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ESPANHA 23-F 1981 - (Parte 3)

16-03-2018 - Manelinho de Portugal

O 23 - F

Mas a 23/02/1981 efectivou-se a tentativa de golpe de estado.

Segundo indícios históricos e opiniões de diversos estudiosos do 23-F, este foi um “pronunciamento militar” em que convergiram várias conspirações franquistas, merecendo especial realce uma radical chefiada pelo Gen. Jaime Miláns del Bosch, que contava com o Ten.-Cor. António Tejero Molina e previa a constituição de um governo de junta militar, e a do Gen. Alfonso Armada mais “branda”, que tinha por objectivo a formação de um governo de unidade nacional “semi-democrático”. Também há quem afirme, baseado em factos, que havia uma conspiração por parte do Centro Superior de Informações de Defesa (CESID), inteligência militar chefiado pelos Coronéis Narciso Carreras e Javier Calderón.. Segundo esta tese, parte do CESID estava com os golpistas e outra fiel ao Rei, sendo que agentes daquele proporcionaram meios de comunicação rádio a Tejero, bem como matrículas falsas para os veículos de transporte dos ocupantes do Palácio das Cortes. Porém, aquando do julgamento dos golpistas, apenas o Cap. Gómez Iglesias foi condenado.

Nessa data estava reunido em plenário o Congresso dos Deputados e o Governo no Palácio das Cortes para procederem à eleição do indigitado Presidente do Governo Leopoldo Calvo Sotelo da UCD. Às 18,21 horas mais de 200 militares da Guardia Civil chefiados pelo Ten-Coronel António Tejero Molina tomarm o edifício e sequestraram os seus ocupantes. E Tejero, de pistola na mão, acompanhado de outros militares armados de metralhadoras, uma vez no hemiciclo, subiu à tribuna e proferiu a célebre frase: “Quieto todo el mundo!”. O Gen. Gutiérrez Mellado vice-presidente do Governo, miltar mais graduado presente na sala, pediu satisfações a Tejero e ordenou-lhe que fossem depostas as armas, mas este, após algumas altercações verbais e físicas, disparou um tiro para o ar, a que se seguiram várias rajadas de metralhadora por parte dos seus homens. No final Tejero informou que em breve chegaria uma “autoridade competente” militar.

De seguida o Capitão-General Jaime Milans del Bosch, comandante da III Região Militar sedeada em Valência, sublevou-se e enviou cerca de 2.000 homens da Divisão de Infantaria Motorizada “Maestrazgo” e 50 carros de combate (tanques M-47E1) para o centro da cidade, que “controlaram” a mesma e os principais edifícios públicos, sedes dos poderes centrai do Estado, regional e municipal, tendo declarado o “estado de excepção” e procurado aliciar outros chefes militares para o golpe. Esta operação localizada teve o nome de código “Turia”.

Também o Gen. Luís Torres Rojas, Governador Militar de La Coruña e ex-comandante da poderosa Divisão Blindada “Brunete” (DAC), aquartelada às “portas” de Madrid, viajou da Galiza para a capital a fim de reassumir o seu comando com vista a tomar a cidade à semelhança de Milans del Bosch em Valência. Aquele, acompanhado de oficiais golpistas da dita Divisão, tentou convencer o seu comandante Gen. José Juste Fernández a aderir ao golpe, dizendo-lhe que o Rei estava ao corrente da iniciativa e que o Gen. Alfonso Armada y Cormyn, 2º Chefe de Estado-Maior do Exército, pessoa amiga e de confiança de Don Juan Carlos (foi secretário-geral da Casa do Rei), se encontrava no Palácio da Zarzuela, residência real. Mas José Juste não cedeu, e quando ficou sozinho telefonou para a Zarzuela para confirmar a posição do Rei e perguntar se Alfonso Armada estava lá. A resposta que lhe foi dada pelo Secretário-Geral da Casa do Rei Gen. Sabino Fernández Campo relativamente a Armada foi a célebre frase: “Ni está, ni se le espera!”. Foi quando Juste teve a certeza de que o Rei não apoiava o golpe. Entretanto, a algumas unidades militares da DAC que haviam saído para a “rua” foi ordenado por Juste e pelo Capitão-General da I Região Militar sedeada em Madrid, Gen. Guillermo Quintana Lacaci, que regressassem às suas bases, o que sucedeu.

O Gen. Alfonso Armada, que na “sombra” manobrava no sentido da sublevação de outros chefes militares, foi retido pelo Chefe de Estado-Maior do Exército Gen. José Gabeiras Montero no seu próprio gabinete, com o intuito de o impedir de contactar com os revoltosos e outras chefias ou unidades militares para que aderissem ao golpe.

Contudo, com a acção de Tejero que continuava no Palácio das Cortes sequestrando deputados e Governo, tinha-se criado o “vazio de poder” pretendido pelos organizadores do golpe, o que na sua perspectiva lhes facilitaria a tomada do mesmo. Como resposta, o Rei, reassumindo ainda que “inconstitucionalmente” os plenos poderes herdados de Franco, tomou a iniciativa de defender a legalidade constitucional vigente. Assim, como Chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas, para além de contactar os membros da Junta de Chefes de Estado-Maior, contactou todos os Capitães-Generais das várias Regiões Militares do Exército, Marítimas e da Força Aérea, bem como sancionou a constituição de um “governo provisório” designado “Comissão Permanente de Secretários de Estado e Sub-Secretários” (membros do Governo em liberdade) chefiada por Francisco Laína Garcia, Director da Segurança de Estado (serviços de inteligência civis integrados no Ministério do Interior), com vista a manter a governabilidade e normal funcionamento da administração pública do País. Às 21,00 horas foi emitido um comunicado do Ministério do Interior anunciando a constituição da dita Comissão e que a mesma estava em estreito contacto com a Junta de Chefes de Estado-Maior.

