O MILAGRE CONTADO PELA MILAGREIRA – PARTE FINAL

12-05-2017 - José Janeiro

E pronto deixei-me de aturar catraios e desapareci do mapa. Como tinha prometido ao Chico e á Já, lá os levei comigo via pneumonia, porque levá-los a voar tipo o meu Jesus e Maomé (se bem que este subiu ao 7º céu seja lá aonde isso seja e nunca mais o vi), dava muito nas vistas e não quis espalhafatos.

Um belo dia estava a passear pelo mundo como faço sempre e ouvi a Lu, que tinha ido para um convento em Espanha a gritar por mim, enquanto desesperadamente dava umas passas numas barbas de milho estranhas, aquelas eram mais esverdeadas e tinham outro cheiro, dizia ela: Oh santinha, oh santinha aonde andas nunca mais te vi, oh santinha.

A catraia que por certo estava com outros apetites que não os milagres, mas os padres tinham medo dela e não a queriam purificar, berrava que nem uma desalmada.

Por lá apareci outras vezes tentando acalmá-la.

Ela lá vinha com a conversa do costume: Oh santinha faz lá um milagre, oh santinha e os meus primos, oh santinha e a paz no mundo, oh santinha e como vai ser - o costume.

Lá tentava acalmá-la dizendo-lhe – Oh Lu isso são calores mulher tens que apagar o fogo das entranhas – mas ela não me dava ouvidos.

Fui assistindo aquele aparato todo que se produziu ali naquele lugar aonde uns diziam que tinham visto o sol a rodar, devia ser do calor, juro que não fui eu, nem o meu Zé, nem o meu Jesus isso garanto, outros ajoelhavam-se como se eu quisesse-se essas coisa, nada disso quero é vê-los a rir e a cantar e essas coisas, enfim gente feliz era o que eu queria, mas ninguém me dá ouvidos, não fumam barbas de milho e depois não consigo explicar-lhes.

Outros andavam para lá de joelhos, depois foram construindo para lá umas casas grandes como nunca vi, se o meu Jesus visse aquilo dava-me cá um raspanete, porque ele não gosta nada dessas coisas. Até que um dia trouxeram uma estatua que diziam ser a minha cara, mas eu não me pareço nada com aquilo, nem me visto daquela forma pirosa, até que outro dia puseram para lá uma coroa de ouro imaginem lá, tiveram que furar a estatua, imaginem se eu estivesse lá dentro como já tive tentações, sim tentações porque sou santa mas sou gente, havia de ser bonito furarem-me a caçola.

Arrependi-me grandemente de ter falado com os catraios com aquilo que vi e questionava-me que raio era isto.

E vou contar-vos um segredo, podem depois dizer que é o segredo da Fátima, que é o nome lá do sítio: então vocês sabem que não fiz milagre nenhum, isto foi tudo um acaso. E não é que há gente que cobra dinheiro para pagar as promessas dos outros? Este mundo está perdido e apetece-me muitas vezes acabar com estes malucos. Há quem diga que foi o deus, aquele que eu disse que me tinha engravidado, para o meu Zé não ficar coitado a coçar a cabeça, o mesmo que inventou o manicómio redondo, gostei do gajo que disse isso teve piada.

E agora o Chico I vem contrariado cá a Fátima para fazer a vontade aos beatos, nem imaginam o que lhe vai na cabeça, ele que não é nada dessas coisas, nem queiram saber o sacrifício que o pobre homem faz para com ar serio falar desta coisa. Tenho pena dele, mas ele não fuma barbas de milho e não me vê, portanto nada lhe posso dizer não é?

Chegou a altura de vos contar outra, aquela do milagre do Chico e da Já, aquilo não foi nada assim, fui eu que corri até lá e tentei salvar o puto, o Chico e a Já como só têm 100 anos e picos não têm habilidade para correr aos chamados, eu estava mais perto e pronto lá ajudei o puto, porque dizem por aí que aos putos e aos borrachos põe deus a mão por baixo, coisas que se dizem e pronto.

Vou-me embora e vou pedir ao S. Pedro que lhes dê uma molha daquelas para verem se lavam as ideias.

Até para a semana

José Janeiro

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