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V - AS MÁFIAS
SACRA CORONA UNITA

07-09-2018 - Pedro Pereira

«Mantém por perto os teus amigos, mais próximos ainda, os teus inimigos»

Lema da Sacra Corona Unita

A Sacra Corona Unita é uma das quatro mais importantes organizações mafiosas italianas, esta, da região de Puglia, no sul de Itália, em Brindisi, Lecce e Taranto e especialmente ativa na capital, Bari, gerando actualmente com as suas actividades mais de 4.000 milhões de euros por ano.

A Sacra Corona Unita tem firmado amplas alianças com outras organizações criminosas internacionais, nomeadamente as “máfias” russas e albanesas, os cartéis de drogas colombianos, as tríades chinesas, e a Yakuza japonesa.

É relativamente recente, tendo nascido próximo de Trani, na noite de Ano Novo de 1981. Foi fundada por Giuseppe Rogoli e possui mais de 50 clãs com cerca de 2.500 membros.

Possui ligações à ‘Ndrangheta, à Cosa Nostra e à Camorra. As suas actividades são essencialmente no âmbito do tráfico de drogas, prostituição, extorsão, corrupção política e lavagem de dinheiro.

No ano do seu nascimento, Rafaelle Cutolo, chefe da Nova Máfia Organizada, decidiu expandir-se para fora do seu território e fundou a Nova Camorra Pullesa, que se inseriu, sobretudo, na província de Foggia, na região de Puglia (ganhando assim acesso às cidades portuárias do Adriático) mas também na Croácia, Sérvia, Albânia, Rússia e outros países.

A chegada da Camorra não caiu bem aos malviventes locais, que intentaram criar outra organização para enfrentar R. Cutolo.

Giuseppe Rogoli, já então membro da ‘Ndrangheta, pediu autorização ao subchefe Umberto Belloco para criar a ‘Ndrangheta em Puglia, que em seguida se passou a denominar Sacra Corona Unita.

No que reporta à droga, esta normalmente chega à Europa através de portos em Portugal, Espanha, Bélgica, Holanda, Alemanha e Áustria e é enviada para Itália a fim de ser entregue aos clãs da ‘Ndrangheta que, por sua vez, a adquirem com o apoio financeiro de membros da Cosa Nostra, e da organização que abordamos, sendo que o papel da ‘Ndrangheta é fundamental, uma vez que mantém relações «muito sólidas» com os narcotraficantes sul-americanos.      

Aqueles que aspiram a entrar na fraternidade são motivados por um desejo de mobilidade social e económica e, muitas vezes, pela necessidade da procura da comunhão com uma famiglia unida com origens semelhantes.

Antes da concessão do poder, o membro admitido deve passar por um período probatório de 40 dias, para demonstrar que possui os pré-requisitos necessários para uma carreira criminosa e não tem nenhuma ligação com a polícia. Em caso de conclusão bem-sucedida, o candidato é formalmente empossado na organização como um manovalanza, um trabalhador.

A Sacra Corona Unita é composta por três níveis hierárquicos diferentes. Os seus membros ascendem de um ao outro nível através de riti battesimali (ritual de baptismo). O simbolismo religioso é provável que seja uma reminiscência do seu passado junto à Camorra.

No segundo nível, a Società Maggiore compõe-se de dois subníveis ou categorías. Lo Sagarro, que só se concede aos membros que mataram pelo menos três pessoas pela organização. O indivíduo pode doravante formar a sua própria equipa de picciotti, conhecida por filiale. Após a instrução, é dada ao membro uma arma de fogo, uma pílula de cianeto (para ser utilizado em caso de dificuldade, de modo a não trair a sociedade. A morte é preferível à colaboração com as autoridades), algodão (que representa o Monte Bianco, nos Alpes ocidentais, com 4.708 metros de altura, considerado sagrado), um limão (simbolicamente para tratar as feridas dos camaradas), uma agulha para picar o dedo indicador da mão direita, lenços de seda branca (que representam a pureza de espírito) e uma spartenza (oferta que geralmente são cigarros).

O último e mais alto nível da hierarquia é a Segreta Società, o núcleo de poder da organização a partir de onde são tomadas decisões transcendentes, que os restantes membros devem seguir.

Os que alcançam o topo da organização fazem um juramento de lealdade, o de nunca trair o padrinho ou outros homens de honra da seguinte forma: «Prefiro arrancar o meu coração e entregá-lo ao meu padrinho, cortá-lo e distribuí-lo pelo Conselho Geral do que trair a minha irmandade sagrada. Juro, além disso, solenemente, nos bons e maus momentos, na calma e na tempestade, que o meu padrinho é inviolável, meu irmão de sangue, e nem mesmo um dilúvio universal pode colocar um fim a esta união, selada com o nosso sangue».

Os Sagarro reconhecem-se entre si por uma rosa tatuada no pé direito ou pela posição de uma carta de baralho napolitano numa posição pré-definida.

A Origem Etimológica

O nome desta organização, fortemente ligada à religiosidade popular, é composto por três palavras:

  • Sacra (sagrada), porque quando se filia um novo membro na organização, este é «baptizado» ou «consagrado» como num sacramento religioso;
  • Corona (coroa), devido ao facto de nas procissões religiosas se utilizar o rosário (ou coroa);
  • Unita (unida), tal como são unidos e fortes os elos de uma cadeia de união.

O Juramento

Os membros desta organização, tal como sucede em outras organizações do crime italianas, fazem um juramento de lealdade e fidelidade, inspirado na religião e na pertença a uma família ou um clã, que é o seguinte:

«Giuro su questa punta di pugnale bagnata di sangue, di essere fedele sempre a questo corpo di società di uomini liberi, attivi e affermativi appartenenti alla Sacra Corona Unita e di rappresentarne ovunque il fondatore».

Os Arrependidos

Nos últimos anos, surgiram os primeiros «arrependidos», cujo testemunho perante a justiça permitiu a detenção e condenação de alguns membros da Sacra Corona Unida, nomeadamente de Francesco Campana, que havia sacado os rendimentos das organizações das mãos de Capos históricos.

Campana acabou na prisão em 23 de Abril de 2011, sendo que quatro meses antes haviam sido detidos 18 membros, entre chefes e organizadores.

(continua no próximo número)

Pedro Pereira

 

 

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