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O FRANQUISMO CONTINUA VIVO E DE SAÚDE
O CASAMENTO FORÇADO - MADRID E A CATALUNHA

18-10-2019 - Pedro Pereira

As pesadas penas de prisão aplicadas pelo Tribunal de Madrid aos nacionalistas catalães, como se fossem uns criminosos de delito comum, e as revoltas do povo que se vêm sucedendo face a esta bestialidade (no verdadeiro sentido do termo) política, não auguram nada de bom para a Catalunha, para os catalães, para os povos da manta de retalhos das diversas regiões que fazem da Espanha um Estado, com as suas culturas e idiomas distintos uns dos outros, nações diversas agrilhoadas umas às outras desde há alguns séculos pelo poder hegemónico de Castela com capital em Madrid.

Que fique bem claro que a Espanha é um país mas não é uma nação. Ao contrário, por exemplo, Portugal é um Estado/Nação, onde o seu povo fala o mesmo idioma e partilha a mesma cultura que leva mais de oito séculos.

Logo, como os “casamentos forçados” não podem nunca resultar em harmonia dentro do lar e serem “felizes para sempre”, a desarmonia conjugal no país vizinho, no lar da Catalunha sofre desta feita e com especial gravidade desde 2017, mais um episódio de violência conjugal.

A talhe de foice, não nos podemos esquecer dos anos de mau viver no lar do País Basco, com uma fronteira artificial que separa o seu território do lado francês, e da violência conjugal assaz violenta dos cônjuges, um contra o outro, que em recentes décadas deixou um cortejo de mortos de parte a parte. A este propósito é bom atentarmos que neste lar a paz não existe de todo. Vive uma paz podre, de faz de conta, até que um dia de novo…

Todos nós conhecemos histórias desgraçadas, com maus fins, em resultado de casamentos forçados. É inevitável.

O que se passa no país vizinho é um exemplo. Bem grave, porque estamos quase no final do primeiro quartel do século XXI e a repressão de Madrid sobre os seus povos agrilhoados desde há séculos, é mais do que violência conjugal, é colonialismo, fora do tempo e do modo.

É bom recordar que a Espanha tem bastante experiência nesta área, uma vez que continua a manter colónias como Ceuta e Melilla, no Norte de África, por exemplo.

Em séculos passados, o condado de Barcelona, na dependência do império franco, tinha o seu território situado a nordeste da Península Ibérica, entre os Pirenéus e o Mar Mediterrâneo. Ao longo dos séculos XI e XII, este território gozou de 150 anos de verdadeira independência, sendo, portanto, senhor do seu destino.

A sua liberdade conheceu a primeira afronta em 1469, quando da união das coroas de Aragão com a de Castela, através do casamento entre Fernando I e Isabel, que acorrentou um povo com uma língua, cultura e vivências específicas a uma existência ultrajante, permanentemente posta em causa no decorrer de vários séculos após, até aos dias de hoje.

A posterior conquista dos reinos de Nápoles, da Sicília e da Sardenha, pelo reino de Aragão, teve como resultado um desenvolvimento económico e demográfico acelerado na região da Catalunha (em particular o entreposto comercial de Barcelona) que, não obstante os laços feudo-vassálicos perante a autoridade aragonesa, manteve uma relativa autonomia, com leis e instituições parlamentares próprias.

No período de 1640 a 1652, a Catalunha foi uma república autónoma sobre a protecção da coroa francesa.

No século seguinte, durante a Guerra da Sucessão espanhola (1713/1714), a Catalunha apoiou a Casa dos Habsburgos, contrariamente à dos Bourbons de Felipe V. Por esse facto, sofreu um mortífero cerco a Barcelona, que se saldou em cerca de 20 mil mortos. Com a vitória da Casa de Bourbon, os rebeldes catalães foram severamente castigados. Assim, o Parlamento foi encerrado, o uso da língua catalã pelos funcionários do Estado na região foi abolido e desmantelado o sistema autonómico do resto do reino.

Dada a recuperação económica da Catalunha ao longo do século XIX a identidade cultural histórica catalã renasceu e o nacionalismo do seu povo conquistou um cada vez maior número de adeptos ao longo do século XX.

A criação de um governo regional (la Generalitat), em consequência da instauração da segunda república em Espanha, em 1931, proporcionou à Catalunha um espaço de autonomia, porém, o deflagrar da Guerra Civil (17 de Julho de 1936 a 1 de Abril de 1939) cinco anos mais tarde, permitiu o recrudescer de uma nova vaga de repressão por banda do Estado relativamente à autodeterminação catalã.

A Catalunha havia-se aliado às forças republicanas contra as tropas de Francisco Franco e foi um dos principais palcos de resistência no decorrer da Guerra Civil.

Com a vitória de Franco, a repressão da ditadura franquista contribuiu para a consolidação do movimento nacionalista catalão, gerando um forte sentimento independentista que o governo autocrático de Madrid continua a não aceitar como uma crua realidade que é.

Em 1979, após a morte do ditador, a Catalunha viu restaurado o seu estatuto autonómico e reconhecido o catalão como língua oficial do território, o que lhe permitiu consolidar a sua identidade, tradições, idioma e cultura, que a transição para o regime democrático proporcionou.

A crise económica iniciada em 2007, fez renascer os movimentos independentistas catalães e com eles surgirem uma série de braços-de-ferro entre a Generalitat e o Governo de Madrid, quer devido à declaração de soberania do Parlamento regional em 2013, como também devido à consulta popular relativa à independência, ocorrida em 2014, pela adopção de uma resolução preparatória para o projecto secessionista catalão, em 2015 e, por fim, pelos repetidos chumbos constitucionais e dada a firmeza de Mariano Rajoy às movimentações populares verificadas na Catalunha.

Há poucos dias, a sentença do Supremo Tribunal espanhol que condenou a pesadas penas de entre 9 a 13 anos prisão, os nove líderes do movimento independentista catalão revelou-se como um mau sintoma, um mau pronuncio do que aí vem em termos de alterações aos regimes ditos democráticos que vigoram nesta UE em descalabro, decrépita, cujo episódio seguinte está anunciado com o Brexit, no dia 31 deste mês de Outubro.

Esta é uma sentença ignóbil, própria de um regime totalitário com resquícios bafientos da ditadura franquista (o governo espanhol escusa de chamar democracia ao seu regime), ao arrepio da vontade soberana de um povo, que atenta contra os mais elementares princípios da Liberdade e autonomia do povo catalão, de qualquer povo, dos Direitos Humanos.

NOTA

Recordamos os portugueses mais distraídos quanto a questões históricas peninsulares, que Portugal deve a restauração da sua Independência, em 1640, em parte, graças à revolta popular da Catalunha nessa data (Guerra dos Segadores), contra os abusos das tropas espanholas aquarteladas nessa região, culminando na proclamação da República pela  Generalitat  e a posterior aclamação de Luís XIII, de França como soberano. Esta situação levou a que o governo de Madrid deslocasse mais tropas para a região, desguarnecendo as fronteiras. Merece destaque também, a acção concertada do Duque de Medina Sidónia, irmão da Rainha D. Luísa de Gusmão, que impediu as tropas espanholas de se concentrarem na fronteira portuguesa.

Recordamos de igual modo aos portugueses distraídos, no que se refere à Constituição da República Portuguesa, o Artº 7º (Relações Internacionais), parágrafo 3. - Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão .

Democratas como são os portugueses, reflictam bem sobre este artigo da Constituição da Nação. Assim, ou são contra o mesmo ou entendem que deve de ser mudado e, nesse caso, que se lixem os povos…

Pedro Pereira

 

 

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