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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

XVI – HISTÓRIAS DE ENCANTAR
CARTAS DE UM TURISTA PORTUGUÊS NO ALGARVE - I

22-11-2019 - Pedro Pereira

Estou feliz e contente, até, vamos lá, isto cá para nós que ninguém nos ouve, ando inchado que nem um peru e não é caso para menos, meus amigos. Levei muitos anos para realizar um dos sonhos da minha vida, que foi o de conseguir passar férias todo o mês de Agosto no Algarve. Finalmente consegui. Agora sim, sinto-me o verdadeiro turista do “faça férias cá dentro”.

As economias que tive de fazer. Quantas horas de trabalho extraordinário lá no escritório passei… o sacrifício por só comer uma vez por dia durante anos a fio, e até um dinheirito que calhou num prémio de lotaria que partilho com um grupo de rapaziada da tasca das bifanas lá do meu bairro, veio somar ao pecúlio que fui amealhando dentro de um velho açucareiro escondido em cima de um armário da cozinha sem que a família soubesse.

Bem… mas o pior já lá vai. Cá estamos praticando campismo (ou é barraquismo que se diz?) numa vistosa barraca de campanha cor de laranja luminosa (até parece um very ligth), com três assoalhadas. Bem, esta das assoalhadas é uma forma de dizer… mais uma cozinha e uma dispensa.

Sentimo-nos nela como Deus com os anjos. Eu, a mulher, quatro filhos, a sogra e uma sobrinha estrábica que gagueja forte e feio.

O casal de piriquitos e o Tareco, o nosso gato cinzento, que é um gatarrão, sim, porque é grande e gordo (ficou assim desde que a minha sogra o mandou capar a uma amolador de facas e tesouras, que aparece lá pela rua a tocar gaita-de-beiços em vésperas de chover) tiveram de ficar com a dona Efigénia, a nossa simpática e doce vizinha do lado.

Não estamos sozinhos, não senhor, porque neste parque de campismo há tanta gente que quase nos atropelamos uns aos outros, salvo seja, é claro, mas andamos todos com um sorriso nos lábios e boa disposição contagiantes.

Por aqui, felizmente, usa-se pouca roupa, o que para a minha mulher, coitadita, sempre é um descanso, porque os catraios passada uma hora de vestirem roupa lavada ficam todos encardidos.

II

Já cá estamos há uma semana, e o nosso vizinho da barraca de trás ainda não deve de ter comido outra coisa desde que chegámos, que não seja feijoada, porque no silêncio da noite, todas as noites, faz uma sessão de peidos sonoros que parecem trovões.

O da tenda ao lado direito é um alarve, como diz a minha sogra. Ele e a mulher estão sozinhos, andam sempre de trombas e não falam com ninguém. Ainda há dois dias estiveram a almoçar sardinhas assadas bem regadas com vinho tinto. No meio da fumaceira da assada, mastigavam e bebiam à pressa sem trocar palavras, como se o mundo fosse acabar.

Acontece que o grunho quando se levantou, tropeçou nas espias da sua barraca, caiu de borco à ilharga da minha barraca e vomitou ali desalmadamente, o que foi muito chato porque o cheiro pestilento atraiu montes de moscas varejeiras, que nos incomodou bastante.

Durante a manhã, na praia, encho o olho nas mamas ao léu das vizinhas do lado e outras, a mulher faz tricô à sombra do chapéu-de-sol e grita com os miúdos.

A sogra fica na barraca, no parque de campismo a preparar o almoço.

Depois que comemos, eu, a patroa e a velhota, dormimos a sesta. Os jovens desandam para as suas actividades lúdicas no acampamento.

À noite, todos juntos, damos um passeiozinho higiénico a pé até à vila e invariavelmente a mulher para em todas as montras de lojas que vendem desde roupas a electrodomésticos, abanando a cabeça, dando estalidos com a língua e lamentando-se que somos uns pelintras.

Os garotos andam sempre aos sopapos uns aos outros e eu distraio a vista, pegando de cernelha as mamas das veraneantes encaloradas que se cruzam connosco, através das cavas das blusas ou na sua transparência.

A sobrinha revira os olhos como bolas num jogo de bilhar à três tabelas pelos camones loiraços que connosco se cruzam nas ruas.

A minha sogra, essa, coitada, fica a tomar conta da barraca porque as varizes dificultam-lhe os passeios a pé.

Amanhã há mais sol e praia e em breve vos darei mais notícias.

Pedro Pereira

 

 

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