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A TRAMPALHADA

10-02-2017 - Pedro Pereira

No decorrer da campanha eleitoral para as presidenciais norte americanas de que saiu ganhador Donald Trump, as notícias dominantes nos meios de comunicação social aparentavam-se ser fabricadas numa república bananeira. Salientava-se o unanimismo e a afinação pelo mesmo diapasão entre os referidos órgãos informativos relativamente a um único candidato, ou antes, à candidata Hillary Clinton.

A informação transformou-se em propaganda.

A etapa seguinte destes meios de informação associados, consistiu no bombardeamento noticioso questionando a legalidade e legitimidade das eleições realizadas, acusando inclusivamente a Rússia de ter interferido no processo eleitoral através de meios informáticos, o que terá alegadamente contribuído para a vitória de Trump.

Entrementes, no decorrer da campanha, a banda oponente a Donald Trump na disputa eleitoral foi lançando avisos de que caso perdessem as eleições tornariam a vida do vencedor num inferno. Está quase lá…

Na verdade, o papel da comunicação social americana tem sido fundamental enquanto porta-voz do pensamento único e do politicamente correto ao serviço da ditadura financeira desde há umas décadas.

Ora o capital não tem pátria nem sentimentos, para além do ardente desejo do lucro sem olhar a meios.

Acontece que ao longo da campanha Trump afirmou reiteradamente que: «não estou competindo contra Hillary, mas sim contra os meios de comunicação corruptos».

Sintomaticamente sabe-se que se por detrás de Hillary Clinton se encontra George Soros, o maior especulador financeiro do planeta, em contrapartida não se sabe quem está por detrás de Donald Trump e isso preocupa meio mundo.

Como seja, a sua vitória veio provocar um verdadeiro terremoto no cenário político e social dos EUA, cujas ondas de choque se vêm fazendo sentir por todo o mundo com consequências imprevisíveis a curto e médio prazo, incluindo no Médio Oriente onde Obama acolitado pela senhora Clinton criou e sustentou o Daesh e o Isis, bandos de facínoras fundamentalistas muçulmanos que agora ficaram órfãos e sem financiamento.

O discurso nacionalista de Trump é motivo de preocupação quer pelos seus opositores nos EUA, quer por governos e por muita gente em todo o mundo. O efeito Trump acelerou a vaga nacionalista que desde há uns anos vem crescendo exponencialmente por toda a Europa, que irá ter consequência bem visíveis nos mapas políticos das governações de vários países no decorrer deste ano de 2017.

Ressalve-se que o presidente eleito não profere nada de novo quando diz: «a América para os americanos», dado que já nos alvores do século XIX, em 1823 o seu antecessor James Monroe o havia afirmado, doutrina que desde então e até Bill Clinton fez escola por banda do establishment político dos EUA.

Estribados num forte nacionalismo e imperialismo, os EUA têm ao longo da sua história empreendido guerras de conquista que lhes permitiu aumentar a dimensão do seu território, como é o caso do Novo México por exemplo, incorporado em 1848 na União no final da guerra Mexicana-Americana, prática de agressão bélica continuada no século XX (guerra do Vietnam, do Iraque, do Afeganistão…), para além de diversas incursões punitivas e de presúria em diversos países do globo.

O sistema financeiro capitalista americano está concebido para se perpetuar no poder, necessitando para tal de se expandir continuadamente, sem o que não sobreviverá. O que menos lhe importa, portanto, são as pessoas.

É o caso do «muro da vergonha». A sua construção começou em 1994 durante o governo de Bill Clinton (um democrata), foi continuada por George W. Bush (um republicano) e aumentado por Barack Obama (um democrata), de acordo com o programa anti-imigração ilegal denominado de «Operação Guardião». Hoje em dia essa construção estende-se por 1130 quilómetros. Além disso o muro é formado por três barreiras de contenção, detetores antipessoais de movimentos, sensores eletrónicos, câmaras de visão noturna, contínua vigilância policial e militar, e por aí fora. Entretanto, outras secções desta barreira foram erguidas nos estados do Novo México, Arizona e Texas. Logo, Trump nada adianta de novo nesta matéria quando diz que vai prosseguir a construção do muro em mais extensão, um colossal «monumento» segregacionista «acarinhado» tanto por presidentes democratas como republicanos.

