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Sábado 27 de Abril de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

XV - HISTÓRIAS DE ENCANTAR
A DONA PRESIDENTE

15-11-2019 - Pedro Pereira

A Dona Presidente entrou lentamente como um mastodonte, dado o peso do seu corpanzil rotundo, medindo cada passada que dava com estrondo no sobrado carunchoso, por via dos seus sapatões atamancados, no amplo salão onde se pespegava uma comprida mesa rectangular, em volta da qual se dispunham assolapados em cadeiras decrépitas, uma catrefada de lambe-botas, arruaceiros(as), chulos, carpideiras, débeis mentais e outras criaturas de mau porte. Enfim… era um genuíno bando de súcias.

No topo norte da mesa encontrava-se vaga uma única cadeira, antes, um cadeirão de alto espaldar decorado com adornos dourados e cor-de-rosa cueca.

A Dona apontou o seu traseiro para o mesmo e acertou nele com estrondo, fazendo ranger ruidosamente as velhas madeiras da cadeirão, qual trono de um paquiderme.

Só nessa altura é que as criaturas que até então faladravam e gesticulavam aos berros umas com as outras em alegre peixeirada, repararam no mastodonte. Fizeram um reverente e ordeiro silêncio.

A Presidente, de nariz empertigado, lançou um lento e glaciar olhar por cima das cabeças dos súcias e com voz ríspida como uma lixa número um, disse:

- Vamos passar à ordem de trabalhos.

Timidamente pondo um dedo no ar, um súcia, tremelicando, atreveu-se a perguntar:

- Qual ordem? Quais trabalhos?

A Dona, visivelmente agastada empinou as mamas, abanou a cabeleira pintada com corte fora de moda à Beatriz Casta e aos berros avinagrados, expelindo gafanhotos como um velho sargento lateiro respondeu:

- Porque carga de água é que você faz sempre as mesmas perguntas nestas reuniões das 2ªs feiras à noite, se já está farto de saber os pontos de ordem delas, que são sempre os mesmos? E acrescentou:

- Mas vou recordar-lhos mais uma vez. São assim:

- Debate aprofundado dos pontos 1 e 2, ou seja, o que vamos escolher para a nossa habitual almoçarada na próxima 4ª feira, e que caldeiradas de promessas políticas vamos cozinhar, para dar a comer à populaça ignorante dos nossos elevados desígnios, nos restantes dias da semana.

- Mais lhe lembro, criatura, citando o velho ditado popular:

- “Todo o burro come palha, a questão a saber-lha dar”. Encetando em seguida a rir desalmadamente num misto de roncos e urros, que contagiou os súcias presentes que riram em coro como asisinos desalmados.

Pedro Pereira

 

 

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