Edição online quinzenal
 
Segunda-feira 6 de Maio de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

O RETRATO DE UM TRAIDOR(A)

30-12-2016 - Pedro Pereira

Ao longo da sua vida o leitor já se confrontou ou foi alvo dos atos de um traidor? Se tão infausto ocorrido ainda não lhe sucedeu, considere-se uma pessoa feliz, porque a TRAIÇÃO é um ato associado à falta de ÉTICA, de LEALDADE, de SOLIDARIEDADE, de PRINCÍPIOS, entre outros atributos que devem ser apanágio de todos os Homens e Mulheres de Bem.

Acautele-se, porém, porque nos dias que correm o traidor(a) espreita em cada esquina da sua (nossa) vida, é esta sinistra figura que subservientemente gere a vida quotidiana que nos rodeia, ao serviço de sinistras criaturas (incluindo governantes) corporações e outras associações de malfeitores. 

O traidor geralmente trabalha num departamento ou serviço do Estado, principalmente nas autarquias, mas também no setor empresarial público ou privado, onde desempenha tarefas rotineiras, cumprindo horários regulares ou escapando deles através de estratagemas sem que os superiores hierárquicos do local onde exerce a sua atividade se apercebam. No entanto, aparentemente obedece a regras e agrega um certo nível de propósito e ambição ao trabalho. 

Uma das mais sinistras ironias do traidor é que o seu (aparente) excelente desempenho no local de trabalho, invariavelmente, tem por objetivo disfarçar o conturbado lado da sua vida pessoal e/ou familiar, além de o ajudar a conseguir promoções que o podem elevar a patamares onde tenha acesso a informações altamente confidenciais para delas fazer uso principalmente através de chantagens, sendo que o dinheiro e o ego são outros fatores a ter em conta na natureza deste género de criaturas mal fadadas.

Aparenta e proclama ser possuidor de apurado senso de honra e integridade pessoais, aliados a um relativo senso de humor. É medianamente inteligente e possui uma relativa capacidade de interação laboral com outros seres humanos. Para os seus superiores hierárquicos é um ótimo funcionário. Faz fotocópias de todos os documentos que «agarra à unha» e é exímio em todo o trabalho burocrático. 
O lamentável, para os seres humanos em geral, é que estas espécies de indivíduos tendem a ver o mundo de acordo com as aparências… 
Para conseguir algumas vantagens, o traidor apresenta às pessoas uma versão bem editada de si mesmo. 

Existem quatro tipos de traidores:

- O tipo um, é o espião que é escolhido por um esperto recrutador e cujo potencial é testado (têm acesso a informações confidenciais ou outras informações valiosas);

- O tipo dois, é o voluntário. Esta é uma criatura que tem acesso a informações confidenciais e que normalmente já possui alguma experiência em espionagem, o que lhe permite oferecer os seus serviços a quem lhe pagar mais ou oferecer benesses materiais e sociais;

- O terceiro tipo de espião, é o agente de longa data ou dissidente da estrutura, normalmente recrutado na sua juventude (incluindo nas juventudes partidárias onde proliferam como piolhos) que na época de seu recrutamento foi afastado das informações sensíveis que os seus contatos desejavam, tendo decorrido vários anos até atingir uma posição vantajosa;

- O quarto tipo, é alguém que faz espionagem para um serviço secreto, partido político, serviço do Estado e/ou empresa pública ou privada, mas acaba por ser convencido pelo seu contato de que está a trabalhar para um outro poder. A isto comumente se chama recrutamento de identidade falsa. 

Como é que um espião-mestre atrai um futuro colaborador-espião? - Por meio de recrutamento é a joia da coroa de qualquer serviço secreto, partido político e/ou serviço de espionagem dentro do setor empresarial público ou privado. O cuidado envolvido no recrutamento depende em larga medida do tipo de informação secreta à qual o traidor em potência tem acesso. O recrutamento consiste em vários patamares:

- Identificar o tipo de informação que deve ser obtida; o tipo de pessoas que tem acesso à informação; quem, entre estas pessoas pode ser abordado com segurança e, por último, definição de um alvo. Assim, o encarregado de caso verifica a informação operacional que acumulou sobre o seu alvo, incluindo extensão de contratos sociais e familiares, clubes e associações, redes sociais na internet, hobbies (especialmente os que incluam atividades em grupo) e os vários serviços pessoais utilizados por ele, desde as relações com funcionários diversos a médicos, dentistas e outros. O foco deve estar nas fraquezas do alvo que é escrutinado. De todos estes aspetos, a ideologia é atualmente descartada, excetuando nos casos em que o alvo é afeto a partidos da extrema-esquerda ou da extrema-direita.

