A entrevista do 1º ministro
18-04-2014 - Eduardo Milheiro
Como já nos habituou, o primeiro-ministro fala sempre para os portugueses lerem nas entrelinhas e terem de fazer a tradução do que ele diz. Utiliza uma linguagem neoliberal, uma linguagem de um homem agarrado ao poder, e que acaba sempre por não explicar nada.
Sobre o fim do programa de assistência financeira pela Troika não disse nada, mas também não é necessário, porque o nosso futuro já está escrito: vamos fazer a chamada saída limpa porque a Alemanha de Merkel assim o quer, porque uma saída com programa cautelar obrigava o Tribunal Constitucional Alemão a pronunciar-se sobre o assunto, e Merkel não quer isso.
Para mim, o que ele disse foi que os salários e as pensões não vão voltar ao nível que tinham antes dos cortes, e mesmo que deixe de haver a CES vai ser compensado com a chamada reforma das pensões em que os cortes passam a ser definitivos. A tal reforma, em que as pensões vão ter em conta o desenvolvimento económico e demográfico, quer que os aposentados nunca saibam o rendimento que vão ter, uma espécie de bolsa de valores em que as pensões sobem e descem ao sabor do crescimento económico ou se os Portugueses fazem mais ou menos filhos.
Mas o desgoverno é tanto, que o primeiro-ministro Passos Coelho afirmou que já tinha um relatório para uma "solução duradoura" para substituir a Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES), feito por especialistas de um grupo de trabalho que tinha sido nomeado pelo governo. Mentira, porque nenhum dos membros convidados pelo Governo conhece o relatório ou terá tido acesso à solução proposta para resolver o assunto. Além de desnorte isto é surrealismo.
Tudo encenação. Continua a esquecer-se e a não respeitar um contrato que existe entre os aposentados e o Estado, em que os primeiros descontaram durante muitos anos, durante toda a sua carreira profissional, para que quando de reformassem tivessem direito à sua pensão.
O Estado ao não cumprir este acordo não é pessoa de bem. A palavra do Estado não existe. Será que temos de tomar a mesma atitude e aldrabar o Estado como pudermos?
Sobre a baixa de impostos, concretamente do IRS, talvez para 2016 - altura em que já não será primeiro-ministro - será um presente envenenado para quem vier a seguir.
Salário Mínimo. Parece que não sabe que o salário mínimo é o valor que qualquer trabalhador no mínimo deve receber, na tentativa de que possa ter alguma dignidade e evitar a exploração desenfreada da mão-de-obra pelo capital, daí a necessidade de ser o Estado a decretar o referido valor.
Faz estas contas todas, mas há quem defenda que tudo está escondido, porque se diz que os cortes previstos já incluem o chumbo pelo Tribunal Constitucional da taxa CES, o que a não acontecer vai permitir ao primeiro-ministro, em período eleitoral, dizer que vai aliviar os cortes.
Já para não falar que Barroso será o candidato Presidencial do PSD. O primeiro-ministro não deixou dúvidas sobre isto. Assistimos a um exercício de malabarismo a que este governo já nos vem habituando, com informação e contra-informação no seu interior, quanto mim estudada e destinada a exercer terrorismo psicológico sobre os Portugueses, porque quando anunciam as medidas definitivas já muitos portugueses dizem, “é um bocado melhor do que se pensava”.
E é assim, pior Serviço Nacional de Saúde, pior Escola Pública, mais miséria e pobreza, menos Apoios Sociais, enfim, o empobrecimento de Portugal continua em nome da especulação e dos mercados, e continua a sistemática política da mentira aos Portugueses.
Continuo a afirmar: não acredito num Estado democrático e desenvolvido que aposte no crescimento pela desvalorização dos rendimentos e dos salários. Esta é uma política de direita e do capitalismo selvagem que não quero para mim nem para o meu País. A baixa produtividade portuguesa não vai aumentar pelos salários baixos e por maior facilidade nos despedimentos. Esta evolução passa antes por empresas capitalizadas, gestores bem formados tecnicamente, por tecnologia e máquinas novas em que os bens produzidos se vendam por preços competitivos baseados na qualidade e nos custo de produção, e com especial atenção ao preço da energia, das comunicações e de outros custos fixos que contribuem em grande percentagem para o preço final dos produtos produzidos.
Por isto tudo tenho de dizer que os Portugueses cometeram o maior erro desde o 25 de Abril, que foi terem votado de forma a dar a maioria a este governo de direita, e terem escolhido para primeiro-ministro Passos Coelho e o seu Vice Paulo Portas, e nunca se esqueçam desta máxima, “o neoliberalismo é o berço da extrema-direita”.
Eduardo Milheiro
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