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Para quem tocam os sinos

13-04-2018 - Francisco Pereira

Para não ser acusado de plagiar o Ernesto desde já vos digo que o título deste artiguelho, é parecido com o dessa obra maior da literatura mundial, “Por quem os Sinos Dobram”, de Ernest Hemingway, mais vos digo, que a semelhança é intencional e assumida.

Na segunda-feira passada, comemoram-se os cem anos da Batalha de Lys, sobejamente conhecida por ter sido a maior catástrofe militar de Portugal do século XX, o maior desastre das armas portuguesas desde Alcácer Quibir, o infausto evento, verdadeiro desastre, no que concerne à participação de tropas portuguesas em combate, decorreu entre os dias 9, 10 e 11*, de Abril de 1918, daí tendo resulta cerca de quatro centenas de mortos, mais uns seis mil prisioneiros, tendo a 2ª Divisão do Corpo Expedicionário Português sido aniquilada enquanto unidade combatente.

No próximo Domingo dia 15, cumprem-se seis meses sobre os grandes incêndios de Outubro, sendo que na terça-feira dia 17, fará 10 meses que se deram grandes incêndios de Pedrógão.

Não estando os apreciados leitores a relacionar uma coisa com outra, tendo eu a certeza que muitos já questionam a minha, é certo, periclitante saúde mental, asseguro-vos que não me encontro, ao contrário de muitos que ouvi falarem sobre estas tragédias, toldado por eflúvios báquicos que obstem à minha capacidade de raciocinar.

Um destes dias ao ler uma obra recente que analisa a Batalha de La Lys, fui lendo, descobrindo, que entre esta batalha e os incêndios atrás referidos existem semelhanças impressionantes, podendo nós quase fazer um paralelismo comparativo entre os métodos de ontem e os de hoje chegando como eu cheguei à conclusão, de que infelizmente, aprendemos quase nada, continuamos infelizmente iguais.

Essa leitura, revela-nos toda a incúria, inépcia e miserabilismo intelectual que conduziu ao desastre de La Lys, os compadrios e amiguismos, a porcahice politica da Primeira República, permitiam a quem tinha cunhas safar-se da frente de combate para ir fazer de conta para um lugar seguro bem à retaguarda, alguns tão à retaguarda, que estavam em Portugal, ontem como hoje pouco mudou.

O disparate, as guerrinhas pusilânimes dos egos, a completa descoordenação, a falta de preparação, a reacção atabalhoada, a inveja bastarda, os métodos desadequados e os meios parcos, em La Lys foram os mesmos factores observáveis, quase cem anos depois nos incêndios de Junho e de Outubro, o inimigo não era já o “o malvado teutão”, mas o fogo devastador, mais impiedoso ainda, tendo o resultado redundado no mesmo, uma colossal catástrofe, um desastre completo.

La Lys , Pedrógão, Pinhal de Leiria, entre muitos mais, lista demasiado exaustiva para aqui trazer, serão nomes, que enquanto existir memória, evocarão catástrofes, perdas de vidas perfeitamente evitáveis, mas também serão nomes que exemplificarão, o miserabilismo das chefias, a torpeza dos comandos, a mediocridade dos políticos e dos governantes.

Cem anos passados, começamos a perceber que a mitologia construída à volta de La Lys, é muitas vezes uma colossal e prodigiosa mentira, percebemos também que os incêndios foram produto de um conjunto de ocorrências e que tudo falhou, talvez quando passarem mais cem anos finalmente se perceba que um país não pode ser este pardieiro de mediocridade e miserabilismo, tenho esperança!

* A 11 de Abril retira da linha da frente, Les Lobes, onde combate junto com tropas britânicas dos Seaforth Highlanders, o capitão da 3ª Companhia do BI 13º David José Gonçalves Magno, retira esgotadas as munições, com meia dúzia de praças pertencentes ao BI 13 e 15, os que restaram de três dias de combate, foi das muito raras acções de resistência das tropas lusas ao assalto alemão do dia 9, honre-se pois a sua memória.

Francisco Pereira

 

 

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