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Eles; os escravos, somos nós!

28-04-2017 - Francisco Pereira

Na sua edição de 14 de Abril, o Jornal “O Público”, trazia uma crónica do conhecido historiador Rui Tavares, versava a dita sobre a escravatura e o notável historiador inicia a sua arenga com a seguinte questão: “Quando é que Portugal finalmente fará o grande debate público que se impõe sobre a escravatura e o seu papel nela?”

O que me leva a eleger este tema não é negar, apoucar ou uma qualquer atitude revisionista primária, o que me leva a eleger este tema é a necessidade da existência de uma honestidade intelectual, que parece andar arredia dos discursos.

O papel de Portugal na escravatura, pergunta o autor da crónica do jornal. Mas de qual escravatura? Pergunto eu. O Mundo sempre teve escravos e senhores, à vez todos no Mundo já escravizaram e já foram escravos, é minha grande convicção que se existissem provas veríamos que os Neanderthal escravizaram os Sapiens e vice-versa, sempre que um grupo dominou outro pela força.

Eu sei que Tavares quer, e bem, questionar a escravatura a que foram submetidos alguns povos africanos, por parte das potências europeias, com a conivência dos reis africanos locais que sempre praticaram a escravatura dos povos que iam conquistando, que a partir do século XV, lentamente se assenhorearam da costa africana e que fizeram do trato negreiro um negócio que de 1500 até 1870 levou a que milhões de seres humanos fossem traficados, quer para a Europa, quer para o Novo Mundo e usados como mão de obra escrava, mas se é a isso que o excelente historiador quer aludir é de bom tom que o diga claramente e refaça a questão que ficaria mais ou menos assim: “Quando é que Portugal finalmente fará o grande debate público que se impõe sobre a escravatura dos povos africanos e o seu papel nela?”

Escravatura é um termo muito abrangente, não se esgota na escravidão de povos africanos, é um fenómeno que ao longo dos milénios, que levamos de civilização e do seu desenvolvimento, viu todas as raças, serem escravos para depois escravizarem. Os Egípcios escravizaram os Judeus, os de Roma escravizaram tudo o que podiam incluindo os Gregos que se escravizavam uns aos outros, os sultões Otomanos escravizavam os rapazitos oriundos da Europa, nomeadamente da Grécia, da região dos Balcãs, ou mesmo da Europa meridional, para satisfazerem os seus exércitos, os célebres Janízaros eram essencialmente escravos europeus, raptados às suas terras para servirem o sultão.

Os piratas berberes alimentavam os haréns do Oriente muçulmano com raparigas raptadas por exemplo nas costas algarvias e que mais não eram que escravas sexuais dos seus senhores, e isto não foi assim há tanto tempo quanto isso, pois essas redes de escravatura sexual mantêm-se ainda hoje.

E o que dizer de trabalhar horas a fio por salários de miséria, como sempre esse viu e está a voltar a ser moda, não é isso também escravatura, não seremos nós também escravos?

Não quero com isto discordar de Rui Tavares, acho muito bem que se discuta sobre o lugar que ocupamos na escravização de alguns povos africanos, infelizmente nesse capítulo a coisa chegou bem para lá de meio do século XX, concordo em que se discuta o nosso papel, nessa atrocidade, mas vista no contexto da época e do momento histórico, sem apontar dedos, porque senão teríamos todos de andar a pedir desculpas uns aos outros até ao fim dos tempos. As coisas foram aquilo que foram, à luz do nosso tempo, foram atrozes, mas as coisas são o que são, não se devem esconder, devem ser condenadas por atentarem contra princípios morais, éticos e humanistas, mas daí a pedidos de desculpa, a atitudes paternalistas e condescendentes vai um passo que creio não deve ser dado.

Falemos de Escravatura, exponhamos quão atroz e miseráveis foram os tempos da escravatura deste ou daquele povo, mas façamo-lo com honestidade intelectual ou como se diz aqui na terra “chamemos os bois pelo nome”.

Francisco Pereira

 

 

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