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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

AMOR, CIÚME & CRIME À PORTUGUESA (III)

25-04-2019 - Pedro Pereira

Os casos de violência doméstica não eram exercidos somente sobre as mulheres. Também eram noticiados casos de homens sobre os quais as mulheres exerciam violência, como no seguinte ocorrido:

«José de Figueiredo, morador na calçado do Marques de Abrantes, 40, rez-do-chão, é casado com Eugénia Figueiredo, moradora na rua da Fé, 23, 3º, andando os conjugues desavindos. Ao encontrarem hontem à noite na rua das Freitas, a Eugenia foi-se ao marido, batendo-lhe com uma sombrinha. Este, que ficou com a cara escorrendo sangue, foi levado ao posto da Misericordia, onde soube que a mulher havia ido para a esquadra da Alegria. Depois de pensado apressou-se a ir ali, pedindo para a soltarem, por nada querer d’ela, no que o atenderam».

(O Século, 08.07.1912, p.5.)

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«A Micas Saloia tinha como amante, aquele desordeiro conhecido pelo Charuto, que está no Limoeiro a cumprir sentença; mas, como ele tinha ainda largos meses de cadeia, a gatuna começou a entreter amores com um tal Artur, que fez parte da quadrilha do Bébé, individuo que já era das relações da Guilherminha Martins de Jesus, uma das muitas desgraçadas que vivem pelas hospedarias da Mouraria.

A Guilhermina, que é natural de Faro e faz 22 anos no mez próximo, tendo já cinco de tirocínio na sua miserável vida, e residindo habitualmente na hospedaria da rua dos Alamos, 42, 1º, não contava que a Micas Saloia, que vinha armada com um canivete, veio por detraz da desgraçada, agarrou-a pelos cabelos e vibrou-lhe oito golpes, que a deixaram n’um mar de sangue.

Acudiu a policia: a faquista, que já se desfizera do canivete, foi presa e a Guilhermina foi conduzida ao hospital de S. José, onde a curaram de uma facada na cabeça, três na cara, duas n’um braço e duas n’uma das mãos, tendo-lhe uma delas rasgado um dedo».

(O Século, 13.01.1914, p.3.)

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No meio das notícias de crimes passionais que terminam em drama, alguns acabam por ter um desfecho a raiar o humor negro. Eis um exemplo:

«Na passada quarta-feira, José das Neves, como de costume, saiu de casa à hora indicada (4.30 da manhã), mas a meio do caminho, isto é, meia hora depois notou que não levava o passe consigo. Esse contratempo forçou-o a voltar a casa e, como quer que ainda tivesse deixado a mulher deitada na cama, abriu a porta com todas as precauções para a não despertar. Subitamente, um pequeno ruído que fez deu motivo a que no quarto houvesse grande reboliço e que ele que e quando ali entrou, fosse encontrar a consorte num grande sobressalto, titubeando e quasi não podendo atinar com o que dizia.

Suspeitando de que em tido aquilo havia grossa novidade, o Neves forçando por doces palavras que a mulher se recolhesse ao leito, sentou-se tranquilamente n’uma cadeira e começou a interrogal-a. A mulher quanto mais pretendia desculpar-se mais se atrapalhava até que, por fim, saiu de baixo da cama um divíduo inteiramente estranho a pretender impor silencio ao Neves, e até com atitudes agressivas. É claro que este, não lhe restando duvidas acerca da infidelidade da mulher, correu para uma faca, no intuito de matar os dois amantes, acabando, no entanto por aplicar uma tareia mestra em cada um d’eles tendo sido muito melhor convidado o homem, que era, afinal, o moço, o servente da farmácia Santos, estabelecida por baixo do consultório, um rapaz de nome José Joaquim Mendes».

Pouco depois fica-se a saber que o José Joaquim, fugindo, havia-se acoitado a sua casa, dando-se o estranho infausto de morrer de seguida em circunstâncias estranhas, ocorrendo chegar já cadáver ao hospital de S. José para onde fora conduzido.

Por seu turno, num rebate de consciência face à morte do rival, o marido traído entregou-se no Governo Civil onde confessou um assassinato que a autópsia iria desmentir, uma vez que o óbito declarou que José Joaquim faleceu de um “nefrite” e não da tareia infligida pelo Neves.

