Coisas que se dizem!

03-08-2018 - Francisco Pereira

Aqui pela minha terra existem umas expressões com alguma piada, que ilustram perfeitamente muito daquilo que se passa nesta gaiola de doidas a que chamamos país. Uma dessas expressões populares é extraordinária do ponto de vista de caracterização de todo um país, a expressão «Ser paneleiro com o cu dos outros», concedo que a coisa tem um cariz um pouco homofóbico, mas não é disso que quero falar, nem a expressão deve ser tomada por esse lado, antes pelo seu real sentido, que é o de não fazer coisas sem termos meios para as pagar, não dar o passo maior que a perna.

Ora sucede que em Portugal todos adoram «Ser paneleiro com o cu dos outros», senão vejamos, os governantes, querem funcionários públicos de primeira qualidade, enfermeiros e médicos de excepção, polícias prodigiosos, professores excepcionais e por aí adiante, querem funcionários públicos diligentes, inteligentes, capazes tudo, funcionários acima da média, mas pagam-lhes ordenados de merda.

Querem os senhores politiqueiros dos governos, dos ministérios e das autarquias fazer bonito para o facebook, para terem muitas fotografias com muitos “Likes” da matilha dos sabujos que os seguem, sempre prontos a dar mais uma lambidela, mas para que essa historieta do faz de conta possa acontecer, são precisas pessoas que trabalhem, pelos tais ordenados miseráveis, que ainda assim muitos apontam a dedo.

Na sociedade, existem também uns senhores, étnicos, todos muito diferentes, com muitos pergaminhos culturais diferenciadores e tal, mas que vivem com o quê? Com o dinheiro dos outros claro! Isto é muita bom ser muito étnico, muito diferente e tal, vivendo do dinheiro dos outros, é um verdadeiro maná mais uma vez lá estão eles a querer «Ser paneleiros com o cu dos outros»,

Porque neste país é espectacular ser o que se queira em especial quando há subsídios à fartazana, para distribuir a esmo sem rei nem roque pela maralha, o que me leva à caridade. A caridade, ou antes a “solidariedade social” como está na moda dizer-se, é outro ramo que adoptou plenamente o lema de vida «Ser paneleiro com o cu dos outros», na sua grande maioria essas instituições, ligadas ou não à uma qualquer religião, vivem de quê? Do subsídio do erário público pois então, depois de retirada a parte que cabe à instituição para cobrir as despesas operacionais, o resto é todo para a caridade, para ajudar os pobres, os desvalidos, os refugiados de todo o universo e arredores, bem como eventualmente para tratar dos órfãos e dos velhinhos.

Voltando à sociedade, existem por aí uns senhores muito bem postos, até se tratam todos por você, que abominam a escola pública, que horror ver o Martin ou a Constança misturados com a filharada dos proletários, todos a tratarem-se por tu, que horror, vai daí que existem imensos colégios privados, pagos com o dinheiro de todos nós, que proporcionam refúgios académicos à filharada dessa rapaziada. Ora temos mais uma vez um outro grupo de gentinha que adora «Ser paneleiro com o cu dos outros».

Olhando depois de forma transversal para o resto da sociedade, ele é um nunca mais acabar de instituições, associações e agremiações, de clubes, observatórios e fundações, todos a praticarem o «Ser paneleiro com o cu dos outros», são milhares de indivíduos especializados em sugar o erário público, todos com motivos, objectivos e intenções perfeitamente válidas e beneméritas, sejam a defesa dos escaravelhos da praia ocidental, o desporto para as crianças crescerem saudáveis, umas bestas mal educadas mas muito saudáveis, ou a associação de coleccionadores de escovas de dentes usadas, todos vivem com subsídios disto daquilo ou daqueloutro.

Existem porém campeões deste modo de vida, a banca por exemplo, faliram, re-faliram e nós continuamos a pagar, todos muito honestos, imaculados, impolutos de alma e coração, todos irmanados na mesma pretensão, «Ser paneleiro com o cu dos outros».

Francisco Pereira

 Voltar