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UM CONTO DO LIXO

10-01-2020 - Francisco Pereira

O frio era descomunal, apesar do sol que despontava tímido aquecendo, pouco, as aves madrugadoras, cada vez menos porque a agricultura intensiva está a matar tudo, mas andando que isso não interessa para nada. Pousado singelamente junto ao contentor do lixo, um saco cheio de lixo, jazia ali abandonado, privado da companhia dos seus amigos, outros sacos do lixo, que dentro do caixote se divertiam à grande, tudo porque uma alma malvada, achara que levantar a tapa do caixote e depositar o pobre saquinho lá dentro era tarefa demasiado hercúlea, pode parecer pouco comum mas aqui em Almeirim, famosa capital dos javardos é normal.

Ali estava aquele pobre saco, prenhe de todas aquelas imundices que os sacos do lixo contém, para além das embalagens, que deviam ir para a reciclagem, mas de novo, como isso dá muito trabalho vai tudo ao monte para dentro do saco e de seguida para o contentor e às malvas com a reciclagem.

Por ele, pobre saco de lixo por todos desprezado foram passando algumas personagens cá da terra, a primeira foi um “cheira-caixotes”, uma espécie que campeia cá pelo burgo, uns são casos sociais de pessoas que deviam estar institucionalizadas por serem casos concretos de falta de saúde mental, outros são profissionais da recolha de objectos que aparentemente são lixo, mas que servem para negócio, outros ainda são apenas casos de imbecis, porque com a quantidade de instituições de ajuda e de coisas à borla para os ditos “carenciados” que existem por aqui, não consigo perceber porque é que alguém ande a remexer em caixotes, mas posso estar errado claro está e pode haver quem o faça por miséria.

Ora como disse a primeira criatura que se aproximou do saco foi um desses “cheira-caixotes” empedernidos que o faz por vício, abriu o saco espalhou algum do seu conteúdo pelo chão e seguiu o seu caminho rumo a outros caixotes mais promissores. O pobre saco ficou ali a sofrer de barriga aberta com algumas das entranhas espalhadas pelo chão, uma garrafa de plástico, uma casca de banana mais um saco de plástico daqueles transparentes com qualquer coisa lá dentro, triste cena aquela, pouco edificante mas habitual aqui pelo burgo, habitat preferido dos suínos.

Seguiram-se outras personagens, o caminhante dominical, com o seu chapéu de feltro e ar apatetado, pessoa sempre melindrada com tudo e com ar de que todos lhe devem e ninguém lhe paga, passou também a passeadora de cães mais o seu rafeireco imundo, a jovem ambientalista modernaça, daquelas que vai à missa e faz voluntariado no Mali, que é contra a poluição e assim, mais a senhora muito importante sempre ocupada, sempre muito ocupada que passa apressadamente sem sequer olhar, mais uns quantos que me dispenso de trazer o exemplo por receio de enfadar o leitor, certo é que toda esta maralha, passou ali por aquele pobre saco do lixo ferido sem sequer lhe deitar um olhar quanto mais ajudar colocando-o dentro do contentor, nem mesmo a velha porca, que não usa sacos do lixo e despeja os baldes cheios de porcaria directamente no contentor deixando sempre a tampa aberta, até um cão abandonado por ali rondou cheirou e partiu sem mais aquela.

Várias foram pois as pessoas e pelo menos um cão, que por ali passaram, sem sequer olharem para aquele degradante espectáculo. No entanto nem toda a esperança está perdida, pois uma senhora, pessoa de visíveis posses limitadas, caminhando com dificuldade, passou por ali, colocou o conteúdo espalhado no passeio de novo dentro do saco, colocando depois o saco dentro do contentor, fechando o contentor que a velha porca deixara aberto como sempre faz. O interessante de toda esta “estória” é que o bom exemplo veio de alguém de quem à partida pessoalmente não esperava, o que prova que o ser humano pode sempre surpreender pela positiva e que apesar de Almeirim ser uma terra de gente muito porca com péssimos hábitos de higiene ainda existem pessoas decentes.

Francisco Pereira

 

 

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