ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS 2017 – E MAIS O QUE AÍ VEM ?
25-08-2017 - Armindo Bento
Há quem diga, e não sem razão “que a politica em Portugal abandonou a ideia do espirito de missão e tornou-se um generosíssimo meio de governar a vidinha “ (Batista Bastos –jornalista).
Este pensamento reflecte sem duvida o lamaçal do poder económico, politico e ideológico, sendo nada mais do que um alienação dos eleitores e a capacidade de camuflagem da generalidade dos chamados agentes políticos emparedados na ética. Os políticos portugueses são uns privilegiados.
As listas de candidatos estão entregues e a campanha eleitoral para as autárquicas de 1 de Outubro está pronta para ir para a estrada. Muita tinta vai correr no próximo mês e meio, enquanto o País vai ser calcorreado pela campanha dos múltiplos candidatos dos diversos partidos e alguns ditos “independentes” às 308 câmaras e assembleias municipais, bem como às 3092 juntas de freguesia, depois da reestruturação administrativa que comprimiu as anteriores 4260 freguesias, os cidadãos vão ser “bombardeados” com as mais inimagináveis promessas, ditas “eleitorais”,
Na verdade, de longe muitos autarcas parecem modelos de virtudes, ao perto alguns são pequenos títeres, verdadeiros “trumps” de pacotilha, chicos espertos a quem deram mais poder do que valores, que usam os dinheiros públicos para gerirem os processos eleitorais e promoverem as suas carreiras e de dos “iluminados” apoiantes.
Esta não é uma realidade exclusiva, é a que resulta do modelo de funcionamento do nosso sistema partidário, que deu lugar a verdadeiros especialistas no aproveitamento das situações, na falha das leis e no medo que num pequeno concelho todos tens dos olhos, dos ouvidos e do chicote do presidente da Câmara Municipal ou do presidente da Junta de Freguesia. Cidadão que se oponha está lixado.
Estamos plenamente de acordo com aqueles que advogam que “sendo as eleições locais políticas, são políticas as candidaturas que a elas se apresentam. As candidaturas independentes são, pois, tão políticas como as candidaturas partidárias. Ambas apresentam umas propostas e não outras, escolhem umas prioridades e não outras, farão alianças com umas forças e não com outras.”
Assim sendo, aparece com muita clareza que a importância nas eleições autárquicas de candidaturas denominadas independentes, não advêm da sua autoproclamada independência, mas sim do modo como é qualificado de independente. Há independentes de esquerda e independentes de direita, há independentes presidencialistas e independentes de base. O que não há é independentes disto tudo ao mesmo tempo. “A linha de diferenciação na democracia local não é entre partidos e independentes, é entre quem alarga a democracia e quem perpetua a deformação da prática da democracia tomando-a como jogo de elites e de iluminados. Ora, tanto nos partidos como fora deles há gente que está de um lado e gente que está do outro desta diferenciação.” (in revista Visão 10 agosto 2017 –José Manuel Pureza)
Também é verdade que o movimento de cidadãos independentes candidatos às eleições autárquicas trouxeram e trazem benefícios à regeneração da democracia e incentivam a participação política dos cidadãos, apesar do aproveitamento de que algumas figuras dos partidos ou saídas dos partidos fazem deste estatuto e de alguns políticos que usam as autárquicas para sobreviver e canibalizam o espaço e a imagem dos seus candidatos autárquicos. Nunca se organizou tantas convenções distritais e cerimónias de apresentação de candidatos, mas em quase nenhuma delas o País ouviu uma proposta autárquica ou viu a cara do respectivo candidato. Por isso "nenhum sistema é perfeito".
Reconhecemos que o poder local tem um significado peculiar e um peso específico no edifício institucional e de governação democrática do país. São as autarquias que compõem a rede através da qual, ao nível de mais proximidade, se concretiza a gestão política do território nacional. Uma proximidade que pode ser de quase relacionamento pessoal e individual. Há certamente autarcas que conhecem bem — até pelo nome próprio — muitos dos cidadãos que governam. Um grau de conhecimento pessoal certamente diverso quando falamos de regiões mais ou menos populosas.
É por isso — pela importância da especificidade das funções das juntas na gestão de aspectos que podem parecer menores, mas que são de importância central para o quotidianos das populações — que me parece incompreensível a falta de profissionalismo e o desleixo em que a lei permite candidaturas de pessoas que manifestamente não podem ter tempo nem disponibilidade para cumprirem o seu papel autárquico.
A política cada vez está melhor para quem não consegue ter uma vida profissional normal na actividade privada ou publica e que está habituada a ter a sua honra posta em causa. Óptima para os jotinhas dos aparelhos partidários e péssima para os bons profissionais que gostariam de servir a causa pública.
“as opiniões são como os pregos; quanto mais se martelam, mais se enterram”. Alexandre Dumas
Armindo Bento (Economista aposentado)
Voltar |