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Um Mundo às Avessas

15-02-2019 - Maria do Carmo Vieira

A expressão clássica de «mundo às avessas» encaixa à perfeição no controverso e complexo puzzle mundial dos nossos dias. Somam-se os exemplos da escalada de situações paradoxais, no que a uma herança cultural de ideais diz respeito, e cujos mentores primam em uníssono pela sua boçalidade cultural, pela galhofa perante o Saber, atitudes estreitamente aliadas à maldade e à indiferença perante o sofrimento. O alvo incide obviamente sobre os mais fracos, não só aqueles que, devido a circunstâncias várias, perderam toda a protecção e, como é natural, a procuram, em situação de desespero, forçando as portas que continuam a ser-lhes ignominiosamente fechadas, mas também os que se vêem forçados a assistir, não calando contudo as suas críticas e denúncias, à imposição da ignorância e da estupidez ostensivamente expostas por poderes populistas, logo, não democráticos.

Tendo a falta de vergonha atingido o seu clímax, e a indignação, que subentende uma reacção vigorosa a qualquer situação que humana ou cientificamente nos choque, perdido algum fôlego, só podemos desejar, não esquecendo a importância da nossa intervenção, que o novo rosto de Janus (1) , olhando para 2019, anuncie decisões que permitam reabrir as portas a quem necessite de entrar, seja pela salvação e pela dignidade das suas vidas, seja pela salvação do Mundo, nomeadamente no que diz respeito ao Ambiente, à Natureza, em suma, à nossa «casa» comum.

Na falsa bondade dos discursos hilariantes que vomitam, em diferentes geografias, surgem-nos nomes como Trump ou Bolsonaro ou Maduro ou Orbán, ou Conte ou Obiang Nguema ou Netanyahu ou… ou… ou…, todos marcadamente violentos e ávidos de «limpeza», apoiados vigorosamente por quem já treinou, ao longo de anos, a mentira e a sedução de presas fáceis, continuamente alienadas porque incapazes de pensar por si próprias. Compreender-se-á assim o habitual desprezo que aqueles votam ao Saber e à Cultura, enquanto matérias-primas focadas no desenvolvimento do pensamento e do espírito crítico e na educação da sensibilidade.

É trágico ouvir a leviandade do possível regresso da teoria geocêntrica, às escolas brasileiras, ou o tom trocista de Trump ao afirmar «ter um instinto natural para a ciência» para desmentir as críticas dos cientistas no que diz respeito às atrocidades ambientais e o seu efeito no aquecimento global, no que é convictamente acompanhado por Bolsonaro, ou ainda ouvir ambos defenderem, juntamente com comparsas ideologicamente afins, mas em espaços físicos diversos, nomeadamente na Europa comunitária, a construção de muros que impeçam a entrada de migrantes ou a recusa em abrir os portos a «essa carga humana» como foram designados pelo ministro do Interior italiano, Salvini.

Contagiados pelos exemplos que se têm vindo a somar, vão surgindo a cada tempo de eleições novos candidatos, boçais e xenófobos, e Portugal não é excepção. O mal é não acreditarmos no perigo que representam. O mal é a nossa indulgência. Quando acordarmos, poderá ser já tarde. Na verdade, parece que continuamos a esquecer os ensinamentos da História, matéria, aliás, tão negligenciada hoje em dia na Escola, e que Cícero (106 a.C. – 43 a.C.), filósofo latino, afirmou, na sua sabedoria, «ser a mestra da vida».

(1) Deus romano, caracterizado por ter duas faces, passado e futuro (saída e entrada), e que originou o nome do mês de Janeiro, facto que obriga a maiúscula dado tratar-se de um substantivo próprio, uma evidência que o famigerado AO 90, no seu processo atabalhoado e dominado por lobbies, ignorou.

Maria do Carmo Vieira

 

 

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