Afinal quem Governa?

23-12-2016 - Henrique Pratas

Apesar de eu ter alertado quem de direito, assistimos a um episódio triste, na minha opinião, na passada sexta-feira, 16 de dezembro de 2016.

Para os menos atentos recordo que a CORNOCÓPIA, cooperativa de teatro, criada há 40 anos, ou seja logo no ano seguinte ao 25 de abril de 1974, anunciou que iria levar à cena a sua ultima peça de teatro, por razões financeiras, estão financeiramente estrangulados como tantos outros quer sejam organizações ou pessoas.

Toda a gente tinha conhecimento do facto ele foi anunciado publicamente, perante isto assistimos à “antecipação “ por parte do Presidente da República e nessa mesma sexta-feira deslocou-se à CORNOCÓPIA para falar e ouvir as pessoas que lá trabalham no sentido de encontrar uma solução para a situação, não é aceitável que se deixe morrer um espaço como este que durante 40 anos divulgou cultura através da modalidade de teatro aos portugueses e que raio não temos assim tantas Companhias de Teatro para nos dar-mos ao Luxo de perder uma entidade que tanto trabalho desenvolveu culturalmente.

Eu não tinha conhecimento mas temos um Ministro da Cultura, que em vez de debater e tentar encontrar uma saída para a situação se preparava para viajar para o Norte do País, com o pretexto de ir fazer uma inauguração não sei do quê, mas para o caso vertente também não interessa muito.

A meu ver o Ministro da Cultura esteve mal, porque não devia ter concordado em estar presente da inauguração de um evento que julgo ser da máxima importância, sabendo do anúncio que a CORNOCÓPIA fez, em meu entender ele deveria ter ficado por Lisboa e logo na sexta-feira de manhã cedo deveria ter tomado a iniciativa de procurar uma convergência com os cooperantes da CORNOCÓPIA, não o fez e o senhor Presidente da República não se fez rogado, antecipou-se e a meu ver bem. Tendo jurado fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa e fazer questão de ser o Presidente de todos os Portugueses, deslocou-se para o centro da borrasca enquanto o Ministro anunciava que não poderia estar presente porque supostamente teria uma inauguração no Norte.

A conversa já ia longa entre o Presidente da República e o Lindley Cintra, porta-voz da CORNOCÓPIA, quando surge o Ministro da Cultura que eu não sabia que existia, mas socorrendo-me dos meus arquivos encontrei a personagem que substituiu João Soares, anteriormente Ministro da Cultura deste Governo que por razões de “competência” se demitiu e como é raro num Governo Português existir um Ministro para a Cultura, porque “kultura” é coisa que não nos falta para quê ter um Ministro nesta área.

O senhor Presidente da República esteve muito bem, contrariamente ao Ministro com a pasta da Cultura, que deveria por todos os meios que tivesse à sua disposição evitar que semelhante episódio ocorresse.

O Presidente da República faturou pontos a seu favor, o Governo liderado por António Costa, representado pelo ilustre Ministro da Cultura ficou-se nas covas como se costuma dizer e deixou que no espirito dos cidadãos se desenvolva a noção de que quem Governa é o Presidente da República e não o Governo.

Isto só pode acontecer porque a formação do Governo não foi feita tendo em consideração as competências, o profissionalismo, o sentido de estado, a visão e a estratégia dos membros que o compõem.

Eu não tenho idade, nem nunca terei, para dar conselhos, sugestões essas sim, senhor Primeiro-Ministro se quer continuar a ser Governo e demonstrar que o seu Governo é uma alternativa credível não se deixe levar por pessoas que não estão preparadas para o exercício das funções de Estado, não se deixe levar pelas influências, cunhas ou outras formas pouco objetivas na escolha dos membros que compõem o seu Governo porque corre o sério risco dos portugueses deixaram de acreditar em si, nas suas boas intenções e na competência do seu Governo.

Henrique Pratas

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