Para Almeirim, com Amor.
06-04-2018 - Eurico Henriques
No Centenário da Batalha de La Lys.
A presente informação pretende enunciar as questões relacionadas com a participação de jovens do concelho de Almeirim no conflito alargado que foi a 1.ª Guerra Mundial.
Este conflito, que se desenvolveu nos primórdios do século XX, 1914 a 1918, entre as principais Potencias europeias, veio consolidar a emergência de uma nova potência mundial, os Estados Unidos da América. O facto que esteve na sua origem não justificaria um conflito tão longo e destruidor. O que se pode considerar como causas mais próximas e objetivas, será a rivalidade entre as potências europeias no que se relacionava com a ocupação de territórios no continente africano e no método da sua partilha. A eles ligam-se os interesses comerciais e de dominação política em áreas regionais do centro europeu.
A presença de Portugal encontra uma justificação na necessidade de garantir a posse de importantes territórios coloniais, Angola e Moçambique e, não menos válida, na afirmação da República recentemente introduzida.
Os governos da 1.ª República empenharam-se em conseguir a participação do país no conflito, o que se verifica após a captura dos navios alemães e austríacos que se encontravam ancorados no Tejo, onde tinham procurado refúgio no início do conflito. Perante uma solicitação inglesa a marinha nacional fez a ocupação dos mesmos, a 17 de fevereiro de 1916 Este facto levou à declaração de guerra a Portugal, feita pela Alemanha em 9 de março. Esta abertura de hostilidades veio oficializar o que já acontecia: importantes conflitos militares no norte de Moçambique e sul de Angola.
A mobilização militar para África teve o seu início nesse ano de 1914. Após a instalação dos destacamentos militares seguiram-se os confrontos armados com as forças alemãs, estacionadas nas colónias vizinhas. Esta abertura de hostilidades veio oficializar o que já acontecia: importantes conflitos militares no norte de Moçambique e sul de Angola.
Não deixa de ser curiosa a posição portuguesa perante os combates nestas duas colónias africanas. O governo, tendo recebido em tempo a notícia dos confrontos, procurou não hostilizar a Alemanha, ficando a aguardar por uma altura mais favorável.
Neste período cerca de 108 almeirinense foram recrutados para os vários teatros de guerra. No total morreram 5: João Nunes Pão Alvo e Francisco Jorge Boa Vida, de Almeirim; Manuel Coelho da Raposa; José Fresco de Fazendas de Almeirim e João Eleutério do Convento da Serra. O soldado Francisco Boa Vida morreu com uma pneumonia dupla no campo de prisioneiros. O soldado João Eleutério foi dado como desaparecido na batalha de dia 9 de abril. Os bombardeamentos intensos das forças alemãs terão atingido diretamente a sua posição. Neste trabalho de estudo e pesquisa partimos em busca dos que, recrutados, fizeram as campanhas africanas e do CEP.
São várias as perguntas que se podem pôr: como se fez o recrutamento e quem foi recrutado. Como se vivia na vila de Almeirim e concelho no tempo do decurso da guerra. Qual a reação das autoridades locais e respetiva população ao conflito.
Do outro lado, dos soldados integrados nas forças militares, o que procuramos privilegiar, como viam a sua participação na guerra. Os escritos e narrativas que nos deixaram que verdades nos revelam. Como foi o seu quotidiano, das planuras e florestas quentes de África ao frio e ao fogo das trincheiras europeias.
Revelamos um breve apontamento sobre o soldado Custódio Jacinto, natural da Tapada:
Os jovens da Tapada, recenseados para integrarem o C.E.P. (Corpo Expedicionário Português) não aparecem nas relações de Almeirim. Acontecia, na época, que as famílias faziam o registo dos nascimentos em Santarém, o que dificulta a sua identificação.
Custódio Jacinto foi um jovem que esteve em França. Quando foi mobilizado já era casado e tinha dois filhos.
A sua pequena História surgiu através das declarações da esposa de um seu neto.
A narrativa é interessante e representa um conhecimento da época.
Custódio Jacinto voltou tarde da guerra. A família considerava que ele tinha morrido. Esta situação vem confirmar a pouca atenção que as autoridades militares davam ao esclarecimento das famílias dos militares.
Certo dia, estando a esposa com a irmã a sachar milho no campo junto à ponte D. Luís, verificaram que havia um militar, debruçado nas guardas, a observá-las.
- Oh, soldado, quem és tu? Perguntou ela. De princípio não houve resposta, mas a seguir disse:
- Vocês não me reconhecem?
- Não – foi a resposta vinda lá debaixo.
- Sou o Custódio!
– O Custódio morreu na guerra! – responderam.
- Não, gritou ele, estou vivo, sou o Custódio!
A festa do reencontro envolveu a família e todos os moradores.
Teve um fim triste, acrescentou a informadora.
Depois de chegado começou a trabalhar na vindima. Tempos depois, no lagar, ao pisar das uvas, andou “à teima e o Sr. Victor ficou mal”. Saiu e foi à malta ao farnel. Voltou ao lagar e disse ao Custódio. - Oh Custódio vira-te para mim! Este virou-se e ele deu-lhe duas navalhadas na barriga que o mataram.
A esposa, Sr.ª Maria do Rosário, voltou a casar-se e teve mais sete filhos.
Eurico Henriques.
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