Também o Presidente da Generalitat da Catalunha Jordi Pujol, pouco antes das 22,00 horas, proferiu pela Rádio Nacional e Rádio Exterior uma alocução ao País apelando à tranquilidade.

Tendo-se oferecido para negociar a rendição de Tejero Molina, com aquiescência do Rei mas sem poder agir ou usar em seu nome, o Gen. Alfonso Armada foi ao Palácio das Cortes pelas 24,00 horas, não só para lhe propôr a mesma, como a constituição de um governo chefiado por si próprio sob as ordens do Rei, o qual integraria membros de todos os partidos com assento parlamentar. Mas Tejero não aceitou, porquanto, ao que parece, para ele não era Armada a “entidade competente” que esperava, ou se fosse, dele esperaria um governo de junta militar ou com grande preponderância de militares na sua composição e sem membros de partidos de esquerda. Ainda que se possa especular sobre se tal “entidade” seria Milans del Bosch (que permaneceu em Valência), Armada ou outro personagem que face ao decorrer dos acontecimentos se terá resguardado no anonimato, o certo é que não há certezas quanto à identidade da mesma. A verdade sobre tal personagem foi para a tumba com Tejero, del Bosch e Armada. De qualquer forma, com esta e outras atitudes, Armada “descobriu-se” como um dos organizadores do golpe.

Também no golpe houve alguém que supostamente seria o supremo chefe do mesmo, e cuja denominação em código era “Elefante Branco”. Sobre qual a verdadeira identidade desse personagem muito se tem especulado, até dizendo alguns que se tratava do próprio Rei, mas também há quem defenda ser mais plausível que fossem Armada ou del Bosch. Contudo, este é mais um “segredo” que terá ido para a tumba com os golpistas.

Cerca das 24,00 horas de 23-F, segundo noticiou o jornal “El País”, o posicionamento dos Capitães-Generais das Regiões Militares, segundo “nota” do Gen. Quintana Lacaci, era o seguinte:

- I Região Militar, Madrid, Cap.-Gen. Quintana Lacaci, fiel ao Rei;

- II Região Militar, Sevilha, Cap.-Gen. Pedro Merry Gordon, neutro expectante;

- III Região Militar, Valência, Cap.-Gen. Miláns del Bosch, sublevada;

- IV Região Militar, Barcelona, Cap.-Gen. António Pascoal Galmes, fiel ao Rei mas dependente da posição de Saragoça;

- V Região Militar, Saragoça, Cap.-Gen. António Elícegui Prieto, fiel ao Rei mas dependente da posição de Madrid;

- VI Região Militar, Burgos, Cap.-Gen. Luís Palanco Mejorada, fiel ao Rei;

- VII Região Militar, Valladolid, Cap.-Gen- Ángel Campano López, neutro e expectante;

- VIII Região Militar, La Coruña, Cap.-Gen. Manuel Fernández Posse; fiel ao Rei;

- Capitania-General das Baleares, Cap.-Gen. Manuel de la Torre Pascual, expectante, mas se Miláns tivesse tido êxito também se sublevaria;

- Capitania-General de Canárias, Cap.-Gen. Jesús González del Yerro, fiel ao Rei.

Assim, no computo geral, das 10 Capitanias-Generais: 4 eram indiscutivelmente fieis ao Rei, com grande relevo para a de Madrid; 2 fieis ao Rei mas dependentes da decisão de outras; 3 neutras mas expectantes sobre o desenrolar dos acontecimentos; 1 sublevada, a de Valência. Também os Directores-Gerais da Guardia Civil e do Corpo Nacional de Policia, respectivamente Gen. José Luís Aramburu Topete e Gen. Sáenz de Santa Maria eram declaradamente leais ao Rei, tendo o primeiro tomado sob o seu directo comando a chefia de Madrid, a qual tinha por comandante o Cor. Constantino Gómez González. Concluindo, pode-se dizer que entre chefias militares e policiais o Rei tinha a lealdade activa e passiva de todas menos a de Valência.

À 1,14 horas de 24/02 El Rei Don Juan Carlos, fardado de Capitão-General do Exército, dirigiu uma mensagem pela televisão ao País, pedindo a “todos a maior serenidade e confiança”, que “para evitar qualquer confusaão (tinha ordenado) às autoridades civis e à Junta de Chefes de Estado-Maior que (tomassem) todas as medidas necessárias para manter a ordem constitucional dentro da legalidade vigente... (assim como) que qualquer medida de carácter militar que caso (devesse) tomar-se (deveria) contar com a aprovação da Junta de Chefes de Estado-Maior... (por último que) “a Coroa, símbolo da permanência e da unidade da Pátria não (podia) tolerar de forma alguma acções ou atitudes de pessoas que (pretendessem) interromper pela força o processo democrático que a Constituição votada pelo Povo Espanhol determinou através de referendo”.

O golpe estava “terminado”!

Às 5,00 horas Milans del Bosch mandou regressar as suas tropas às respectivas unidades e foi detido. E cerca das 12,00 horas Tejero, após ter negociado pessoalmente com o Gen. Gabeiras as condições da sua rendição, retirou-se com os seus homens do Palácio das Cortes e entregou-se às autoridades na sua unidade da Guardia Civil.

Manelinho de Portugal

Continua na próxima semana

 

 

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