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Trump é o melhor exemplo do estado do mundo

17-11-2017 - Henrique Pratas

Trump não tomou o poder à força, há um ano. Foi eleito por ser o idiota que é. Não um ditador, mas um idiota eleito, cada vez mais perigoso, ele ao fim e cabo é o espelho do estado do mundo.

Descascando esta afirmação que escrevi por pontos, vou fundamentar o que a afirmação que efetuei:

1. Todo o ditador é um monstro. Mais difícil ser um monstro em democracia. Mas 2016 revelou algo inédito: a maior potência do planeta eleger um idiota por ser o idiota que era. E aqui estamos um ano depois, o idiota cada vez mais monstruoso, com dezenas de milhões de likes por dia. Trump na presidência dos Estados Unidos da América é o estado do mundo em 201, espelho daquilo em que se tornou a vida na Terra;

2. Enquanto a família Trump celebrava este primeiro aniversário, quase meio milhão de centro-americanos residentes nos EUA estavam de coração nas mãos. Seriam deportados, depois de servirem os estado-unidenses? Perderiam tudo o que tinham construído? Teriam de voltar para o risco de morte?;

Em países como El Salvador, a taxa de homicídios compete com a do Iraque, as “maras” — gangues, quadrilhas — dominam o quotidiano, com extorsões, execuções, sequestros, tortura. Onde nasceram as “maras”? Nos bairros pobres dos EUA onde se refugiaram fugitivos à guerra civil salvadorenha, nos anos 1980, sem muito futuro para os filhos.

Na década seguinte, quando essas comunidades foram exportadas de volta, os filhos à deriva propagaram as “maras” em solo centro-americano e hoje fazem de El Salvador e tudo à volta um epicentro de violência da qual muita gente foge diariamente. Calcula-se que nove em cada dez centro-americanos que passam para o México estejam a fugir de ameaça nos seus países. É a estas pessoas, tantas vezes adolescentes, crianças, bebés ao colo das mães, que as autoridades chamam “ilegais”.

Estive com dezenas deles em 2010, no sul do México. Aí esperavam os comboios onde se iriam pendurar ou esconder para atravessar todo o México até à fronteira com os Estados Unidos. Muitos caíam entretanto, apanhados pelos cartéis mexicanos, outros na fatal fronteira que separa México e Estados Unidos. Muros, desertos, cercas elétricas, violência dos gangues, de tudo morriam e morrem. Muitos tinham e têm parentes do lado estado-unidense protegidos há anos pelo TPS (Temporary Protected Status), um estatuto que os abrigou face a tragédias naturais e guerras, sucessivamente renovado.

Esta semana, os EUA anunciaram que 2500 nicaraguenses têm 14 meses para partir. Após muita pressão diplomática, dezenas de milhares de hondurenhos conseguiram uma extensão do TPS. Salvadorenhos e haitianos aguardam. Para centenas de milhares, é o medo de uma condenação.

Mais do que um retrocesso, isto é parte de um novo e poderoso tipo de terrorismo, governamental, financeiro e tecnológico, que se estende a milhões de imigrantes, estrangeiros em geral, mulheres em geral, comunidade LGBT em geral, e todos os que por escolhas políticas ou culturais estão a assistir ao que nunca julgaram possível.

Muito além da mera repetição da história, tudo o que é humano estará em risco, até ao último chip no cérebro.

3. O triunfo de Trump há um ano é o triunfo de um capitalismo extorsionário numa escala que as “maras” nunca terão, sempre à espreita da evasão fiscal, da exploração da mão-de-obra, do abuso, da mentira, da aparência, da ignorância. Nisto se alicerça o império Trump, e a sua prática diária. E quem votou nele deu-lhe razão, já tínhamos chegado a esse ponto. A ética era para parvos, a cultura para tansos e o resto do mundo para os amantes de negros, de muçulmanos, das mulheres com TPM, dos gays, dos leitores de jornais, perdedores em geral. Quem votou Trump acha que uma fortuna à custa seja do que for é a grande credencial. Já não interessa ser melhor do que a concorrência, apenas esmagá-la, já não interessa satisfazer clientes, apenas criar dependência. No capitalismo terrorista de hoje não há clientes, só reféns.

E a eleição de há um ano sentou tudo isto na Casa Branca. Capitalismo terrorista online, com várias atualizações diárias no Twitter. Pós-verdade;

4. Basta abrir a Internet para perceber como isto aconteceu. A cobardia, a violência, a alarvidade, a ignorância das caixas de comentários são a cara de Trump, ou Trump será o Frankenstein delas. Trump é o Frankenstein do nosso tempo. Pensa à medida, escreve à medida. Faz tanto o tempo como foi feito por ele: por aquilo em que se tornou a vida na Terra. Dezenas de milhões de descendentes de imigrantes que acreditam em armas dentro de casa, muros em volta de casa e que Deus nasceu nos Estados Unidos da América, largamente conhecidos também apenas por América;

5. Perante isto, qualquer texto com mais de 140 caracteres, 280 vá, é um perigo, pelo menos uma perda de tempo. Jornalismo, investigação, literatura, arte, ciência: tudo perdedores. Perdedores e com a mania, ou pecadores, segundo os cruzados evangélicos que também ajudaram a eleger Trump. Os intelectuais estão ameaçados de extinção. Talvez em breve já não existam, tal como os jornais, tal como os factos. Que Trump seja um campeão do Twitter não é acaso, é sintoma;

6. Como é um sintoma tudo o que Trump disse e fez em relação às mulheres. A mulher vista por Trump varia entre adorno e transtorno. Se vai com sorte, é boa nas curvas. Se não é boa nas curvas, deita sangue. A prova de que ter filhas não ajuda um idiota a ser menos idiota. Além de campeão do Twitter, Trump é um campeão do sexismo. O que também ajudará a ser campeão do Twitter;

7. Este é o homem que preside a milhões de civis armados, potenciais atiradores, que pode melhorar a vida do Planeta, e só escolheu piorá-la, que fala da guerra nuclear como de berlindes e que não tomou o poder pela força, não é um ditador, foi eleito por gente.

E com isto tudo apenas só passou um ano, vamos esperar para ver o que mais irá acontecer.

Henrique Pratas

 

 

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