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AS ORDENS DE MARCELO II

27-04-2018 - Jorge Duarte

Levando os afectos além-fronteiras, termina o nosso Presidente uma visita oficial a Espanha onde agraciou o Rei Felipe VI, com o Grande-Colar da Ordem da Liberdade.

E também ao Egipto, em retribuição à visita do seu homólogo a Portugal em 2016. O ponto alto foi a recepção feita na conservadora Universidade/mesquita de Al-Azhar, pelo atrás referido Scheik El-Tayyeb. A este “Papa” sunita prometeu também o nosso Presidente uma condecoração.

Diz-se que Meca é o coração do islão, o Cairo a cabeça e Al-Azhar o cérebro.

O Egipto é o mais antigo país que conserva as mesmas fronteiras e o mesmo povo. Tão estrategicamente colocado que sempre foi disputado e invadido. Napoleão foi mais um a cobiçá-lo, e mais um a sonhar com a ligação ao Índico através do Suez. Veio a concretizar-se mas o Egipto acabou colonizado pelos ingleses, credores das dívidas.

A intromissão da cultura ocidental em sociedades tão conservadoras que alteram os seus valores é um veneno. E Assan Al-Banna criou o antídoto em 1928: a poderosa e subversiva Irmandade Muçulmana, salafita. Quase varreu os ocupantes mas foi morto. Sayyd Qutb, continuou e reforçou com doutrina ainda mais radical. Também foi condenado à morte mas salvou a mensagem; os seus livros são os manuais do moderno terrorismo e o apelo ao esmagamento do Ocidente, lidos por toda a juventude. A Irmandade Muçulmana é uma organização transnacional e um estado dentro dos Estados. Após as revoltas da Primavera Árabe ganhou em toda a linha, constituindo-se em partidos nas eleições. E veja-se no que estas revoltas resultaram: Morsi e o golpe de estado no Egipto; Erdogan e as perseguições na Turquia, a instabilidade na Tunísia, para não falar na Líbia e Síria, nem na Argélia em 1992 ou Irão em 1979. Cada revolta, ou conduz ao caos ou a um regime tão ou mais opressor que o anterior. A democracia idealizada pelo Ocidente não se exporta.

Tariq Ramadan é uma das “estrelas” de Oxford em Estudos Islâmicos, palestrante e presença assídua nas TVs de Londres e Paris e interlocutor entre o mundo islâmico, os meios académicos e a comunicação social. É neto de Al-Banna. Este polémico teólogo já esteve diversas vezes em Portugal e foi convidado como orador nas Conferências do Estoril em 2009 e 2016 (Aznar recusou a sua presença). Está proibido de entrar em vários países islâmicos incluindo o Egipto, para além dos EUA e Israel. Presentemente, envolvido com a justiça francesa.

O Egipto, detentor de uma superioridade intelectual, influente e espalhada pelos países vizinhos, é a sede do nacionalismo árabe. Há 150 anos tinha a mesma população que Portugal; hoje tem 100 milhões e Portugal 10. O mesmo contraste exponencial sucede entre todo o mundo islâmico. São enormes diques a transbordar, cuja drenagem se vai fazendo sobre… uma Europa entretida na sua própria erosão.

Enorme massa de gente pobre, desocupada, com uma existência inútil e facilmente capturada por pregadores ou intelectuais revolucionários oportunistas que facilmente lhe fornecerão pretextos para a explosão de energia aprisionada, num islão revolucionário.

- Quantos inventos científicos e tecnológicos conhece no mundo islâmico?

- Quantos génios universais das artes e das ciências islâmicos conhece?

- Quantos grandes filósofos islâmicos (não persas) conhece?

- Quantos prémios Nobel foram atribuídos a grandes nomes islâmicos?

O número é muito reduzido não porque não tenham talentos. Mas o islão não ama a ciência; a ciência é inovação (bid’a) e o Corão já contém todo o conhecimento, e mais nada pode ser acrescentado. A imprensa de Gutenberg só aqui entrou há pouco mais de um século; tudo era ainda manuscrito. Porque o símbolo sagrado é a letra árabe (a letra – equivalente à cruz no cristianismo) e a língua, porque foi nesta que Alá comunicou com Maomé e o que é sagrado não se reproduz numa máquina. Sem livros não há ciência, nem técnica, nem filosofia, nem história...mergulha-se na estagnação mas salva-se o espírito tradicional.

Vivem, por isso, em função de valores muito diferentes dos valores ocidentais – anti-tradicionais - sem nunca se sentirem inferiores e jamais mudarem. Por isso, rapidamente conquistam amplos direitos e posições privilegiadas nas nossas sociedades; o Céu comanda. O islão aceita conversos mas não se converte; filho de muçulmano é muçulmano para sempre; a apostasia é crime capital.

É isto que temos muita dificuldade - e medo - de compreender mas, tudo isto que estamos a viver é um grande processo e, como qualquer Grande Processo, nunca coube a nenhum homem conhecê-lo no seu todo. Cabe-nos, pois, conhecer a primeira parte e os infelizes que se hão-de submeter no futuro, conhecerão a segunda.

Jorge Duarte

 

 

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