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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

Dos burgessos e dos muitos que Almeirim têm!

12-04-2019 - Francisco Pereira

São sete da manhã de um ensolarado Domingo, lá fora tudo é calma e sossego, trinam os pardais telhado e o tirititiu do melro desconfiado ecoa pelos ares, o povaréu dorme na paz dos justos, cá dentro entretenho-me a folhear o jornal de ontem, enquanto degusto a sandocha e o belo chá quente, no meu colo sua Graça Dom Patinhas Marques de Mafarrico, para os amigos M&M, ronrona satisfeito com a vida.

Entretanto vindo lá do fundo da rua, vejo-o a acelerar, eis que chega sua alteza o burgesso, chega à rua e faz marcha atrás em sentido proibido, manobra que o burgesso típico adora, para quê ir dar a volta se pode fazer marcha atrás em sentido proibido, se os senhores da polícia vierem ele está em correctíssima posição.

Antes de parar a viatura uma aceleração, umas buzinadelas, são sete da manhã de um ensolarado Domingo, lá fora tudo era calma e sossego, o burgesso chegou, ele é dono da rua, dono do Mundo e dono do sossego dos outros.

O burgesso sai do carro aos berros, aos berros continua enquanto bate num portão, lá de dentro respondem igualmente aos berros, a “burgessice” parece hereditária, povoa a génese do ser vivo por ela afectado como uma maha de gordura que se espalha numa folha de papel empapando-a, é uma impressão digital genética fantástica. São sete da manhã de um ensolarado Domingo, lá fora tudo era calma e sossego, calaram-se os pardais e o melro esse, bem avisado deu às de Vila Diogo, só a berraria que o burgesso insiste em fazer se ouve além do carro que continua com o seu trabalhar sincopado mais o rádio que debita sonoros decibéis das musiquetas palonças da época, lá se foi o sossego de muitos dos que ali vivem por perto.

Esta cena que acabo de descrever é a cena típica do burgesso lusitano, neste caso da sub espécie Burgesso de Almeirim (Burgessum Lezirianus) de seu nome científico, que habita aqui a zona, esta espécie tem como características principais e peculiares o mais completo desprezo pelos outros, a arrogância e a labreguice, o burgesso tem uma agenda só sua, os seus interesses sobrepõem-se a tudo, ele é dono do Mundo, dono das ruas, todos os outros existem na imediata possibilidade que lhe servem para algo, quanto mais não seja para achincalhar, actividade que o burgesso adora, na sua pequenez patética de medíocre intelectual adora achincalhar os outros, todos aquelas que consideram seus inferiores, quanto aos que considera superiores, poucos, tem para com eles a atitude clássica da subserviência do verme sem coluna que é, confirmado lambe-botas o burgesso desvela-se em atenções, em encómios e louvores aos seus superiores, sempre na esperança de ser agraciado.

O burgesso é umbiguista, que interessa toda aquela gentalha, a palavra “EU” domina quase sempre o léxico do burgesso, no fundo é um pobre diabo, sobre quem muitos; por vezes maldosamente, devo acrescentar, contam anedotas que o cobrem de ridículo, soubesse ele que se tem em tão grande conta que é olhado como um lorpa patético, talvez mudasse, mas não o burgesso não muda, aquilo vem nos genes, nem sequer percebe que não é por conduzir um carro de marca conceituada, um topo de gama, que é melhor que ninguém, não percebe que não são os “modelitos” o fato e gravata, o empregozeco de sector terciário, as modas, os gadjets e os ares modernaços que lhe desfazem a “burgeirisse”, infelizmente para ele o facto de ser um burgesso não se atenua com as fatiotas, os modelitos e os cortes de cabelo, aqui o “hábito serve mesmo para fazer o monge” dado que as suas escolhas de indumentária denotam de imediato a espécie a que pertence, sendo fácil identifica-los como burgessos.

E se não servirem esses indícios, a forma como trata os outros, como não respeita os direitos dos outros é sintomático da sua condição de burgesso. Infelizmente, fosse aquele que vi naquela manhã ensolarada de um Domingo quando eram sete da manhã, caso único, seria mau mas não seria catastrófico, o dianho é que esta terreola está cheia de burgessos, um cataclismo de “burgessaria” abateu-se sobre esta terra, o burgesso espécie que prospera a olhos vivos, está por todo o lado, estacionados em cima dos passeios, a circular de bicicleta por cima dos passeios, estacionados nos lugares para deficientes, a berrar e a fazer barulho altas horas da madrugada, a berrar ao telemóvel, eles estão no emprego, na vizinhança, na escola, eles estão infelizmente em todo o lado, pespegados atrás de ti na bicha do supermercado, são a maior das pragas e parece não haver nem cura nem controlo eficaz que contenha este tipo de parasita.

Francisco Pereira

 

 

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