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Foi assim que Trump venceu

18-11-2016 - Francisco Pereira

(Parte Primeira)

Muita gente se pronunciou durante esta semana que passou sobre os estados Unidos da América. Falaram da América gloriosa de Hollywood, da América sofisticada de Manhattan e da América desbragada e descomprometida de São Francisco, falaram essencialmente de uma América urbana, culta e cultora de ideais de democracia, de diversidade cultural e de direitos humanos.

Essa é a América a que a grande maioria dos europeus estão habituados, é a América apesar de tudo culta, educada, tolerante e moderna, vemo-la em Nova Iorque, em Bóston, em Los Angeles ou em São Francisco, no entanto essa não é a América, esse é só uma parte da América, a outra, aquela que deu a vitória ao senhor Trump, é a uma América, para nós, quase desconhecida.

Ecce Americanae diria um novo Pilatos. E quem são esses americanos? Quem é essa América? Essa outra América desconhecida é a América do «Rust Belt», do «Bibble Belt», do Ku Klux Klan e dos grupos semelhantes, dos «Rednecks e do White Trash e da «Mason-Dixon Line» essa foi a América que elegeu o senhor Trump.

Nos idos dos anos quarenta do século XIX, os Estados Unidos, viam uma já crescente economia industrial e de manufactura a Norte, por outro lado, uma economia esclavagista agrária a Sul, o acumular de tensões políticas, o contraste social e cultural entre Norte e Sul, vinte anos depois, trariam a Guerra da Secessão que devastaria essencialmente os Estados do Sul.

Por volta de 1845 surge o «Manifest Destiny», o que começou como um termo utilizado pelo jornalista John L. O’Sullivan, num artigo que escreveu apoiando a anexação do Texas, começou a ser utilizado com conceito político, que tanto Democratas como Republicanos utilizaram para promoverem a ida para o Oeste, basicamente a ideia que esse conceito explanava era que Estados Unidos não só poderiam, mas estava destinados a explorar, conquistar e anexar todos os territórios que estivessem entre a costa do Atlântico e a costa do Pacífico, apoiados neste conceito, os americanos da costa atlântica serão impelidos por esse novo mundo de oportunidades económicas e afã evangelizador de notar que a religião foi sempre muito importante na história dos EUA, desde o «Mayflower Compact» de 1620 dos «Pilgrim Fathers» os primeiros colonos, documento esse escrito antes de desembarcarem e que deveria reger a colónia que iam estabelecer, que estenderá a sua influência até à Constituição de 1776 que funda os EUA, o aspecto religioso esteve sempre presente dando em larga medida origem aos vários genocídios dos povos indígenas e à guerra com o México, desse modo guarnecidos da autoridade politica e religiosa cumpria-se assim o «Manifest Destiny», os EUA eram uma nação una e indivisível do Atlântico ao Pacífico.

Com a Guerra da Secessão, a economia de guerra fez nascer nos estados do Norte já altamente industrializados uma maior dinâmica de industrialização, que vai crescer durante as últimas décadas do século XIX, seguindo de vento em popa até aos anos 90 do Século XX, altura em que começa o declínio, impelida essa dinâmica pelo permanente estado de guerra, decorrente do papel de polícia global que os EUA desempenham, nascia assim o chamado «Rust Belt», o Cinturão da Ferrugem, sinónimo do operariado industrial.

O «Rust Belt», começa de Nova York, estendendo-se pelos estados da Pennsylvania, West Virginia, Ohio, Indiana, Michigan, Illinois, Iowa,Wisconsin, e partes da Nova Inglaterra. Uma cintura industrial, que concentra a indústria pesada norte-americana, actualmente num declínio acentuado, com graves problemas sociais e económicos é o local onde se encontramos uma cada vez mais empobrecida e falida classe média operária que foi o “core business” da América.

Esta grande massa de descontentes, de gente em perda, de desiludidos, votou em Trump, falamos de uma classe média baixa, pouco dada à cultura, bastante xenófoba, apesar das suas muitas e variadas origens, desde sempre tendencialmente isolacionista, que respondeu ao repto demagógico de Trump “Let’s make América great”, o descrédito da Democracia e da modernidade, afectaram esta faixa populacional para além daquilo que os politólogos e especialistas poderiam prever, esta parte da América, não vê Jay Leno, Conan O’Brien ou Jimmy Fallon nem sequer os Simpson, não se interessa por nada que não seja americano, esta população têm sido esquecida por uma classe política que agora pagou caro esse esquecimento, em especial o partido Democrata.

(continua…)

Francisco Pereira

 

 

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