Donald Trump não foi, decididamente, o fautor do descontentamento e da revolta que grassa por parte de milhões de seres humanos nos EUA e na Europa, cansados do mau viver criado pela ditadura do pensamento único imposto pelo sistema capitalista financeiro, que conduziu à globalização desumanizada em curso.

Este modelo está falido, como é evidente na crise económica generalizada que já leva mais de oito anos encurralada num beco sem saída.

Os portugueses bem o sentem na pele…

Paradoxalmente, as intervenções de Trump e da extrema-direita europeia podem (e devem) constituir um desafio para os povos lutarem por ter governos verdadeiramente democráticos. Urge que sejam tomadas medidas coletivas que ponham fim ao atual paradigma político nos EUA e na Europa, cujos países possuem arremedos grosseiros de governação dominados por «mangas-de-alpaca» ao serviço de multinacionais financeiras que mandam e desmandam despoticamente nas nações. E chamam-lhes eles a este estado de sítio: «democracias».

Trump afirmou que vai «tirar o poder a Washington e dar o poder ao povo». Para tanto, criou uma equipa cujo cimento que a une é o facto de ser constituída por multimilionários bem-sucedidos, e fundamentalistas de direita sem experiência em cargos de administração pública, o que é extremamente preocupante para os americanos e para o resto do mundo, atendendo à influência dos EUA na política e na economia internacional…

O novo presidente chega ao poder num país mergulhado numa crise sistémica, cujos verdadeiros contornos são por ora de difícil avaliação, dado que têm sido camuflados pelas anteriores administrações com o apoio da comunicação social e agências de informação domesticadas. De entre os contextos graves que são do conhecimento da maior parte dos norte-americanos destacam-se a dívida pública (incontrolável), que é superior a 60% do PIB, numa altura em que o dólar é questionado como moeda de referência nas transações comercias internacionais; a taxa de desemprego de 5%, correspondente a 7,5 milhões de indivíduos; muitos mais milhões de pessoas estão afundadas na miséria vivendo com menos de 2 dólares por dia; cidades fantasma, como Detroit (outrora capital da industria automóvel) estão hoje repletas de fábricas abandonadas, etc., etc..

São estes fatores que levam Trump a afirmar que vai dar prioridade ao mercado interno e à indústria da construção e de infraestruturas, sabendo que este é o sector que mais mão-de-obra ocupa. «Vamos produzir na América e consumir produtos americanos». Esta afirmação de Trump já teve como resultado o cancelamento por banda da Ford do investimento de 1,6 biliões de dólares no México, indo fazê-lo nos EUA, para além da Aple que pelo mesmo caminho vai investir 3 biliões de dólares nos EUA em detrimento da China como havia programado.

É evidente que a ditadura do capitalismo financeiro vai fazer guerra a Donald Trump. Afinal está a estragar-lhe as margens de lucro obtidas nos investimentos asiáticos onde há mais de duas décadas vem explorando a mão-de-obra local ao preço da chuva, nas regiões para onde há muito que deslocaram as suas fábricas.

Nesta história americana não há santos nem pecadores. Há… americanos.

É bom que os portugueses não se distraiam com a propaganda que vem de lá e comecem (quem ainda não começou) a preocupar-se com o que se passa dentro das suas portas: Portugal.

Como seja, um novo paradigma civilizacional encontra-se em curso, para o bem e para o mal. O mundo que conhecemos até hoje está em mutação acelerada sem que (em boa verdade) consigamos descortinar o seu destino próximo.

Pedro Pereira

 

 

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