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XVII – HISTÓRIAS DE ENCANTAR
CARTAS DE UM TURISTA PORTUGUÊS NO ALGARVE - III

29-11-2019 - Pedro Pereira

Conforme prometi aqui estou de novo convosco para vos dar notícias.

Já nos vamos acostumando a esta forma de vida, passadas que são quase duas semanas de férias no parque de campismo no Algarve. Não dizemos qual é a localidade em que estamos, por via das invejas e maus-olhados de quem nos quer mal. A minha mulher até pendurou um corno dentro da entrada da barraca para esconjurar os males.

O pior vai ser quando tivermos de regressar a casa e voltarmos à rotina habitual.

Neste meio tempo a minha mulher engordou que nem uma vaca - salvo seja! - e a minha sogra chora de saudades da cama dela de pau carunchoso que herdou dos seus tetravôs.

A sobrinha está mais borbulhosa do que nunca e gagueja como um motor de um carro com quatro cilindros a trabalhar com três.

Os garotos, esses, estão umas feras, cada dia mais indisciplinados e ranhosos e eu deixei crescer livremente uma barriguinha para assim parecer um português mais genuíno, sim, que isto cá pelo Algarve há tantos estrangeiros, que até sem querer podemos passar por eles, o que não quero, de forma alguma.

Eu sou muito patriota, não sou como muitos portuguesinhos que vem para cá passar férias e para se fazerem passar por estrangeiros, até a “bica” pedem em inglês.

Agora, sempre que vou passear à vila com a família, visto o fato de treino e calço os ténis que em tempos comprei na feira de Coina.

A minha mulher (ou esposa, como está na moda chamar-se), coitadita, quando me vê assim vestido até me dá o braço. É que o sonho dela era o de ter casado com um jogador da bola.

Vejam bem que ela agora chateia-me todos os dias para eu ir ao barbeiro fazer um corte com penteado aos caracóis, estilo permanente e deixar crescer o bigode, como um ídolo dela das velhas glórias do Benfica.

IV

O ambiente cá pelo parque de campismo é óptimo. Somos como uma autêntica família. É claro que como em todas as famílias, falamos com uns e não falamos com outros.

Numa carta anterior contei-vos dos nossos vizinhos de trás e do lado direito da tenda. Pois agora vou-vos falar dos do lado esquerdo e dos da frente.

Os do lado esquerdo já cá estavam quando chegámos e vão continuar não se sabe até quando. Como não ganham o suficiente para alugar uma casa, por cá vão morando.

Trata-se de um casal de jovens. Ele chama-se Joca e ela Cátia Vanessa. Devem de dormir muito mal porque têm uma pele amarelada e são muito escanzelados. Vestem-se com uns trapos esquisitos e fumam uns cigarros muito mal cheirosos, mas não chateiam ninguém.

Uma destas noites apanhei-o sentado à porta da tenda com ar circunspecto, com a boca semi aberta, olhando no vácuo para longe. Nessa altura permiti-me quebrar-lhe o silêncio, para arranjar um bocado de conversa e perguntei-lhe:

- Ó senhor Joca, o que é que acha do resultado das eleições de Outubro passado?

Olhou para mim com uma expressão de terror e disse:

- Olha meu, quero que os partidos e os políticos vão todos para a… (aqui esgasgou-se) praia apanhar no c… - Aqui engasgou-se de novo e começou a tossir desalmadamente sem parar e a cuspir para o chão… Assim que ganhou fôlego levantou-se e pôs-se a andar por entre as barracas do parque de campismo e sumui-se na escuridão.

Em boa verdade não entendi bem o que ele quis dizer, mas acho que é um rapaz muito inteligente e, quem sabe, um filósofo.

O meu vizinho da frente, ou antes, os meus vizinhos da frente (um casal e dois filhos trombudos), são um bando de mal encarados. Devo dizer-vos que não simpatizo nada com eles. Parece que nunca estiverem no Algarve e andam armados em turistas finos. Já reparei que não falam com ninguém, talvez para se fazerem passar por estrangeiros, mas eu sei que são portugueses, porque ele trata a mulher por “bocê Maria” e ela por “bocê Manel”. Eu bem os oiço na calada da noite dentro da barraca.

Uns porcos é o que eles são. Pouco se lavam. Cheiram muito mal e a propósito deste facto, diz-se por aí que são amigos da natureza e por isso não tomam banho para não desperdiçarem água com coisas supérfluas.

Enfim… uma tristeza, é o que é! Isto e porque daqui por mais uns dias acabam as minhas férias.

Para a semana dou-vos mais notícias, meus amigos.

Pedro Pereira

 

 

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