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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

FORÇAS ARMADAS PARA QUÊ?
870 anos… 200 anos… 100 anos… 70 anos… E agora? Acabe-se com o que resta!

13-06-2014 - Eduardo Costa

A 5 de Outubro de 1143 nascia politicamente Portugal com o Tratado de Zamora, obra de portugueses em armas (e outros), superiormente comandados por D. Afonso Henriques, fazendo jus ao lema “o forte chefe faz fortes, as fracas gentes” e que comprova que Portugal é obra de militares desde a sua fundação. Mas vou iniciar este artigo saltando até à época da Revolução Francesa.

Em 1789 dá-se um dos acontecimentos mais marcantes de sempre na vida politica e social da Europa: a dita Revolução Francesa. Desse acontecimento, emergiria repentinamente do anonimato ao estrelato, o corso Napoleão que aterrorizaria o Velho Continente durante quase 2 décadas… mas depois dele, nunca mais nada foi como dantes!

Por cá e “à portuguesa”, o que se passava na Europa era vivido à distância, como se isso nos fosse imune  e como o dinheiro era pouco para esbanjamento das elites, desculpavam-se estas que não tínhamos inimigos, que a guerra era com os outros, que a despesa militar era muita, a tanga do costume, enfim: quando em toda a Europa se fazia a primeira corrida aos armamentos da era pré-moderna, Portugal a contracorrente e em contraciclo, desmobiliza boa parte do Exército ficando ainda mais vulnerável do que já era.

Sem surpresas, somos apanhados de calças na mão, pela avalanche napoleónica e o solo português é invadido várias vezes: da primeira, conduzida por espanhóis, safámo-nos mais ou menos, mas à custa de muitas humilhações. Das seguintes, mas agora com franceses também… mas à custa de imensossacrifícios indescritíveis que nem a Historia confessa, tendo-se escrito em Portugal, o mais dramático de todos os capítulos dessa nossa História escondida.

As últimas linhas deste capítulo napoleónico, foram escritas há 200 anos, quando o exército anglo-luso combateu na Batalha de Toulouse em 10 de Abril de 1814 – depois desta, os portugueses regressaram às enxadas e arados, numa tentativa vã de relançar uma economia cuja imagem de marca era a insuficiência e a miséria – só até ao conflito seguinte, o País provaria por 6 vezes o sabor amargo da bancarrota (em 1834, 1837, 1840, 1846, 1852 e 1892).

As elites, essas, há 200 anos estavam ainda a banhos no Brasil, para onde se tinham “mudado” quando as coisas aqueceram, numa transumância que só conheceria o movimento de retorno depois de a poeira ter definitivamente assentado…

Há 100 anos, em 1914, por um facto menor (um incidente isolado para o qual nunca se encontraram provas que o ligassem a algum Estado) tinha início o primeiro grande conflito da era moderna: a 1ª Grande Guerra. Um conflito iniciado com base num conjunto de pressupostos enunciados pelos políticos, todos eles profundamente errados – ele era “a guerra para acabar com todas as guerras”; ele era a guerra que “ia ser rápida e todos viriam passar o Natal a casa”; ele era a guerra que, caso eclodisse, “seria limitada a 2 ou 3 países e nada mais…” Um conflito que vinha sendo adivinhado (para não dizer ansiosamente aguardado) mas que ninguém esperava tão imediato (a uma semana dos primeiros tiros, a maioria dos chefes de Estado e de Governo estavam em férias, afastados das capitais e dos centros de decisão).

Por cá e “à portuguesa”, o que se passava na Europa era vivido à distância, como se isso nos fosse imune  e como o dinheiro era pouco (a última bancarrota fora em 1892, recorde-se), as discussões filosóficas andavam em torno da defesa de África ou da intervenção na Europa.

Uma República implantada por equívoco epor telégrafo pretendia impor-se (interna e externamente) e necessitava desesperadamente de ganhar credibilidade em ambos os planos. Então, como em situações anteriores, a política externa era comandada a partir de Londres (como agora de Berlim), que em nome de um tratado de interesse duvidoso para a nossa bandeira, usava e abusava da portuguesíssima eterna complacência política para com os ditames estrangeiros.

