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AGORA BRASIL

04-01-2019 - Jorge Duarte

A cada passagem para o novo ano celebra-se um novo futuro que se deseja mais auspicioso, mais justo, mais libertador. Celebração da expiação ou redenção, como nas sociedades mitológicas e ritualistas do passado, enquanto crença no mito do eterno retorno.

Mas, raramente um ano termina com a retribuição correspondente aos votos que tão cândida e sinceramente nele depositámos, no início, com as doze passas. Pode, por vezes, ter sido generoso pontualmente, mas poucas no mais amplo sentido que o desejámos.

Em 2018, não foi diferente. O mundo está zangado. Muitas catástrofes, tragédias, convulsões sociais, mudanças políticas espectaculares. O foco, então, para uma só, o Brasil. Depois de mais de uma centena de escândalos de corrupção, só na última década (Dominó, Sanguessugas, Dossiê, Banestado, Propinas, Petrolão, Mensalão…), a tragicomédia do maior de todos, o Lava-Jato, que culminou com a “orfandade” do Brasil, na prisão do seu “salvador” dos pobres, Lula da Silva.

É eleito Jair Messias Bolsonaro. O Ártico gelado, escorregou abrupto, para o país tropical. Ao recente efeito climático Trump, juntou-se Bolsonaro, para contrariar o aumento da temperatura do continente e iniciar uma época de glaciação, imprevista e súbita.

Não é possível…, não é possível…, gritou-se pelos quatro cantos do espectro “civilizado e democrático” Português. Pela primeira vez, em muitos anos, pareceu que Portugal estava vivo, mas por causa alheia. Toda a casta de comentadores, de jornalistas, de maiorias, de minorias, de políticos... Todo o mainstream em uníssono, tentando dominar o mercado de opiniões, como garantia de autoridade moral e de estar certo perante um erro próprio do demo, na decisão legítima dos brasileiros e do seu destino.

A mesma imprensa e exército de comentadores que julgaram um canditato antes ainda de vencer ou algo fazer e não julgaram nem julgam os que por cá prometeram e fizeram o oposto, juraram cumprir a constituição e a violaram constantemente.

As regras foram democráticas, mas Bolsonaro não podia ganhar. A esquerda portuguesa (porque não há direita), não aceita tal acto “incestuoso” do país irmão. Por cá, podemos fechar os olhos à nossa endémica corrupção e pilhagem, ao deboche da classe política, à perversão dos valores da sociedade e do Estado. Ao pântano. Mas isto é nada, perante um país soberano que o faz a dobrar e ante uma eleição que não nos diz respeito, um povo revoltado, ao qual não temos direito nem moral para impor o que seja, muito menos a acintosa e inadmissível campanha de ingerência e intolerância a que se assistiu. É melhor não chorarmos como crianças o que não temos coragem de fazer como adultos. Nem espernear pelo estatuto de vítima se o mesmo (provável) destino nos bater à porta. Nem apregoar democracia e liberdade quando são os malfeitores e criminosos que maior benefício retiram dela, e os aparentes libertos só o são nessa aparência, pois a insegurança e o medo é a sua maior prisão íntima e invisível.

Portugal foi dos últimos a felicitar o vencedor; a União Europeia só o fez passada uma semana. Mas Marcelo esteve presente na primeira fila na tomada de posse, no dia 1 de Janeiro. À chegada a Brasília e em resposta a um jornalista que o questionava sobre a eleição de um “polémico populista”, apenas disse que «Eu não tenho de achar nada; compete aos brasileiros que o elegeram». Foi tarde e a más horas, mas disse bem. Cá, não.

E ninguém fez a pergunta fundamental: - porque decidiram os brasileiros (55,1%) eleger o “obscurantista” Bolsonaro e rejeitar o “resplandecente” Haddad e o PT? E ninguém fez a pergunta porque a nomenklatura só compreende a forma binária dos bons e maus, estando os bons do lado dos que detêm a luminosa via universal para a qual é bem-guiada a humanidade, em direcção ao saber e à mais alta realização (não obstante os exemplos), e os restantes, os maus, que pertencem ao reino obscurantista das trevas.

Porém, uma nação disse –Basta! – a 16 anos de descaminho, de insegurança, de pobreza, de criminalidade, de endividamento, de desemprego, de corrupção, de vício, de ruína moral. Expressões máximas de obscurantismo e trevas. Qual, então, a justificação da ameaça de obscurantismo do novo governo? Diz um dito brasileiro que “só leva pedrada a árvore que dá fruto”.

Não restaram, pois, dúvidas de que para não votar em Bolsonaro havia argumentos mas para Haddad, factos; e contra os factos falharam os argumentos. O preterido Fernando Haddad não representava aquilo que a expressiva maioria dos brasileiros quis, apesar de - por causa de ou cansados de -, o mesmo se declarar marxista e adepto da célebre Escola de Frankfurt de onde saíram todas as técnicas e instrumentos intelectuais e ideológicos de manipulação e aplicação do marxismo cultural que hoje se dissemina em toda a América Latina e no mundo ocidental, refinado a partir do proto ideário e guru, Antonio Gramsci. De resto, a base de inspiração e operacionalização de toda a máquina do PT, de Lula da Silva, que deixou falido o Sistema Nacional de Saúde, o Sistema de Educação, a destruição da família, o lamaçal de corrupção, criminalidade e treze milhões de desempregados. Foi a tudo isto que os brasileiros disseram “basta!”

A gigantesca máquina de conglomerados, qual rede de sistema nervoso, está presente até no mais insondável recôndito do organismo brasileiro, e os fotões que para lá transportam a “claridade”, irradiam dessa estrela denominada Foro de São Paulo, Suporte do grupo Globo, satélites da Comunicação social, Universidades, Escolas, Rádios, empresas estatais, até à congregação/ orientação de todas as esquerdas da América Latina. Organização fundada em 1990, pelos principais impulsionadores Fidel Castro e Lula da Silva (em São Paulo), vem realizando, desde então, congressos anuais em diversas capitais, tendo o último (XXIV), como palco, a cidade de Havana (Cuba), em Julho passado. Por aqui desfilaram as estrelas: Nicolás Maduro (Venezuela), Ivo Morales (Bolívia), Dilma Rousseff (Presidenta eleita do Brasil), Gleisi Hoffman (Presidenta do PT) e mais de cem partidos da esquerda da América Latina.

Mas à estrondosa viragem no Brasil, um nome lhe está indissociavelmente ligado: Olavo de Carvalho. Trata-se de um dos maiores (porém, proscrito até Outubro passado) vultos culturais do Brasil, a residir no estado norte-americano da Virgínia, desde 2005. Filósofo, escritor e ex-jornalista que desde os anos 1990 tem vindo a denunciar e quebrar a hegemonia do pensamento único, de esquerda, no Brasil, através dos seus escritos e seminários de filosofia, com mais de um milhão de seguidores no Brasil e em todo o mundo.

Retorno ao Ano Novo para lembrar o pedido do presidente Marcelo, em Brasília, na sua mensagem aos portugueses: “políticos e políticas mais confiáveis…”.

Ué, os ares du Brasiu estão mexendo c’o professô...

Jorge Duarte

 

 

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