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OS COVEIROS DA “DEMOCRACIA”

28-06-2019 - Pedro Pereira

Encontra-se em curso de modo acelerado, uma mudança – quase – radical mas imperceptível a grande parte da população, nas estruturas sociais, económicas e políticas do Estado, passíveis de conduzir o país a breve prazo para uma ditadura sem suporte ideológico, porém, muito para além de qualquer ideologia conhecida de extrema-direita até hoje posta em prática em qualquer parte do mundo.

Em parte devido aos mercados, a quem caninamente obedece este governo – como outros – na UE e não só, devido à selvajaria capitalista instalada e à globalização económica.

Para tal desiderato encontram-se em marcha alterações à Constituição da República, «pormenor de somenos importância» para os partidos do rotativismo, ou dos que apoiam o actual governo, que em dois governos de desgoverno, conseguiu a proeza de atirar o país para um buraco negro insondável, que infelizmente boa parte da população ainda nele não reparou, mas há-de vir a reparar...

Que não restem dúvidas a ninguém, que uma revisão constitucional encontra-se a ser cozinhada na penumbra política de acordo com as directrizes de sinistras corporações internacionais. Aguardemos as notícias após as próximas eleições legislativas.

Paralelamente, o governo continua a apertar o garrote no pescoço dos portugueses. Faz parte do plano: conduzir o povo para patamares mínimos de miséria, para dessa forma melhor o poder controlar, aproveitando o facto de estar a gerir os negócios da governação(?) em regime de ditadura sui generis.

Saliente-se que Siza Vieira, o arquitecto português mais premiado e internacionalmente prestigiado, afirmou há poucos anos - na senda de outras personalidades - que em Portugal se «vive de novo em ditadura», numa expressão clara da prática governativa e do sentir da maioria dos portugueses, sobretudo os que viveram nas décadas salazarentas.

Entrementes, a satisfação dos portugueses com a democracia atingiu o mínimo histórico de sempre. A maioria dos cidadãos não acredita nesta dita “democracia”. Por outro lado, é público e notório, que se assiste à consolidação de um sentimento popular anti-partidário.

Por outras palavras: - A maioria dos portugueses não se revê nos partidos políticos e nas instituições do regime.

Temos aqui, portanto, a «grande obra» produzida pelos partidos políticos desde 1974 para cá: - As responsabilidades e culpas pelo fracasso da democracia, do sistema político/partidário em Portugal, devem-se, exclusivamente, a todos quantos têm feito da política o seu modo de vida, a sua «profissão», à corrupção à rédea solta e às várias secções partidárias, autênticos feudos – com laços de vassalagem, inclusivamente - de clientelas dóceis e servis aos seus senhores, que produziram em pouco mais de quarenta anos, uma classe de novos-ricos neste país.

Assim, a desilusão e o descrédito para com a democracia que se apoderou da maioria dos portugueses, decorre, maioritariamente, de uma vontade – ou tendência – expressa e implantada pelos últimos governos, que tende a alinhar por baixo os valores democráticos conducentes à sua eliminação.

Aberta esta autêntica caixa de Pandora, vimos e ouvimos todos os dias nos últimos meses, nos meios de comunicação social, diversas figuras públicas de variados quadrantes socioprofissionais, nomeadamente alguns empresários e intelectuais, fazerem a apologia mais ou menos encoberta da ditadura, porque – dizem – a «democracia está podre» e por razões acumuladas é necessário «mudar o sistema político» nem que seja com «um novo género de ditadura», dizia em tempos de governança socretina esse grande empresário de nome Joe Berardo.

Quando em 18 de Novembro de 2008 a ex-ministra Manuela Ferreira Leite afirmou que «seria bom haver seis meses sem democracia», para o governo de então poder implementar as medidas que ela entendia que deviam de ser feitas, mais não expressava em público o que muitos políticos de vários quadrantes diziam e continuam a dizer em privado.

Poderia ter acrescentado – dizemos nós – que os governantes que não têm competências nem saberes para governar em regime democrático, em liberdade, só conseguem implementar os seus programas merdosos com repressão, ou seja, em ditadura. Basta para tanto que a União Europeia continue a marcha para a desintegração. O Reino Unido deu o tiro de partida…

Infelizmente a senhora Ferreira Leite esqueceu-se de acrescentar que a classe política portuguesa – salvo honrosas excepções – sofre de uma variante da doença das vacas loucas, que resulta da sua falta de senso comum para lidar com a liberdade de expressão, com ideias inovadoras e, sobretudo, com gente mais inteligente e sabedora que eles – que até neles votam - porque a moléstia que os acomete após serem eleitos, manifesta-se – sobretudo – na sobranceria, na cagança e no desprezo com que lidam com os seus concidadãos, numa atitude comum aos néscios e imbecis. Eles e elas é claro. Neste aspecto lembramo-nos de um velho ditado: «Se queres ver um vilão, mete-lhe um pau na mão».

