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Os Caga-passeios, esses seres incompreendidos!

22-02-2019 - Francisco Pereira

Não sei se estão familiarizados com um insecto, que muito se via por aqui, nos quentes Verões do antigamente, o pirilampo, também apelidado de vaga-lume ou “caga-lume” epíteto que lhe davam aqui nas redondezas, isto claro antes da agricultura intensiva ter morto tudo com os pesticidas, está até a matar-nos mais directamente, poluindo as águas o ar e a comida, mas isso são contas de outro rosário, comam produtos ditos “biológicos” e façam de conta que estão a comer coisas saudáveis.

Mas voltando ao tema de hoje, o “Caga-passeios” é uma espécie de pirilampo, mas não emite luz pelo rabo, emite outra coisa, uma substância castanha que se cola às solas dos sapatos. Apesar dos constrangimentos ambientais, é uma espécie em franca expansão, um simbionte, produto da relação simbiótica entre duas espécies de mamíferos, um canídeo e um humano, numa estreita colaboração em que um passeia e o outro caga.

Pelas frescas manhãs ou rente à tardinha, o “Caga-passeios” invade as ruas de todas as cidades deste paraíso, infelizmente para o mar, à sua beira pespegado, é vê-los saltitando de roda em roda, qual versão estragada de colibri, dos carros estacionado nas redondezas do covil do “Caga-passeios” ou dos carros estacionados nos parques de estacionamento, local de eleição desse tipo de animal, onde é possível observar as várias sub-espécies do “Caga-passeios” de seu nome científico “Homo Suinus et Rafeirus”.

Entre as várias sub-espécies, destacarei o “Homo Suinus Rapidus”, especializou-se em cagar e ou mijar em andamento, desloca-se rápido de forma quase furtiva, desponta lá ao fundo e num repente dobra já a esquina, depois de consistentemente ter mijado em cinco ou seis jantes de carros estacionados e arreado mais duas cagadelas que ficam quase sempre a enfeitar o local.

Destaco também o “Homo Suinus Desconfiadus” conduz o rafeiro sempre em alerta, olha para todo o lado, sabendo que mais tarde ou mais cedo vai sair uma cagadela, que não vai apanhar, olhando em redor para ver se ninguém o vê enquanto deixa o rafeiro mijar as esquinas, os carros e por vezes as portas, destaca-se pela esmerada educação, cumprimentando toda a gente à esquerda e à direita, tenta ser circunspecto quase invisível.

Outra sub-espécie intressante é o “Homo Suinus Fingidus “, tão ou mais porco que todas as outras espécies, este é adepto do lema “vou mas é cagar longe”, é o rei da simpatia, dá-se ao trabalho de percorrer grandes distâncias, para nunca ser apanhado a cagar e a mijar as ruas, passeios, portas e ou carros no seu bairro, usa essencialmente as ruas dos bairros adjacentes ao seu para efectuar as descargas, nunca ninguém o verá a cagar e ou a mijar a porta ou o carro do vizinho, porque ele é civilizado e conhecedor dos mais avançados conceitos da higiene pública.

O “Homo Suinus Imundus”, surge sempre a horas certas; é de todos o mais porco, ar boçal, complementa as cagadelas que o rafeiro distribui pelos passeios com escarros repuxados é um exemplo excelente da espécie.

São também de admirar as muitas versões femininas do “Homo Suinus” da avozinha badalhoca, passando pela porca da cabeça oca ou a porquita do jet set, é enternecedor ver as suas interacções no seu ambiente natural.

Nas suas múltiplas manifestações o “Caga-passeios” é um animal gregário que gosta de socializar, vê-los aproximarem-se, ver a sua linguagem corporal, o esticar e recolher das trelas, o ritual de cortejamento é extremamente interessante, trocam-se cheiradelas, cumprimentos, beijinhos e apertos de mão, sorrisos fingidos e gargalhadas patetas, trocam-se experiências sobre os melhores locais para cagar e mijar em sossego, informam-se e queixam-se uns aos outros sobre vizinhos malévolos, gente medíocre e mal intencionada, que detesta ter o passeio frente à porta de casa cheio de merda ou os pneus do carro sempre ensopados em mijo de cão ou sobre cretinos insensíveis que escrevem artigos medíocres em jornalecos da Internet, são gente que lhes merece todo o desprezo, gente que odeia os animais, monstros que não sabem apreciar o prazer do merdum colado ao sapato ou da urina fétida a escorrer pela porta de casa.

Os “Caga-passeios” prosperam, olho aqui para os passeios da terreola onde resido e bem se vê o desvelo que põem nessa actividade, então mas não são proibidas essas manifestações de porcalhice? Parece que sim, até pelo bom senso, mas como estamos num país onde bom senso pouco existe, respeito pelos outros menos ainda, um país onde os hábitos de higiene continuam fraquinhos e onde os representantes da autoridade do Estado nem numa prisão de alta segurança conseguem impor a dita autoridade do tal Estado o que dizer das actividades dos “Caga-passeios”, ninguém liga, a começar pelos próprios, que vão continuar alegremente pelos passeios deste tal paraíso a espalhar os seus belos troçulhos, para que qualquer incauto palerma encha a sola do sapato com aquela matéria viscosa e ande o dia inteiro a cheirar a merda de cão, tão bom!

Confidenciaram-nos em exclusivo que o grande Sir David Attenborough prepara um safari a terras lusitanas para documentar o fantástico e maravilhoso mundo do “Caga-passeios”, importa pois ficar atento a esse documentário que será mais um excelente documento sobre a vida selvagem em ambiente urbano.

Francisco Pereira

 

 

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