A coerção acaba sendo um fator de importância quando o traidor entrega os primeiros documentos que roubou, ou coleta informação sensível que entrega ao seu superior. O que pode levar esse seu superior a ocultar/camuflar as suas experiências escolares passadas, as suas atividades e ideologias, os seus amigos íntimos, as suas velhas lealdades e vínculos de um passado longínquo e/ou recente.

Um dos mitos mais comuns sobre os criminosos é que são pessoas como nós, que tiveram o azar de cair uma vez na vida, que por infelicidade caíram de novo uma ou mais vezes, até que foi tarde demais para voltarem atrás e viverem como seres humanos respeitadores da lei, das regras e dos princípios éticos e morais por que se devem reger e aparentemente (ainda) vigoram nas sociedades.

Ora isto é absolutamente incorreto, pelo menos de acordo com proeminentes e respeitados psicólogos, psicanalistas e psiquiatras especializados em personalidades criminosas. Assim, de acordo com estes especialistas, os criminosos são pessoas que de forma alguma pensam como o comum dos cidadãos. Para eles, ser um criminoso não implica em que grau o é, mas em que tipo de comportamento ou pensamento se encontra. 

Se olharmos para a vida de um traidor, facilmente concluímos que muito antes do final ocorre a dissidência fatal. O traidor tem atrás de si uma vida inteira de pequenas dissidências e desonestidades, de um sentimento geral de superioridade em relação às regras, de desprezo pela decência comum e pelo que é bom e digno no ser humano, numa exaltação de si mesmo em detrimento das outras pessoas. 
Ressalve-se, no entanto, que muita gente fracassa na escola, provêm de lares infelizes, ou são possuidores de complicados problemas psicológicos, não obstante, são incapazes de trair os seus semelhantes.

Neste sentido, que elementos são adicionados ao caráter dos traidores que os distinguem dos outros seres humanos?

- Para além de tudo, um traidor é uma pessoa que acredita poder satisfazer os seus caprichos, impulsos e apetites, independente das consequências. O traidor não se preocupa em ponderar da natureza do seu caráter e, tal como outros criminosos, apresenta a tendência para se ver a si mesmo como o centro de todas as situações, nunca apenas como «mais uma roda de uma engrenagem». 

Ao entrar numa sala cheia de gente, o traidor olha para os comuns mortais com um misto de «compaixão» e desprezo e invariavelmente reflete: «Eis aqui um grupo de imbecis, sem qualidades para serem alguém na vida».

Por causa da exagerada noção de suas capacidades, o traidor vê-se a si mesmo como o mestre de algum grupo invisível. Nunca se vê como uma pessoa que tem obrigações, ou que tem que reportar os seus atos a alguém. Devido à sua fraqueza interior, à sua falha de caráter, o traidor tem necessidade de sentir-se, no quotidiano, no controlo das situações, o que não obtém por meio de competição justa, mas por meio de ações furtivas e desonestas. 

O traidor acumula informações, documentos e bens materiais a seu favor sem que os outros saibam, pois o seu sigilo confere-lhes uma sensação de superioridade e de mestria. 

O traidor gosta de enganar pessoas e aprecia o fato de que os outros não estejam conscientes das sinistras intenções por trás da fachada benigna que ostenta. 

O traidor, como muitos criminosos, é um dissimulador tão magnífico que seria capaz de ensinar a mudança de cores a um camaleão. 
Todo o traidor aparenta ter uma ambição a ser alcançada e destaca-se por defender a auto imagem exaltada. 

No traidor, a necessidade de obter distinção é distorcida e inescrupulosa. Existe desespero envolvido, como se tivesse que ser tudo para não ter que acabar em nada. O objetivo final de conquista para dar significado à vida, acaba por se perder.

Enquanto o caminho para a realização de uma pessoa comum é bastante simples:

- Aplicar esforços e recursos disponíveis para resolver problemas, o traidor, como o criminoso, não possui a firmeza de caráter necessária ao crescimento gradual e, por isso, almeja começar do topo. Quando descobre que isso lhe é negado cai em fantasias de grandiosidade. Não importa o crime cometido pelo traidor, ele pode até reconhecer que a sua ação tenha sido criminosa, mas jamais se verá a si mesmo como um criminoso. 

Um traidor jamais sente remorsos. É sua convicção de que não necessita de defender o seu comportamento perante a sociedade ou o seu círculo familiar. Conclui-se assim, que todo o ato de traição é uma opção individual.

Pedro Pereira

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome