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III – AS MÁFIAS
A CAMORRA NAPOLITANA

24-08-2018 - Pedro Pereira

«A Máfia é uma empresa que utiliza o crime. Não é o crime que utiliza as empresas».

Considerandos

O entendimento entre políticos e mafiosos é uma velha estória em Itália, abrangendo inúmeros empresários e políticos de todos os “patamares da cadeia alimentar” política, nas regiões com maior penetração mafiosa como a Sicília, Calábria, Apúlia e Nápoles, mas também em outras regiões de outros países onde esta organização está implantada, incluindo Portugal.

A Camorra e os políticos firmam e mantém alianças tão sólidas quanto uma genuína instituição, de tal ordem que no ano que corre (2018) este tipo de «casamentos» continua firme como uma rocha nos vários territórios dos vários países onde actuam.

Podem ser contratos com empresas do Estado em caso desses políticos ganharem as eleições a que se candidatam; licitações para a construção de pontes, estradas, auto-estradas e muitas negociatas mais…

A Camorra costuma financiar campanhas eleitorais, viagens, etc. – Como exemplo, a auto-estrada que vai de Nápoles a Calábria está há mais de 20 anos em construção. Dura essa «saga» há já esse tempo por via de acordos político-mafiosos.

O Que é a Camorra?

Em Itália existem quatro organizações mafiosas famosas, a tradicional Cosa Nostra, de Sicília; a ‘Ndrangheta, da Calábria, detentora de boa parte do tráfico de cocaína da Europa; a Camorra, de Nápoles, que controla o tráfico ilegal de produtos de marcas famosas falsificadas, o tráfico de vários tipos de drogas, o jogo clandestino, monopólio da produção de cimento na Campânia (região sul da Itália), fraude na importação de carne, contrabando de cigarros e a extorsão, e a Sacra Corona Unida de Apúlia, da região da Campânia, a menos importante e territorialmente menos disseminada de entre elas.

Origens Históricas

Etimologicamente o termo Camorra é bastante incerto e presta-se a diversas interpretações, porém, é aceite de que provem do espanhol gamurri (quadrilha), que era o nome por que eram denominados os grupos de malfeitores que abundavam nas montanhas de Espanha por volta do século XIII, emigrando muitos deles para a península itálica nessa altura.

Por outro lado, Gamurra foi também uma organização de mercenários pagos por Pisa, no século XIII, para salvaguardarem a ordem na Sardenha.

Datado de 1735 existe um documento oficial do Reino de Nápoles, onde surge grafado gamurra ou camurra como o nome que se dava à taxa que todos os detentores de locais de jogo de azar tinham de pagar.

O termo Camorra serve, por vezes, para denominar um certo tipo de mentalidade que faz da prepotência e da omertà difusa, um dos seus principais apoios de força.

Uma das condições para a pertença a um clã camorrista é o de ter um modo de vida e uma mentalidade afim.

Os seus membros, chamados camorristi, estão dedicados a actividades de contrabando, chantagem, suborno, roubo, agiotagem, extorsão, assassinato, tráfico de drogas e por aí fora. A sua “especialidade” em fazerem “apagar” os que assassinam, consiste na dissolução dos corpos em ácido sulfúrico, ao contrario, por exemplo dos assassinados pela ‘Ndrangheta, em que na maior parte dos casos usam o método do envio para o fundo do mar dos seus assassinados com pesos agarrados aos pés.

Nos Estados Unidos da América, a extensão da Camorra napolitana protagonizou-se em Al Capone. No entanto – sabe-se hoje – que a única relação que este tinha com a Máfia, era a sua condição de italo-estaduniense, sendo ainda que a Camorra não opera como uma organização piramidal e respeita as hierarquias dentro das famílias entre si.

Somando nas suas actividades (estima-se por alto) mais mortos desde 1980 do que a ETA, o IRA e as Brigadas Vermelhas juntas (3.600 pessoas) os negócios da Camorra estão banhados pelo sangue.

As actividades desta organização, tal como a ‘Ndrangueta, são actualmente muito mais perigosas e poderosas que a Cosa Nosta, quer pelo volume de negócios, quer pela sua transversalidade na política (desde ministros, deputados, presidentes de câmara, vereadores…).

Cerca de 80% dos seus negócios são ilegais e os outros 20% aparentam legalidade, como casinos, restaurantes e outros, com uma facturação anual na ordem dos 100.000 milhões de euros.

A título de curiosidade anote-se que, de acordo com as autoridades policiais, o negócio mundial do narcotráfico movimenta 322.000 milhões de dólares por ano.

Nascida e criada em Nápoles, num meio urbano, nos alvores do século XIX, quando esta cidade pertencia ao Reino das Duas Sicílias, dos Bourbons, a Camorra é uma organização criminosa sobre a qual e face à sua complexidade, tem sido feitos filmes e escrito vários livros.

Conta actualmente com cerca de 110 famílias em operações e mais de 7.000 colaboradores e associados. Controla os seus territórios e possui uma rede de informadores junto das classes sociais mais pobres.

A Camorra mantém uma relação estreita com a “máfia” chinesa e com as “máfias” africanas, em especial a nigeriana. As relações com as “máfias” russas não são as melhores. Todas as “máfias”, com excepção da chinesa e da japonesa, aprenderam com os modelos italianos.

Pedro Pereira

(continua no próximo número)

 

 

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