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O CARNAVAL DO CHEFE RAMBO

17-02-2017 - Pedro Pereira

As férias escolares de Carnaval no ano passado haviam terminado e por tal facto, no dia em que foram retomadas as aulas na Faculdade onde me encontrava instalado como professor, num intervalo entre as aulas encontrei no bar a minha colega e amiga Mariana vestida de negro, com óculos de lentes bem escuras a tapar umas olheiras que vislumbrei de lado a caírem-lhe pelo rosto pálido de cera, ensimesmada, dando passas nervosas no cigarro e tragando pequenos golos de café.

Sentei-me ao seu lado.

Meti conversa perguntando-lhe como é que tinha sido o Carnaval na cidade onde residia, a uns trinta quilómetros da cidade onde estávamos e se os óculos escuros escondiam uma ressaca resultante das noites de folia carnavalesca ou eram restos mal resolvidos no dia de cinzas. Respondeu-me sem olhar de frente:

- Antes fosse por alguma dessas razões!

Passou então a relatar-me os motivos das olheiras e da má disposição evidentes:

- Como sabes, tenho um namorado por lá, o Tony. É meu vizinho e namoramos há vários anos, aliás, até já estamos noivos. É chefe da polícia e possui diversos louvores porque de vez em quando deita a mão a assaltantes e sobretudo a traficantes, e tem feito grandes apreensões de droga, de tal ordem que lá na terra é bastante conhecido, famoso, vê lá tu que até lhe chamam o chefe Rambo!

- Sabes… tem um faro especial para apanhar bandidos, é o que é...

- Acontece, no entanto, que no dia de Carnaval «borrou a pintura».

Andava muita gente mascarada pelas ruas, entre elas um amigo meu de infância, o Afonso, que é um tipo porreiro e sempre bem-disposto. Todos os anos, desde que me lembro, ele mesmo fabrica a sua máscara carnavalesca, geralmente com muita originalidade e humor. Este ano resolveu construir um falo da sua altura que até incluía os colhões a taparem-lhe os pés. Meteu-se dentro dele à justa e na tola abriu três buracos, dois para os olhos e um para a boca para poder respirar. Estava muito giro, só se viam os pezinhos a andar!…

- As pessoas riam-se à brava e ninguém levava a mal. Estava bem feito e não era ofensivo. Uma verdadeira peça de arte.

Aqui a Mariana fez um esgar que não foi mais do que uma vã tentativa de sorriso.

- Entretanto, o meu namorado (que estava de serviço) acompanhado de um colega passou por ele num carro patrulha junto ao jardim que fica à beira do rio. Travou bruscamente e saiu dele a berrar que nem um possesso com o Afonso, intimando-o a sair de dentro do falo porque o mesmo era um atentado público ao pudor.

Entretanto o Afonso revirava os olhinhos e mexia os pés balançando o falo, para gáudio das pessoas que assistiam à cena, incluindo eu que estava acompanhada por amigas. Todos nos ríamos.

- Teimoso, recusou-se a sair de dentro da máscara e quanto mais o meu namorado o ameaçava, mais o Afonso agitava o falo para trás e para a frente e, é claro, mais pessoas se juntavam e riam desalmadamente com aquele quadro.

- Outras pessoas, revoltadas com o meu namorado, berravam coisas do género: «se fosse um ladrão não o chateavas!», «deixa o moço em paz!», «a polícia só tem jeito para merdas destas!», «é Carnaval e ninguém leva a mal!», «deixa o caralho sossegado!» e outras expressões de indignação.

- Como o Afonso teimou em continuar dentro do falo, o meu namorado, furioso, foi à bagageira do carro patrulha, tirou de lá uma corda, atou-a a meio do falo e porque este não cabia dentro da viatura disse ao colega para ir andando que ele levava o facínora a pé para a esquadra.

- As pessoas que assistiam aquele espetáculo (entre elas, eu e as minhas amigas) que era o meu namorado a rebocar o falo com uma corda, onde se destacavam os pés do Afonso a dar passos miudinhos apressados, riam-se perdidamente. E foi assim todo o caminho assim até à esquadra acompanhado pelos foliões. Um espetáculo!

- Quando lá chegaram, foi com dificuldade e à força que o meu namorado e os outros colegas puxaram o Afonso de dentro do falo. Identificaram-no, preencheram papeladas, mandaram-no embora e acho que o rapaz agora tem de ir a tribunal, eu sei lá...

- À saída, pediu para lhe devolveram o falo. Recusaram encaminhando-o para a porta da rua dizendo que ficava apreendido a favor da fazenda pública.

Quando disseram isso, o Afonso, coitadito, uma joia de rapaz, com a generosidade que lhe é característica respondeu que achava bem. Uma vez que era para a fazenda pública, oferecia-lhe o caralho com muito prazer.

- Mas a parte mais desagradável disto tudo, e por isso estou furiosa com o Tony e não lhe falei desde então, é que esta história desde então transformou-se no falatório, na conversa do dia lá na terra e como calculas a risota é permanente em todo o lado onde eu vá.

Mas pior ainda, desde então as pessoas já não se referem ao meu namorado como o chefe Rambo. Agora chamam-lhe o «chefe do caralho».

Pedro Pereira

 

 

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