Por tudo isto, quando o leitor chegar ao final da leitura deste texto – que é pequeno – mais umas dezenas de portugueses terão abandonado o país. Fluxo emigratório semelhante ao vivido nos anos sessenta em tempos da ditadura.

Nessa altura - tal como hoje - as causas fundamentais eram a falta de emprego, a miséria e as desigualdades sociais, entre outras.

Estamos em crer que a fuga dos cidadãos nos dias de hoje é, em média, superior à dessa década passada, tanto mais que o facto de Portugal se encontrar – por enquanto – na UE, com fronteiras abertas entre Estados comunitários e haver mais e melhores meios de transporte, facilitadores da saída, torna-se difícil controlar ou saber o verdadeiro número da hemorragia populacional.

Acresce lamentável o facto de os portugueses terem de emigrar para sobreviver, sendo que é constituída por mão-de-obra qualificada que sai pela porta fora todos os dias. Gente que levou anos a formar-se - e nalguns casos com sacrifícios - muitos deles em universidades sustentadas pelo erário público. Porém, esses cidadãos estão no seu direito de procurarem a sua sobrevivência. O Estado não pode (porque lhe falta autoridade moral e política) é ter direitos sobre eles.

Esvaído o país de gente jovem, exaurido pelo peso da canga dos impostos. Do desemprego, da fome e da miséria, o povo que fica ou se deixa espezinhar pelo poder, ou se revolta, como sempre aconteceu em situações limite de repressão dos governos sobre a Nação, ao longo da sua História...

Entretanto o governo, verdadeiro genocida, continua a sua obra de extermínio social da população: os jovens – e menos jovens – compelidos a fugirem do país para sobreviverem e os idosos que ficam - grande parte deles - a morrerem mais cedo do que seria previsto, à míngua de alimentos suficientes ao seu sustento e/ou por falta de medicamentos receitados para as doenças de que padecem, porque as suas míseras pensões não chegam para aviar as receitas, nem para comerem, associados ao cada vez mais degrado serviço nacional de saúde.

O governo consegue, assim, a proeza de reduzir grande parte da despesa pública recorrendo ao assassinato social.

Mau grado as distâncias cronológicas e as diferenças de contexto, o panorama político, económico e social que se vive hoje em Portugal é semelhante ao dos tempos de estertor da 1ª República, que culminou no golpe militar do dia 28 de Maio de 1926 que instaurou uma ditadura militar e, posteriormente, a ditadura salazarista.

Talvez seja oportuno recordar que nessa altura quase toda a população apoiou a revolução militar, um movimento eivado de equívocos e é nesse sentido que se explica que a ele tenha aderido muita gente de boa-fé, que lenta e gradualmente nos tempos que se seguiram se afastou ou foi afastada desse assalto ao poder.

O golpe militar contou com o apoio das classes dominantes, as chamadas «forças vivas», as classes intermédias, funcionários públicos, empregados de comércio, classe operária: operários industriais e assalariados agrícolas.

No estado caótico em que o país de encontrava, quer económico, quer social – como hoje - era previsível um golpe militar no estilo do ocorrido. A sua amplitude e sucesso contaram com o decisivo contributo e apoio da classe operária e do movimento sindical, vítimas do regime republicano.

Todos estavam de acordo em fazer intervir o exército, onde o nível de vida dos seus oficiais havia atingido um estado degradante. Aludindo ao brilho dos galões, o povo havia-os rotulado de «miséria dourada».

O equipamento e o armamento eram obsoletos. Por outro lado, o exército durante anos havia sido preterido em favor da Guarda Nacional Republicana.

Desta forma, a República dissolvia-se por falta do apoio maioritário dos portugueses.

Ouvimos hoje, de novo, amigos e conhecidos a dizerem a medo que, «a minha política é o trabalho», «não quero falar de política», «a política é para os políticos» e conselhos como: «não escrevas nada sobre política em lado nenhum», além de outros mimos medrosos que tais.

Em locais públicos, em cafés, fala-se em surdina com os interlocutores ao mesmo tempo que se vai observando quem está nas mesas em redor, com desconfiança não vá haver novos “pides” à escuta, evita-se falar ao telefone sobretudo no que reporta sobre política.

Dizem-nos que os telefones e telemóveis estão sobre escuta e que há bufos ao serviço do partido no poder à paisana a escutar o que as pessoas dizem. Temem-se represálias nos empregos, nas escolas, nas universidades. Fala-se em chantagens nos locais de trabalho…

Como antes do 25 de Abril de 1974, vemos, ouvimos e sentimos o medo e a desconfiança a germinar entre as pessoas.

Pedro Pereira

 

 

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