Acabaríamos envolvidos, quiçá não porque alguém (ou mesmo a nação portuguesa) o quisesse, mas porque os ingleses nos pediram algo que talvez esperassem que nós recusássemos – o arresto dos navios alemães em águas e portos portugueses.

Com a entrada na Grande Guerra, Portugal mandaria morrer milhares dos seus melhores braços de trabalho, que abandonou à sua desdita e à esmola do exército inglês, mas sentar-se-ia à mesa dos vencedores e acabaria com as pretensões inglesas sobre as nossas possessões africanas. Foram mais de 50.000 portugueses, recrutados à pressa, fardados, armados, equipados e treinados (mal, muito mal treinados), que num tempo recorde a Nação “despachou” para a Flandres – o famoso milagre de Tancos (o único milagre foi não terem por lá ficado muitos mais do que os 7.760 mortos num total de cerca de 30.000 baixas diversas, mas isso é outra conversa). A vergonha da irresponsabilidade política desse milagre (semelhante à situação actual) foi tal, que o Presidente da Republica na 3ªfeira passada, no seu discurso do Dia de Portugal, se sentiu mal e desmaiou quando falava dessa mesma vergonha. Hoje, como há 100 anos, afirmou Cavaco Silva no Dia de Portugal quando desmaiou: “ Houve incúria na preparação, alheamento na execução e esquecimento no regresso. As decisões tomadas nos corredores de Lisboa não se revelaram ajustadas, ignoraram os avisados pareceres militares, interferindo abusivamente na acção de comando. Pode dizer-se que os militares que foram para a Flandres e para África nada tinham senão a sua coragem”.

Agora, 100 anos depois do primeiro e cerca de 70 depois do segundo conflito mundial, a Europa vive o mais extenso período de paz em toda a História, com excepção do desmembramento da Jugoslávia.

Isto devia fazer-nos pensar…

Agora, 100 anos depois, estamos ainda a sarar as feridas abertas por uma revolução republicana e depois de cravos e as elites continuam na manjedoura, divididas quanto a uma visão para o futuro do país!

Isto devia fazer-nos parar…

Agora, 100 anos depois, o país continua na irrelevância militar e na indigência económica, malgrado os milhões que caíram da Europa (nos bolsos de alguns).

Isto, devia fazer-nos mudar...

Agora, 100 anos depois, um facto menor (uma disputa interna numa pequena península do tamanho do Alentejo), algures na longínqua Ucrânia, faz sair esqueletos de muitos armários e por baixo das programações televisivas fervilham ameaças de um novo conflito.

Isto, talvez nos devesse assustar…

Talvez não seja nada. Talvez seja só fumaça... como não foi das outras vezes…

Esperemos que sim, que seja apenas isso. Porque se não for, se voltar a dar para o torto, por cá e “à portuguesa”, o que se passa na Europa é vivido à distância, como se isso nos fosse imune e como o dinheiro é pouco, já estou mesmo a ver muito boa gente a coçar a cabeça e a perguntar:

E agora?!

Para já, agora as Forças Armadas fazem milagres, aquém e além fronteiras, com cerca de 1% do PIB (Sabiam?), com o “seu” ministro da defesa a humilhá-las, dizendo que são muito dispendiosas, mas dando o seu exemplo:

- Parte desse orçamento militar, vai inteirinho para o edifício do Ministério da Defesa que é o único no mundo que possui, apenas para os seus boys, um orçamento superior a um dos 3 Ramos das Forças Armadas (Força Aérea).

Sabiam? Claro que nem convém… Como também não convém dar a conhecer internamente, as virtualidades das Forças Armadas Portugueses que apenas são reconhecidas e veneradas além-fronteiras, na ONU, NATO e UEO, desde os Balcãs até Timor, passando por África, Líbano, Iraque e Afeganistão. VERGONHOSO

 

 

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