(O Século, 13.01.1914, p.1.)

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Eis como o homicida num acto de loucura põe termo à sua vida depois de atingir a tiro a sua mulher julgando-a morta:

«A avó da Alzira, vendo ao dois esposos sentados em frente um do outro, tendo em meio d’eles apenas a mesa de jantar, pediu de novo ao sargento que perdoasse a sua mulher e esta erguendo-se para lhe dizer que lhe tinha escrito uma carta e que ia buscal-a para que a lesse.

Foi ao seu quarto e trouxe, efetivamente, uma carta que deu ao marido, na qual lhe pedia que lhe desse qualquer destino, pois não podia estar a sobrecarregar a avó com despezas, que lhe comprasse, ao menos, uma cama e lhe arbitrasse uma mezada.

O sargento leu a carta indiferentemente e atirou com ela para sobre a meza, sendo também com indiferença que recebeu um beijo da mulher, a instancias da avó. A Alzira, vendo como era tratada, deixou então a casa de jantar e veio cá para fora pentear-se, para um quarto cuja janela deita para a rua, contíguo um ao outro que é uma especie de saleta.

A velha Ermelinda, depois de conversar um pouco com o sargento, a quem renovou os seus pedidos, foi para a cozinha e ele, erguendo-se e atravessando o corredor, foi ter com a mulher. D’aí a pouco, a Alzira gritava que ele tinha uma pistola e fugia pelo corredor, voltando à direita, para o quarto dos avós, que tem tambem comunicação com a saleta citada.

A velha acudiu, mas, alucinado, o Ribeiro apontou-lhe a arma e ela deixou-o passar. D’ali a pouco ouvia-se um tiro e a Alzira saltava da janela para a rua com o braço esquerdo fracturado por uma bala, logo seguida pelo marido, que empunhava a pistola e lh’a apontava.

Gritando como possessa, a pobre rapariga atravessou então o largo e meteu á rua do Giestal, onde o assassino a alcançou, em frente da taberna, e a derrubou com uma bala no peito e outra n’uma face, junto à orelha.

Vendo-a cair, levou a pistola à cabeça e fez saltar os miolos. (…) A Alzira foi trazida em braços para o hospital Colonial, na Junqueira, onde recebeu os primeiros socorros, seguindo d’ali n’um trem para o hospital de S. José e recolhendo, em estado satisfatório, à enfermaria de Santa Joana.

(O Século, 15.01.1917, p.1.)

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Poucos dias passados, noticia O Século sobre o infortúnio de um marido traído, com má pontaria, de que respigamos a local:

«Cego de ciúme (…) armado de um revolver Smith, dos que antigamente eram usados pela policia, disparou-o cinco vezes sobre o outro que lhe seduzira a esposa e a quem surpreendera em flagrante, indo, porém, as balas, uma d’elas, atravessar o kiosque da nossa secursal; duas cravar-se na rua de João de Deus, na parede da casa de pasto Lourenço, que torneja para a calçada da Estrela, outra ferir de morte uma velhota que passava e ainda outra ferir n’um braço um pobre homem que também seguia o seu caminho (…) enquanto o individuo alvejado fugia incólume pela calçada da Estrela».

(O Século, 06.02.1910, p.2.)

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«As 4 horas da madrugada de hoje, Antonio Martins, de cerca de 30 annos de edade, operario rolheiro de uma fabrica em Cacilhas, solteiro, e que vivia há tempos com Maria da Cruz de Sousa, mulher a dias, de 20 annos de edade, tentou assassinal-a disparando sobre ela um revolver Smith».

(O Século, 23.02.1917, p.2.)

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«Pelas 22 horas de ontem, ao passar pela rua do Benformoso, Vicente Artur Paiva e Silva, morador na Avenida 5 de Outubro, 214, 4º, deparou com Clemente de Sá e a mulher com quem vive, Maria Baptista Diniz, ambos moradores na rua Eiffel, a rez-do-chão. Parece que esta, sendo em tempos amante do Paiva, o abandonou para se juntar com o Sá. Cheio de ciúmes, aquele puxou de uma navalha e vibrou vários golpes no rival e na Maria Baptista Diniz, ferimentos, porém, sem gravidade».

(O Século, 11.01.1926, p.3.)

Continua no próximo número

 

 

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