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Tratado da Cavalgadura Lusitana

17-08-2018 - Francisco Pereira

A Cavalgadura Lusitana, de seu nome científico “Iumentum Lusitanensis” é um animal que bem longe de estar extinto, conhece em terras Lusas um franco progresso demográfico, existe esta Cavalgadura em vários tipos, cores e feitios, sendo que também são vários os graus de Cavalgadurice, é nesta altura de estio, de férias balneares e de festanças, que a Cavalgadura Lusitana mais próspera em Portugal, sendo que a juntar às cavalgaduras residentes vêm as que se encontram emigradas, pobres cavalgaduras que durante onze meses reprimem a sua cavalgadurice para em Agosto puderem regressar ao seu torrão natal dando largas aquilo que são, umas valentes Cavalgaduras.

Comecemos então, pela condução de veículos. Cavalgadura Lusitana, conduz a sua carripana sempre a toda a velocidade, ultrapassa pela esquerda ou pela direita, nem tempestades nem névoas a fazem abrandar a marcha, a Cavalgadura Lusitana não se detém por nada, insulta quem anda mais devagar, buzina, acende as luzes, solta impropérios e acelera, de quando em vez a Cavalgadura Lusitana, marra de encontro a uma árvore, morre, outras vezes, infelizmente, ceifa a vida de inocentes na sua louca corrida, nada que uma procissão mais umas missas e velinhas à santa não cuidem, prometa-se pois, sempre é mais fácil do quer ter hábitos civilizados.

A Cavalgadura Lusitana estaciona em cima dos passeios, à frente de garagens, estaciona em lugares para deficientes não importa onde, a Cavalgadura Lusitana estaciona em todo e qualquer sítio que lhe dê jeito, os outros que se danem, a Cavalgadura Lusitana tem uma máxima, pela qual rege toda a sua vida, “Primeiro Eu, depois Eu outra vez”.

A Cavalgadura Lusitana, abre a janela da carripana para deitar lixo para a estrada, cuspir escarros verdes e soltar ranhocas, quando apeada a Cavalgadura exibe o mesmo comportamento porcino, quando dá o aperto na bexiga, a Cavalgadura micta e defeca onde calha, mesmo quando existe um urinol próximo, ombreiras das casas, entradas de prédios, caixas de electricidade, caixas Multibanco, árvores, atrás dos contentores do lixo e dos ecopontos, enfim qualquer sítio serve, para alívio da Cavalgadura, nas praias a Cavalgadura Lusitana excede-se, ele é futeboladas, raquetadas, música aos berros e lixeirada em barda, num dos mais puros exercícios de cavalgadurice que podemos observar.

A Cavalgadura Lusitana, fala aos berros, entra num comboio, num autocarro ou numa repartição pública e toda a gente sabe que ela entrou tal é o berreiro que faz, se por infeliz acaso recebe uma chamada no telemóvel, aí sim a Cavalgadura faz ouvir alto e bom som a sua edificante voz de Cavalgadura, incomodando toda a gente. A Cavalgadura Lusitana não sabe ler, finge que sabe, na realidade apesar de ter frequentado a escola a Cavalgadura Lusitana não sabe interpretar o que lê, o preenchimento do mais simples dos formulários é o cabo dos trabalhos, a Cavalgadura Lusitana nunca lê as informações que estão nos locais de acesso público, depois com o ar mais inocente do mundo diz – Ah desculpe não sabia!

A Cavalgadura Lusitana, faz questão de chegar sempre atrasada, ao teatro, ao cinema, à escola, desse modo tem mais hipótese de chatear quem chega a horas, além disso deixa o telefone ligado para que lhe possam ligar, e o agradável som polifónico, pois claro, de uma qualquer músiqueta irritante e estapafúrdia, invada os tímpanos de quem só quer estar em silêncio.

A Cavalgadura Lusitana fala sempre aos berros a qualquer hora do dia ou da noite, o sossego e paz de espírito alheios nada dizem à Cavalgadura, a música lá em casa é sempre em altos brados e os berbequins podem ser ligados à uma ou duas da manhã, sem problema, quem não quiser ouvir tape as orelhas.

A Cavalgadura, tem-se por ser esperta, para ela as bichas para o que quer que seja servem apenas para exercitar a sua esperteza, tentando papar uns lugares, ser atendido primeiro, a Cavalgadura Lusitana é o único ser do Universo que tem pressa, que trabalha e que tem obrigações a cumprir.

A Cavalgadura adora animais, em especial cães, e é ver o desvelo com que a Cavalgadura trata o rafeiro, passeando alegremente pelos jardins, passeios e ruas de Portugal, conspurcando com grossas poias todos esses locais, enchendo de mijadelas as jantes dos carros dos vizinhos e as entradas das casas, é uma alegria.

A Cavalgadura é de todas as cores, sendo porém de notar que, existem Cavalgaduras que por serem de uma ou de outra suposta etnia ou classe profissional, fazem da arte de ser Cavalgadura uma arte superior, são uma espécie de versão de luxo da Cavalgadurice, que juntam a sua Cavalgadurice outras qualidades como serem selvagens, incivilizados, ladrões, sanguessugas, boçais e estúpidos, mas como são Cavalgaduras minoritárias, vivem acima da Lei da Nação, regem-se, dizem eles, por leis próprias, são uma espécie de pequenos estados dentro desta miséria a que chamamos Estado.

Em resumo, a Cavalgadura Lusitana vai de vento em popa, sosseguem todas as vozes da brigada do reumático, que se calem os velhos deuses, e vós ó musas dos antigos, preclaras anunciadoras das virtudes, lavrem novas loas às Tágides do Tejo, coitadas com as carradas de merda que o rio tem devem estar lindas, porque no horizonte desponta a Cavalgadura Lusitana, que dará brados ao mundo, tão latos que nem o fero Boreas a fará fracassar pois daqui a muitas gerações ainda se cantaram as façanhas da Cavalgadura Lusitana.

Francisco Pereira

 

 

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