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ESTOU DE CONSCIENCIA TRANQUILA!

09-02-2018 - José Janeiro

Invariavelmente esta é a frase dos acusados ou arguidos de qualquer coisa. Logicamente ninguém espera que os ditos se acusem e digam: “sim fiz o que estou a ser acusado”, mesmo quando as provas são mais do que evidentes, nada disso, dizem sim, que estão de consciência tranquila.

Faz parte da cartilha do acusado estar de consciência tranquila, dizendo esta verdade conveniente até se auto convencer da tranquilidade da sua probidade.

E a verdade é que bem podem estar de consciência tranquila, porque com a velocidade a que a justiça opera e a possibilidade de um carrocel de recursos, a que juntam a falta de eficácia na devolução/pagamento das trafulhices a consciência vai continuando tranquila como qualquer mar morto. Mas a realidade é bem diferente dessa tranquilidade, porque quando oferecemos uma desculpa que não nos foi pedida estamos a manifestar a nossa culpa, qualquer psicólogo o sabe.

Propus-me analisar os vários tipos, ou géneros de consciência tranquila e esta minha reflexão levou-me a vários “locais” daquela coisa maravilhosa que todos devíamos ter: um cérebro!

  • Consciência tranquila na optica da religião : O religioso, seja de que tipo for, tem a consciência tranquila depois de ter pedido ao seu deus perdão pelos seus actos. Consegue assim limpar toda a bosta que fez pela invocação da divindade e como esse ser não se pronúncia fica-se com a sensação de que o silêncio é de ouro e a convicção que a prece foi ouvida por mais absurda que seja. Ganha especial relevo o entendimento que seja qual for o crime horrendo que se cometa basta pedir perdão para que o ser supremo invisível lhe concede a tranquilidade da mente conturbada, é de qualquer catequese ou madrassa.
  • Consciência tranquila na optica da política : Aqui o caso é mais grave e se por um lado tem foros de patologia psiquiátrica, quando individuo em causa tem apenas consciência da trampa que fez e quer ficar limpinho como rabo de bebé depois da muda da fralda, por outro, e mais grave, é aquele que nunca usa a consciência e por isso está sempre tranquila. A facilidade com que se invocam verdades supremas vertidas em papel branco que depois de bem amassadas podem servir para outro fim mais nobre, como limpar o traseiro, é de uma pérfida atroz.
  • Consciência tranquila na optica da justiça : Normalmente quem está a contas com a justiça ou que dela se aproveita para os seus intentos, normalmente confunde consciência tranquila com má memoria, os tais atavios que usam, quando se sabe que é assim, mas “ que não se alembram”. Adolfo Hitler, de má memoria, definia bem este sentimento, dizia ele: “temos que ser cruéis para recuperar a consciência tranquila para voltarmos a ser cruéis”. A cartilha não se perde apenas se transforma qual Lavoisier da ardileza.
  • Consciência tranquila na optica do silenciamento: E quando querem silenciar os alvitreiros, ou alcoviteiros de serviço, invoca-se uma vez mais a tranquilidade da mente, em vez da solução para a questão premente que deu origem ao problema. É uma forma fácil de passar por cima do problema tal como o nosso povo diz: como raposa em vinha vindimada e silenciar a oposição daquilo que dizemos. É da cartilha elementar de qualquer universidade de verão de um qualquer partido politico.

A tranquilidade das consciências leva invariavelmente ao abismo da intranquilidade dos resultados das decisões que lhes deu origem. Resta-nos a esperança de um julgamento divino, que não mais é do que a vingançazinha dos fracos de espirito e dos que acham que não têm o dever de zelar pelos seus direitos.

Uma nota final: discute-se por estes dias a intranquilidade do abandono de idosos. Paradoxalmente por iniciativa de dois partidos que um contribuiu para a desgraça enquanto esteve no governo aliado ao PSD e o outro que deu mais importância à criminalização dos maus tratos dos animais (igualmente escabroso), antes de se dedicar a este problema serio da sociedade. Triste país este que criminalizou mais rápido os maus tratos a animais do que aos nossos idosos. Julgo as consciências estavam intranquilas para acordarem para uma realidade triste e escabrosa.

Mantenham-se tranquilos e até para a semana.

José Janeiro

 

 

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