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Areia, beatas e bolas de Berlim

25-08-2017 - Francisco Pereira

Confesso que cada vez me é mais penoso encarar as idas à praia, confesso igualmente que nunca fui muito amigo de praia, até porque não sei nadar, facto que me impede de fruir completamente do espaço aquático, no entanto ainda pior que isso, é o cada vez mais penoso exercício de ter de suportar a verdadeira horda de sevandijas, que na época estival pulula pelas praias.

A falta de respeito pelos outros, a boçalidade e a pura estupidez incivilizada são a pedra de toque da sociedade actual, atentem aos comportamentos, não aos lamentos e petições presentes nas redes sociais.

Comecemos pelas raquetas e o infernal trec…trec…trec, juntemos a futebolada com chutos, remates, correrias, impropérios cabeludos, de preferência junto, mesmo rente diria eu, onde um gajo tem a toalha, rematemos com o volei, este ano vi uns estender uma rede, ao trabalho que alguns patetas se dão, para jogarem volei, quase junto a beira de água, cerceando assim o direito das pessoas de passearem sem serem incomodadas com boladas e impropérios, vindas dos alegres desportistas de praia.

A mediocridade do linguarejar, parece que hoje não conseguem falar sem meter uma asneira pelo meio de cada frase, a boçalidade comportamental, lixo em barda, beatas, latas de bebidas, embalagens de todo o género, fraldas descartáveis, pensos higiénicos, sacos ou pacotes de plástico ou metalizados, enfim uma pocilga, este ano visitei quatro praias, com menor ou maior grau de existência, de tudo se vê, plasmando a certeza da imensa corja de suínos que habita Portugal, por junto com a horda de estrangeirada que nos visita, muitas das vezes portadora de comportamentos pouco recomendáveis como se assistiu no Algarve com hordas de babuínos ingleses bêbados a fazer desacatos, parece-me que ser porcalhão é um conceito transversal, supranacional, um verdadeiro elemento de irmandade dos povos.

Temos seguidamente os cães, uma verdadeira doença moderna, não questiono sequer que os coitados dos animais, não devam estar na praia com os donos, devem sim, mas existem regras para essa estadia, devem ter trela ou açaime, nalgumas praias concessionadas existem sinais até de proibição, mais importante que tudo, os donos devem apanhar a merda que o cãozinho faz, não a deixando espalhada pelo areal e não os cães não podem fazer tudo o que lhes dá na gana, nem correr por todo o lado incomodando as outras pessoas, mas isto seria numa praia de gente com civilidade, com educação e sentido de respeito, por cá esqueçam.

Por último aqueles gajos que vão armar duas ou três canas de pesca, ali mesmo à beira de água e que se põem a olhar de lado quando alguém passa e tropeça naquelas engenhocas ou quando alguém a nadar lhes rebenta a linha. As praias são hoje, já não um local de descanso, mas uma, mais uma, extensão do quotidiano miserável prenhe de falta de civismo de degradação de costumes e da mais completa falta de respeito pelo outro.

Tudo isto se passa porque ninguém já respeita nada, recordo uma figura, “ o cabo do mar”, que nos anos oitenta do século passado infundia respeito à putalhada, como eu, que para jogar à bola nos areais, recorria aos confins para não incomodar ninguém, outros tempos, recordo um desses “cabos do mar”, mãos enormes e calejadas, estatura média, entroncado, já na casa dos cinquenta, no braço esquerdo um nome tatuado a azul, evocava o já distante Império que nunca existiu, “Guiné” por baixo uma data de que já não me lembro, boina azul ferrete na cabeça, barba cuidada e irrepreensível, pessoa calma e afável cumprimentava quase toda agente na praia, quando passava sentíamo-nos seguros, ainda assim, mais de que um vez o vi dar chapadas de mão aberta nas trombas de adolescentes galarós armados em parvos e acreditem que só se perderam as que caíram no chão.

Não vou perder tempo com descrições sobre o tempo que se perde em estacionamentos, em calcorrear quilómetros por dunas sem fim, para chegar à malfadada areia, em gente que acorda às tantas da manhã pra ir marcar lugar no areal, no tempo que se perde percorrendo estradas nacionais cheias de buracos, junto à praia tentando evitar o atropelamento do turista camelo, que segue pelo meio das ruas, atafulhado de chapéus de sol de bóias, de carrinhos de bebé como se a estrada fosse dele, evitando os passeios, porque dá uma trabalheira ir pelo passeio, depois o enjoo das fotos des pés na areia, de “sunsets” e demais tontices, dispenso-me mais comentários, porque todos conhecemos esta realidade patética.

Ainda assim constrangido pelo asco que tudo isto cada vez mais me causa, sinal de senilidade da velhice que se avizinha, salvam-se as eternas e deliciosas bolas de Berlim, que fizeram quase diariamente, valer o sacrifício de ir à beira mar, mesmo quando uma caiu à areia, demorei depois cerca de meia hora, pacientemente a esfrega-la, retirando a maioria dos grãos areia com seráfica paciência aguardando o momento de lhe ferrar o dente, salivando claro está, vivam as bolas de Berlim.

Francisco Pereira

 

 

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