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E CORTEI AS UNHAS DA MÃO DIREITA

03-01-2020 - Pedro Barroso

Cortei hoje, enfim, cerces, as unhas da mão direita. Está bem; um músico nunca se derrota, nem resolve, nem retira, nem derruba. Qualquer desafinado que conste por aí me continuará a fazer sangrar o tímpano. Mas há um halo de descanso quase contemplativo em tudo isto.

Urgia celebrar os 50 anos.

Tentaram demover-me. Não era possível. Lutei muito por isso e chegou a ser posto na mesa algum adiamento para recuperação de hospitalização recente. Não foi possível protelar; e de resto, tal também não seria garantia de melhoria alguma.

Respeitou-se a data de 21 de Dezembro exactamente 50 anos - na hora e no dia da minha estreia no velho Zip Zip.

Depois de uma vida de andarilho não gostava de descansar deste modo, nem por estas causas; mas foi lindo ter velhos músicos que comigo trabalharam tantos anos, amizades que duraram uma vida, ver cantores diferentes cantarem coisas minhas, gente que me estimou e estima como exemplo de... sei lá, talvez meramente humanidade.

Sim, amigos. Pequei muitas vezes por pensamentos, palavras e obras; escolhi muitas vezes bastante mal os itinerários temáticos, as entrevistas, lidei com malditos ardilosos agenciamentos, editores habilidosos e muitos oportunistas; tanta gente se aproveitou do meu modo de estar como homem de campo e reflexão interior. Mas fiz percurso. Sim, corri estradas difíceis e submersas. Não frequentei os sítios que era preciso e dava jeito para ser frívolo, colunável e bajulado diariamente no medíocre social de referência. Mas é bom, ao mesmo tempo, estar aqui de cabeça erguida, 50 anos de ideias, música e palavras convividas. E ter este país na palma da mão, TODO, na viagem e na memoria bonita dos abraços e do respeito talvez merecido. Digam um sítio e um concelho e eu estive lá. Até assusta ver o mapa da minha trajectória. Cansa.

Sei que santos de casa não fazem milagres. Mas posso garantir que para esta celebração declinei educadamente o CCB e o Tivoli ao meu amigo e produtor Paulo Dias. Disse-lhe, tão simples como isso, que preferia despedir-me aqui, na minha terra, providencialmente central, para receber amigos de todo o país. Tal como aconteceu.

E a noite foi linda, magica. Mas agora por favor, quero descanso; dignidade e mais descanso, face a tudo que me circunstancia e limita de momento. Vou pintar mais, talvez.

Não paro; ainda hoje escrevi o texto de contracapa para o CD Novembro. O neurónio ainda funcionou, já não é mau.

Entretanto... há um obrigado devido a todos os que, entre técnicos, músicos, agentes ...mais ou menos sérios, organizadores e associações locais, mordomos, editores, gráficos, motoristas, afinadores, reparadores de instrumentos, família e amigos... - me aturaram em todo um percurso onde tantas vezes a urgência e o susto provocavam stresse e injustiça na repartição dos louros.

A todos os que me sustentaram, até aos actuais - embora forçados e combalidos...- dias de descanso, e me ofereceram o melhor do seu hidromel, das suas artes, saberes e da sua vontade, um extensivo e sincero obrigado.

Pedro Barroso

 

 

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