Edição online quinzenal
 
Sábado 20 de Abril de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

E depois do 25 abril e do 1.º de maio

05-05-2017 - Henrique Pratas

É com alguma espectativa que aguardo ver qual vai ser o comportamento daqueles que durante, as comemorações do passado dia 25 de abril e do 1.º de maio, onde assisti a manifestações que considero significativas e importantes, onde as palavras de ordem com maior força utilizadas foram “Fascismo Nunca Mais”; “25 de abril sempre”; “A luta continua”; “Reposição dos direitos dos Trabalhadores” e outras tantas que vocês conhecem e mais outras que surgem de momento, como seja o de colocar “Fim à Precaridade Laboral”.

Gostei de ver este Povo a manifestar-se, mas questiono, porque é que só o faz nestas datas? Será que apenas têm força para o fazerem nestas alturas e andam o resto do ano, acantonados.

Sei que não é fácil manter este ritmo e conseguir congregar tanta gente como nestas alturas, mesmo assim existem alguns que optam pela praia, estes já não acreditam em nada ou pura e simplesmente estão-se a borrifar para isto tudo, o que é necessário é garantir os dinheirinhos no final do mês, como e de que forma não importa.

Mas voltando à essência que me leva a escrever este texto, sei que muitos dos manifestantes mantém a sua atividade de defesa dos seus direitos durante o ano inteiro e os restantes por onde é que andam, isto faz-me alguma confusão, estão a dormir, ou só se lembram de defender os seus direitos nestas duas datas.

Este comportamento dos cidadãos faz-me pensar que ocorre num determinado período de tempo que está institucionalizado e legalmente consagrado e depois as coisas arrefecem ou o desinteresse apodera-se dos participantes, bastante ativos nesta altura, não seria melhor continuarem durante o ano inteiro a demonstrar a sua indignação, alutar pela defesa dos seus interesses, ou será que apenas o fazem nos momentos referidos por se encontrarem legalmente suportados, muito sinceramente não entendo, assim como não entendi no 1.º, 1.º de maio de 1974, onde os PIDES também participaram na manifestação dos trabalhadores, pudera teriam que se infiltrar em algum lado e nada melhor que no meio da multidão. Em Lisboa, alguns deles deram-se mal e quando foram detetados por aqueles que sofreram na pele as suas práticas, ou fugiram ou foram apanhados e não deixaram de levar umas surras valentes, nada que se comparasse ao que faziam a quem eles entendiam prender e levar para a António Maria Cardoso, muito longe disse, comparativamente foi só um abano de orelhas, pois gozavam de um privilégio que as pessoas interiorizaram não lhes fazer aquilo que eles tinham feito às pessoas que tinham passado pelas suas mãos, era o espirito do não revanchismo e da não vingança, valor que na altura eu também partilhava, pois quando os meus colegas de Escola quiseram sanear professores que para além de incompetência e incapacidade para lecionar eram simultaneamente informadores da PIDE. Na altura opus-me ao que os meus companheiros queriam fazer, os professores encontravam-se fechados a sete chaves na sala de professores, paredes meias com o ginásio que se encontrava cheio e eu tinha todos os meus companheiros a gritar e clamar que os nomes dos professores que deviam ser saneados de imediato e a alternativa era saírem pela janela, porque pela porta nem sequer se colocava a questão. Veio à tona a natural sede de vingança e de revolta, como entendi que não devíamos tratá-los da mesma forma que eles nos trataram saltei para o palanque e consegui acalmar as hostes e disse-lhes o que pensava, que iriamos proceder ao saneamento das pessoas que nos tinham feito mal quer em termos académicos, quer em termos pessoais, mas que não iriamos ter o mesmo tipo de comportamento que eles tinham tido connosco, porque achava que o 25 de abril de 1974, não tinha sido feito para vinganças pessoais, ou retaliações desmesuradas. Consegui que esta posição vingasse e negociei e acompanhei os professores à saída, para garantir a sua integridade física.

Esta negociação não foi fácil porque assim que entrei na sala de professores, reparei que o pânico estava instalado o medo era mais do que muito, algumas senhoras, estavam completamente urinadas e alguns professores completamente borrados, no sentido literal do termo, aí fiquei preocupado porque não gostei do que vi, falei com eles e coloquei-os ao corrente do que se passava e que já tínhamos tomado a decisão de proceder ao saneamento de determinados professores cujos nomes elenquei, mas garanti-lhes que nada temessem pela sua integridade física pois eu acompanhá-los-ia, até à porta da Escola Comercial Veiga Beirão, mas providenciei também as condições, para que aqueles que estavam num estado em que precisava de fazer a sua higiene para puderem sair de uma forma minimamente digna, proporcionei-lhes o acesso ao balneário para que praticassem os atos mínimos de higiene. Entretanto volto ao ginásio onde a rapaziada estava em polvorosa e os ânimos já tinham aquecido outra vez, tinham voltado à vontade inicial, queriam que os professores saíssem pela janela, tínhamos voltado à situação inicial, aí de novo voltei a assumir a minha posição e pensei, tenho que aguentar esta rapaziada durante algum tempo, até que os professores estejam prontos, para os acompanhar à saída da Escola. Foi o que fiz, acalmei as hostes que estavam perfeitamente tresloucadas e cheias de vontade de praticar atos com os quais não concordava, o 25 de abril tinha ocorrido há dois dias e não íamos fazer uma coisa com a qual não concordava. Não foi fácil aguentar a rapaziada e depois acompanhar os professores à porta da escola garantindo a sua integridade física, mas fi-lo e posso-lhes escrever que nenhum foi beliscado.

Tudo isto a propósito das comemorações do 25 de abril e 1.º de maio, muitos daqueles que queriam que os professores saíssem pela janela, são hoje pessoas instaladas e enquadradas pelos diferentes partidos do arco da governação, eu por mim continuo com a minha opção de ficar liberto de obediências partidárias ainda que isso que traga alguns custos, prefiro estar como estou, pensar e agir como acho que devo fazer as coisas, não renegando obviamente a possibilidade de me associar a qualquer organização que perfilhe os mesmos princípios e que lute pelas mesmas causas, mas sinto-me nos dias de hoje como um lobo solitário, fiel aos meus valores e princípios e vendo ao meu lado todos aqueles mais impetuosos que teimam em surfar ondas que outros criam para proveito próprio. Não é esta a postura que entendo que seja a mais correta, mas é aquela que mais vinga na nossa sociedade e basta vê-los a serem nomeados para cargos para os quais não têm o mínimo de competências profissionais ou outros não reúnem sequer as habilitações literárias necessárias para o desempenho das mesmas.

Não é nas comemorações do 25 de abril ou do 1.º de maio que se resolvem estas situações, não é aí que se cria mais emprego e se acaba com a precaridade laboral, também não é aí que resolvem os problemas da educação, da saúde e das desigualdades sociais, elas resolvem-se, questionam-se e luta-se pela sua resolução durante o ano, estas datas apenas servem para fazer ecoar mais alto e com maior divulgação através dos meios de comunicação social.

A resolução destas e de outras desconformidades tratam-se em sede de negociação coletiva, de concertação social e ou em alternativa nos Tribunais a todos os níveis.

Espero e desejo ver as pessoas que vi nas comemorações do 25 de abril e no 1.º de maio a ter uma atitude proactiva durante o ano inteiro e não concentrar em dois dias apenas a manifestação das suas indignações e que no resto do ano praticamente não se deixam ver.

Henrique Pratas

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome