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DEMOCRACIA – UMA ILUSÃO

11-01-2019 - José Janeiro

Após dois milénios e meio da criação do sonho de Clistenes que a implantou na cidade-estado Ateniense, procurando a entrega do poder ao povo do poder, aonde se selecionavam aleatoriamente os cidadãos comuns para o preenchimento dos cargos disponíveis no governo, aquilo a que podemos chamar “democracia directa” na sua plenitude, os herdeiros do sonho daquele visionário encarregaram-se de subverter a democracia e transforma-la em partidocracia.

E desde que os direitos civis foram sendo cada vez mais absorvidos pela sociedade e levaram as pessoas ás decisões pelo voto, o sistema inverteu-se e deu lugar aos donos da democracia, encapotados em processos pouco claros e numa espiral crescente de impunidade, legitimada pelo voto. E chegamos ao século XXI com a ilusão da democracia.

O domínio partidário é levado ao extremo com percursos pouco claros dos envolvidos formados nas escolas “universitárias” dos partidos que garantem a continuação do status quo e do controle do sistema, mantendo o esquema “democrático” fechado e aferrolhado na estrutura criada. Esta é a democracia que temos.

A ilusão de decisão pelo voto é isso mesmo, uma mera ilusão pobre e pouco consistente, o que leva as pessoas ao afastamento do espaço político, por entenderem que através das urnas não conseguem mudar o sistema. É o descrédito da democracia, conseguiram num espaço de meio século estragar aquilo que deveria ser uma solução governamental para o bem estar comum, transformando o sistema num bagulho de energúmenos que se dedicam a conseguir apenas o seu enriquecimento lobistico.

Os escândalos permanentes dos decisores políticos, a sua impunidade e a falta de acção da população, leva paulatinamente ao sentimento de endeusamento e à ilusão de superioridade dos players políticos.

Os escândalos consecutivos que o espectro político produz de forma continuada, a falta de respeito que demonstram pelos que representam, as habilidades e acima de tudo as justificações absurdas têm demonstrado ás pessoas o quanto os eleitos são, numa palavra, umas bestas ignorantes e sem escrúpulos. Em resposta ouvimos os dirigentes a gladiar-se entre si sobre qual grupo de bestas é pior que o outro, recebendo na sentença final de que o eleitorado se encarregará de penalizar os que cometem tais actos. O absurdo desta afirmação é do mais irracional e insultuoso para com a inteligência das pessoas, quando sabemos que as escolhas para as listas não têm nenhuma interferência que permita a penalização nas mesas de voto, é assim uma canalhice.

A ilusão da democracia tem uma sequencia bem conhecida: Os partidos são soberanos, apresentam-se a eleições, depois de escolherem quem querem e produzirem listas que genericamente ninguém conhece na sua totalidade, muitas vezes apenas o cabeça de lista, que para garantir a eleição é colocado estrategicamente em distritos aonde nem ligação têm, servindo para pagar favores, a carneirada vota nos partidos e não nas listas e temos a ilusão completa com a rotatividade das personagens. Assim, a pergunta tem que se colocar: penalizar quem? O sistema está assim viciado e aferrolhado no seu controlo, não permitindo que fuja das mãos dos donos da democracia.

E o pânico instalou-se quando movimentos a que chamaram inorgânicos e quando os que “põem o dedo na ferida” são rotulados de populistas, tentando denegrir estes impulsos que se baseiam na lógica e na revolta pelas canalhices que vão sendo conhecidas. Confunde-se a revolta dos povos com populismo, confunde-se canalhice com suposta lógica política e mistura-se tudo isto e embrulha-se no rotulo de fascismo e temos a tentativa de controlo mental das pessoas acenando com o medo irracional, de memorias ainda frescas.

Sabemos que os extremos da democracia se tocam na barbárie, seja a extrema direita conotada com grupos nazis, seja a extrema esquerda conotada com as desgraças de Staline, Pol Pot, Mao Tse Tung ou mais recentemente com Maduro/Hugo Chavez, ou ainda no absurdo dos Kim's da Coreia do Norte, sim nenhum é diferente dos outros. A democracia tem que conviver com todas as ideias sejam quais forem, mas os democratas que se acham os donos da verdade não pensam assim e tentam limitar o direito supremo da liberdade de expressão que tão bem foi definido por Voltaire, quando afirmou: «Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de o dizeres», esta é e deve ser, a suprema ideia de democracia, sem ferrolhos, sem limites de ideias por mais escabrosas que pensamos que sejam.

… e depois ganem quando aparecem aqueles que chamam extermistas, ou populistas que se confunde com a lógica das atitudes e das ilusões. Os que hoje pensam ser democratas tentam limitar as ideias que possam sair fora do sistema que eles podem controlar, reforçam assim a ilusão que transformaram a democracia numa coisa só deles.

Aquilo a que temos assistido nas canalhices dos nossos eleitos e pseudo democratas, levamos à revolta incontrolável, mais o ridículo de tentativa de justificação do injustificável com que somos brindados por aqueles que as cometem. Invariavelmente a consciência está tranquila, invariavelmente tem que se apurar o que se passou, invariavelmente a culpa fica solteira e invariavelmente tudo fica perdido nas teias da impunidade e do endeusamento de quem comete as canalhices e a roda gira, e tudo volta ao mesmo com elevados padrões de abstenção que deveriam ser suficientes para anular as eleições que assim são conseguidas. Enquanto a abstenção não fizer parte activa dos cálculos do método de Hondt, por ela própria representar a revolta dos eleitores, nada mudará no sistema, sim, a abstenção deveria representar lugares vazios no parlamento, porque são isso mesmo lugares vazios.

Defendo que as listas para deputados sejam escolhidas entre a população com capacidade de voto de forma aleatória para que as oportunidades de rejuvenescimento e de ideias noivas permitam por um ponto final ao circulo vicioso em que este sistema se transformou.

Temos a obrigação de exigir mudanças e temos a obrigação de nos revoltarmos. Acabemos com a democracia ilusoria.

Até para a semana.

José Janeiro

 

 

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