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MATREIRICES

05-01-2018 - Maria do Carmo Vieira

  • Foi anseio forte, desde o 25 de Abril, que a Esquerda, um dia, se unisse, de forma consistente e séria, contrariamente à experiência nociva de maioria absoluta de um partido. Em relação a esta última, a arrogância e a surdez a opiniões críticas caracterizam-na, independentemente do partido que a obtenha, o que é visível em qualquer parte do mundo. Portugal não é, nem será, excepção.

Confesso, e na base do que anteriormente referi, que sou convicta apoiante da actual coligação governamental, o que não significa que abdique do meu espírito crítico, ou seja, da minha liberdade de pensar e de expor o que penso. Nesse sentido, e se bem que a decisão tenha vindo da Assembleia da República, havendo com certeza conhecimento pelo menos do Primeiro-Ministro, e de outros ministros, mais estreitamente ligados à bancada do PS, lamento o processo pantanoso e secreto em que se envolveram os partidos ligados à Coligação, a propósito da Lei do Financiamento Partidário. E relevo os partidos da Coligação pois, de acordo com valores que atribuímos à Esquerda, o seu comportamento foi verdadeiramente surpreendente e paradoxal. Custa a crer, com efeito, que tal tenha acontecido, conhecendo quão críticas são as suas posições em relação àqueles que tentam fugir e fogem aos impostos ou a quem usufrui ilicitamente dos impostos pagos pelos portugueses. Não se compreende, pois, uma discussão apressada e secreta na qual, e em causa própria, se tenha defendido a angariação de fundos de modo ilimitado ou a isenção do IVA, que todos nós pagamos.

Não é possível tolerar a maquinação que nos surpreendeu, há uns dias, bem como a falta de vergonha, lamentavelmente, interiorizada na política. De forma atabalhoada começam a surgir desculpas, mas, na verdade, não há desculpa alguma que apague a matreirice saloia dos partidos da Coligação, a propósito da Lei do Financiamento Partidário. Não merecíamos tal comportamento.

  • No meu último artigo, abordei o mau funcionamento dos CTT, em flagrante

contraste com a «bondade» das palavras da administração da empresa, desde a sua privatização, decidida pelo poder político, como sempre em nome de «um melhor serviço para os utentes», pensando ambos certamente que somos estúpidos.

Para além do fecho inicial de muitas agências, o requinte de «bem servir» foi-se intensificando e temos vindo a assistir, ao longo do tempo, a vários malabarismos: o correio azul, que fora inventado para se ter a certeza de que a carta chegaria no dia seguinte, foi substituído pelo correio verde e nem este cumpre já o requisito. Agora, uma carta para dentro do país pode demorar 3 a 4 dias a chegar ao seu destino; o correio azul, 2 ou 3 dias, e o correio verde nem sempre cumpre o estipulado, ou seja, 1 dia, e falo por experiência de todas as situações descritas.

Anteriormente havia também, pelo menos, duas tiragens, uma de manhã e outra à tarde. Soube, há dias, que não valia a pena apressar-me a ir de manhã ao correio, pois a tiragem era só às 18.00 horas. No entanto, se observarmos a informação explícita nos marcos do correio, o que lá está escrito é: «Última tiragem às 18.00 horas», numa flagrante atitude de enganar os utentes. A especificação de «última tiragem» só pode significar que existem outras, o que, na realidade, não acontece.

O serviço «cttexpresso» - «para amanhã», apesar da exorbitância dos seus custos, ousa também não cumprir os prazos definidos, neste caso, 24 horas. Com extrema leveza se passa de 24 para 48 horas ou mais, situações por mim vividas, uma das quais este ano. Aguardo resposta a uma reclamação solicitando o reembolso, dado o não cumprimento do prazo pelo qual eu havia pago.

Soubemos, ultimamente, pensando que não teríamos lido ou ouvido bem, que os CTT em 2016 haviam distribuído pelos seus accionistas 74,4 milhões de euros em dividendos, quando os lucros da empresa se situavam em 62,2 milhões de euros, ou seja, 10 milhões de euros a mais do que os lucros obtidos. No entanto, o director executivo dos CTT, Francisco Lacerda, apressou-se a acalmar os incrédulos, afirmando que os dividendos «não eram exagerados» e que haviam sido possíveis graças «à situação financeira muito sólida» da empresa. Mas não tardou muito e voltámos a confrontar-nos com nova mascarada de palavras, à semelhança dos «efeitos colaterais» em guerra, porque os CTT, «financeiramente tão fortes», ao abrigo do novo «plano de transformação operacional», tencionam despedir 1.000 trabalhadores (antes eram 300), mas tudo em ambiente de franca amizade, para assim melhorarem os serviços… A matreirice habitual.

Como muito bem salientou o jornalista Nicolau Santos, só em Portugal acontece este milagre, uma vez que nas congéneres europeias os dividendos não são tão elevados e apenas uma parte dos seus lucros são distribuídos. O exemplo flagrante de como os CTT se entretêm a descapitalizar a empresa, o que, aliás, tem acontecido com outras empresas públicas que foram privatizadas.

Maria do Carmo Vieira

 

 

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