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A MAÇONARIA E O IDEAL
REPUBLICANO (I)

21-04-2017 - Pedro Pereira

Nas últimas semanas tem vindo a ser noticiado nos diversos órgãos de informação nacionais as eleições para Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, que irão decorrer em Junho próximo.

Pensamos que poderá ser do interesse do leitor conhecer a importância do papel desempenhado por essa Ordem iniciática no campo educacional, num período importante da História de Portugal (passagem do regime monárquico para o regime republicano).

Dada a extensão do artigo, publicamos a primeira parte neste número e a segunda parte na próxima semana.  

A MAÇONARIA E O IDEAL REPUBLICANO (I)

A consolidação do liberalismo institucional e a lenta ascensão do republicanismo a par da degradação partidária do parlamentarismo monárquico, bem assim como a expansão do ideal jacobino de secularização e laicização revolucionárias da sociedade portuguesa face ao catolicismo como religião oficial do Estado, conduziram à progressiva politização da Maçonaria portuguesa ao longo da segunda metade do século XIX, que culminou na instauração da República em 1910.

A Maçonaria fundamentava-se (e fundamenta-se) em princípios humanistas: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, trilogia que foi divisa e bandeira da Revolução Francesa (1789) e de outras revoluções libertadoras que se seguiram um pouco por toda a Europa e colónias de países europeus no continente americano, desde a segunda metade do século XVIII até ao século XX.

Na segunda metade do século XIX, a Maçonaria em Portugal havia atingido um extraordinário desenvolvimento. Existiam cerca de 100 lojas e triângulos e cinco mil maçons encontravam-se por todo o território nacional, incluindo Ilhas e Ultramar, assim como em colónias de emigrantes portugueses nos Estados Unidos da América, Argentina e Brasil, entre outros países.

Os seus membros pertenciam às mais diversas profissões: oficiais do exército, dignitários da Igreja, ministros, deputados, pares do reino e por aí fora, representando grande parte da elite do país.

O regime político em vigor (a monarquia liberal) propiciava a liberdade e expansão da ordem maçónica. As forças sociais e políticas eram enquadradas e as mais das vezes chefiadas por maçons.

Em 1869, o Grande Oriente Lusitano Unido deu início à publicação de um Boletim Oficial mensal, para circulação interna das lojas e triângulos.

Muito embora vários prelados católicos fossem membros da maçonaria, a qual assumia nessa época um carácter deísta, as relações com a Igreja não eram de todo pacíficas, dados os fundamentos dogmáticos desta.

Em 1899, através de eleições, dá-se avitória da revolta republicana no Porto e é celebrado o Tratado de Windsor, que garante a integridade dos territórios portugueses em África.

A 6 de Janeiro do ano seguinte é eleito Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, o General Luís Augusto Ferreira de Castro e em 9 e 10 de Abril desse ano tem lugar no Porto um congresso denominado: Conferência Maçónica, em que participaram 37 delegados de 21 lojas e 15 triângulos, que apresentaram trabalhos em representação das seguintes lojas: Exército Permanente, Loja Pureza; Paz e Arbitragem, LojaSimpatia e União; Demagogia Reaccionária, Loja Cavaleiros da Paz e da Concórdia; Separação da Igreja do Estado, Loja Elias Garcia; Vintém das Escolas, Loja Comércio e Indústria; Vagabundagem de Menores, pela Loja Liberdade; Boletim Oficial, pela Loja José Estêvão; Capital, Trabalho e Greves, pela Loja Livre Exame; Ritos, Loja Luís de Camões; Escravatura em África, pela Loja Justiça (todas de Lisboa). Ainda foram apresentadas as seguintes teses: Acção da Maçonaria, pela Loja Perseverança, de Coimbra; Socorro Mútuo e Protecção Maçónica, pela Loja Liberdade e Progresso, do Porto; Escolas profissionais de Enfermeiros, pela Loja Luz do Norte, do Porto; Preço do Trabalho, pela Loja Fraternidade, de Viana do Castelo; Analfabetismo e Educação, pela Loja Fernandes Tomás, da Figueira da Foz; Centralização de Poderes, pela Loja Viriato, de Viseu; Registo Civil Obrigatório, pela Loja Portugal, de Coimbra; Instrução do Povo, pela Loja União, do Porto; Sufrágio Universal, Loja Pátria, de Coimbra e Trabalho das Mulheres e dos Menores nas Fábricas, pela Loja Soberania Académica, de Coimbra.

Em 19 de Maio de 1906, o primeiro-ministro João Franco instaura uma Ditadura com o apoio do rei e do Partido Progressista, a qual, constituirá, sem dúvida, o rastilho que irá incendiar as hostes republicanas e carbonárias, que culminará no regicídio em 1908 e na proclamação da República em 5 de Outubro de 1910. Entretanto em 28 de Janeiro 1908 havia ocorrido uma ação revolucionária republicana, denominada «intentona da Biblioteca», que foi rapidamente abafada, tendo sido presos os seus líderes.

A 1 de Fevereiro seguinte, o rei D. Carlos I e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe são assassinados, junto às arcadas do Terreiro do Paço, em Lisboa pelos elementos da carbonária, Manuel dos Reis Buíça e Alfredo Costa. Em consequência, foi aclamado rei D. Manuel II, que saiu ferido do atentado. A situação política do país havia entrado em grave convulsão. O governo, no seu afã de calar as vozes insubmissas, atulhava as prisões de suspeitos, entre os quais, figuras proeminentes na política republicana como os maçons José Alpoim e Egas Moniz, e os maçons Egas Moniz, Alfredo Leal, João Chagas, França Borges, António José de Almeida e Afonso Costa, entre outros. Entretanto realiza-se o Congresso Nacional do Livre Pensamento, promovido pela Maçonaria e é fundada a Academia das Ciências de Portugal, de cariz Republicano.

Republicanos conquistam a Câmara Municipal de Lisboa e outras no Sul do país.

Nasce o diário sindicalista A Greve e o semanário anarquista, O Protesto.

Pedro Pereira

(continua no próximo número)

 

 

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