o governo prepara-se para cortar na Saúde e Educação 118 milhões de euros. Tanto mais grave quanto a afluência de imigrantes que tem vindo a crescer, e o envelhecimento da população.

Enfermeiros e outros Técnicos de Saúde

A qualidade da formação dos enfermeiros e outros técnicos de saúde em Portugal torna-os elementos fundamentais nos cuidados terapêuticos dos doentes, destes profissionais dependendo em boa parte a recuperação dos mesmos, o bom funcionamento e a qualidade dos serviços.

A escassez destes profissionais face às necessidades, a que se somam os baixos salários, a falta de perspectivas de futuro profissional, as más condições de trabalho com sobrecargas de horários e a desarticulação das carreiras, entre outros aspectos negativos, “empurram-nos” para a emigração para países (maioritariamente Reino Unido, onde nesta data já se contam cerca de 20 mil) onde lhes são dadas condições condignas de dignidade laboral e remuneratórias muito superiores às oferecidas em Portugal.

A falta destes profissionais vem-se fazendo sentir cada vez mais nas unidades de saúde pública.

Os Medicamentos

Se por um lado existe uma enorme variedade de marcas de medicamentos para (quase) todos os tipos de patologias, os mesmos, incluindo os genéricos, atingem, em muitos casos, preços verdadeiramente proibitivos para as magras pensões e reformas dos mais idosos e até para as bolsas de centenas de milhar de doentes que exercendo actividades laborais, auferem salários miseráveis, terceiro-mundista, incomportáveis de igual modo com a soma dos custos da habitação, água, gás, electricidade, alimentação e outros bens essenciais para a sua vivência/sobrevivência.

Sucede que de há cerca de duas décadas para cá, as comparticipações do SNS no custo dos medicamentos tem vindo a ser progressivamente reduzidas, de forma que uma elevada percentagem de medicamentos consumidos em larga escala para as mais diversas doenças, já nem são comparticipados.

Os mais idosos

Com cerca de 20% de idosos, podemos considerar que estes constituem uma larga faixa da população do país.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, Portugal é um dos cinco países da Europa que pior trata os idosos, sendo que "Portugal é o país da Europa que menos investe nas pessoas da terceira idade". Acrescenta ainda esta organização que 39% destes são vítimas de violência.

A sobrevivência da maioria dos idosos cujo rendimento assenta em pensões miseráveis, a que acrescem os elevados custos da água, da energia eléctrica e do gás, bens essenciais, redunda em má nutrição (quando não, fome), sofrendo de frio no inverno e de calor no verão em habitações insalubres, vivem na alternativa de comerem ou de comprar medicamentos. Sublinhe-se que quase um terço dos portugueses (28,5%) tem dificuldade em manter as casas quentes no inverno, percentagem quase três vezes superior ao resto da Europa.

Os sem-abrigo

À medida que continua a crescer o número de novos-ricos, graças sobretudo à corrupção à rédea solta e sem controlo, aprofunda-se o fosso entre ricos e pobres, sendo que estes são cada vez em maior número.

Como nunca se assistiu desde a 1ª República, o número de gente a viver nas ruas, homens e mulheres, atinge foros de verdadeiro flagelo social. Uma chaga que certa classe política, nomeadamente a que manda no país à vez (é o roda e bota fora, sempre os mesmos) aproveita para dela para fazer uma das bandeiras daquilo a que chama cinicamente de “combate à pobreza e exclusão social”, enchendo as televisões e conspurcando as páginas dos jornais em tempos de campanhas eleitorais.

Depois, a seguir, aparecem umas almas caridosas, eivadas de boa vontade, que fazem voluntariado em associações financeiramente sustentadas pelo Estado num total de vários milhões de euros, vocacionadas para esta desgraça, a distribuir comida de noite, cobertores e outros agasalhos para os sem-abrigo poderem ter algum conforto físico nas ruas. Até o senhor presidente de quando em vez faz umas incursões nocturnas distribuindo cobertores, sopa e selfies por essa pobre gente.

Embora reconheçamos como de enaltecer a caridade para com os mais necessitados, faceta que se encontra impressa na matriz cristã portuguesa, estas acções sem planeamento individualizado para retirar os sem abrigo das ruas e enquadrá-los socialmente, de nada adianta quanto ao futuro dos mesmos. É que um mistério persiste neste cenário: - Porque carga de raios é que o poder político não investe os tais milhões que distribui pelas associações de caridade e IPSS, na reintegração social dos sem-abrigo?

Nem aqueles que foram empurrados para a rua, dado possuírem patologias do foro psiquiátrico, enjeitam o abrigo de um quarto, o conforto de uma cama, o alojamento numa casa, uma ocupação profissional.

Neste caso, dar um cobertor e sopas a quem “bateu no fundo”, mantendo essa gente nas ruas, em vez da sua reintegração social, é um remendo esburacado nesta grande chaga social.

1ª parte - na próxima semana a 2ª parte deste artigo

Pedro Pereira

 

 

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