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VESTIR A CAMISOLA

21-06-2019 - Francisco Pereira

Tem sido com melífulos prazeres que de quando em vez vejo a circularem nos perfis dos neo-liberaleiros formatados, pobres papagaios, que vão reproduzindo a cassete do seu evangelho, ao serviço dos seus mestres ocultos, exemplos de frases motivadoras ao estilo do infeliz e macabro “Arbeit macht frei”; por exemplo esta, “Quem não luta pelos interesses da empresa onde trabalha não merece lá estar” entre outras pérolas do saber do empreendedor neo liberaleiro, que estão para o Mundo actual como o “alegria no trabalho” ou o “pobres mas honrados” estavam para os bolorentos tempos salazarentos, o objectivo é o mesmo, manter a canga no sítio para o bicho ir calmo para o matadoiro.

Há uns três ou quatro anos, um chefe, disse-me que “…aqui na casa queremos gente motivada…”, quem assim me falava tinha a quarta classe ganhava vários mil Euros, era chefe porque a militância política e respectivo cartão partidário assim o ditou por via de actos eleitorais. Olhei para o senhor e ri-me, respondi-lhe que a ganhar 500 paus por mês a motivação é pouca ou nenhuma, virei-lhe as costas e fui embora.

Uma frase que ouvi muitas vezes ao longo dos trinta e tal anos que levo no mundo do trabalho foi “Vens trabalhar para aqui mas só posso pagar tanto”, ou seja, os excelentes empresários, patrões, empregadores, públicos e privados cá do paraíso querem lagosta ao preço de petinga de gato, querem gente boa para trabalhar, leia-se encher-lhes o cu, ao preço da uva mijona, ainda assim choram cada tostão gasto, choram os descontos, mentem nos recibos de ordenado e fazem toda a espécie de tropelias, o trabalhador esse lorpa convicto vai andando a ser embarretado, porque precisa dos tostões para pagar a sopa, é nisto que os senhores empresários, patrões e ou empregadores portugueses são bons, a arregimentar escravos, pagos por dez reis de mel coado e cara alegre que tens de vestir a camisola da empresa.

Poucos são, infelizmente, os empresários dignos desse nome, que não desmerecem quem os enriquece, que pagam bem, serão exigentes, pois se calhar são mas estão no seu direito, infelizmente a grande maioria começando pelo Estado, são falcatos a querer encher o cu à conta da lorparia que trabalha por tostões.

Quem só tem dinheiro para faneca não pode querer comer lagosta, quem só tem pra asa de frango não pode querer trincar bife do lombo, como oiço muitas vezes, “os serviços prestados tem de ter um custo” ainda há umas semanas ouvi o senhor da CGD dizer o mesmo a propósito da pulhice das comissões por utilização do Multibanco, pois em Portugal o único serviço que parece que ninguém quer pagar é o trabalho, ainda que todos o queiram feito e vivam à conta disso, directa ou indirectamente, em Portugal um ordenado de miséria de seiscentos Euros é o possível, mas uma renda acessível são mil no entender das alimárias politiqueiras, que raio de terra esta.

Em Portugal, querem é borlas, voluntários e beneméritos, querem continuar a comprar veículos topo gama e casas no Algarve, por isso trazem gente dos antros miseráveis do planeta, com a justificação de que em Portugal as pessoas não querem trabalhar, é verdade que falta gente, emigraram para onde lhes pagam, jamais voltarão, é verdade que temos uma larga faixa de parasitas, que não querem fazer ponta de corno, mas é ainda mais verdade que em Portugal não querem pagar o justo valor do trabalho, o que querem é escravos, é isso que todos vamos sendo cada vez mais, escravos patéticos espartilhados entre paredes cada vez mais apertadas.

Não vistas camisolas, não compro discursos patetas neo liberais sobre empresas, querem que eu seja profissional, paguem!

Francisco Pereira

 

 

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