OS ANOS DO FIM
18-11-2016 - Francisco Garcia dos Santos
Antes de mais, quero partilhar com o Eduardo Milheiro, bom amigo e companheiro de “andanças políticas”, “dono” e director deste notável e tão meritório “espaço de liberdade” que é “O Notícias de Almeirim”, e com quem me honra lendo o que escrevo, a coincidência destas “linhas” serem publicadas no dia de mais um meu aniversário.
A todos vós um grande “bem-haja”!
Nos idos da década de “70” do século passado, pouco depois de 25 de Abril de 1974, Jaime Nogueira Pinto, que na minha juventude conheci pessoalmente e com quem mantive algum convívio, escreveu e publicou uma obra histórica que, não obstante pelo próprio ser hoje “tida” por “datada”, é algo que vale a pena ler por quem se interessa por política, pois retracta, de um ponto de vista “ideológico de direita”, o estertor do Estado Novo salazarista e a “morte súbita”, se bem que “anunciada”, da “primavera marcelista”, a qual se denomina “Portugal -os anos do fim”.
Relembrando o título de tal obra, ocorreu-me, com a devida vénia, semi-plagiar o mesmo para intitular estas “linhas”.
Nasci e vivi quase toda a minha infância sob Salazar e Caetano, tendo assistido ao “25 de Abril” no início da puberdade.
A partir de então despertou em mim o interesse pela política.
Devido às minhas origens no seio da alta burguesia rural alentejana, terratenente católica apostólica romana do século XIX, e que, graças a Deus, não se tentaram a esbanjar “cabedais” para comprarem a Suas Majestades títulos nobiliários, para serem, como diria Garrett, cães feitos barões ou viscondes d´onde, não poderia, ab initio ser algo que não “direitista sociológico” e “reacionário”.
No PREC (processo revolucionário em curso) iniciado em 25 -04-1974, ou se se quiser com a “intentona spinolista” de 11 de Março de 1975, e terminado em 25 de Novembro desse último ano, militei, quer no Alentejo como em Lisboa, no então PPD -Partido Popular Democrático de Sá Carneiro (depois PSD-Partido Social Democrata); “desci” com Vera Lagoa a Av. da Liberdade na Capital; empenhei-me nas campanhas eleitorais da AD-Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Telles.
Após as mortes de Sá carneiro e Amaro da Costa, e consequente dissolução da AD já com Pinto Balsemão, desiludido, desliguei-me da acção político-partidária, concentrando-me em ouvir “metres” e a ler obras filosófico-políticas com vista à minha “doutrinação”. E assim me tornei um “direitista ideológico”, máxime “nacional revolucionário”, prosseguindo a intervenção cívico-política por outras formas ou meios.
Contudo, durante anos, jamais deixei de ter moderada esperança num futuro melhor e, se possível, contribuir para a sua construção em Portugal.
Retomando a moderada esperança, por que a não deveria ter?
Afinal, na 2ª metade da década de “80” e 1ª de “90” do século XX, Portugal e o Mundo conheceram o seguinte:
- as revisões da Constituição da República Portuguesa de 1982 e de 1989, respectivamente, terminaram com a “encapotada” ditadura militar do Conselho da Revolução (supremo órgão político do Estado, não eleito democraticamente e constitucionalmente imposto à Assembleia Constituinte de 1975 pelos militares revolucionários de 25 de Abril de 1974), substituindo-o pelo Tribunal Constitucional então criado, bem como a “transição para o socialismo” prevista na C. R. P., proporcionando uma verdadeira economia de mercado de moldes “ocidentais”;
- a estabilização democrática do regime republicano semi-presidencialista (ainda que mitigado) e de governo com origem parlamentar, com as “maiorias absolutas” do PSD e então seu líder e Primeiro Ministro Cavaco Silva;
- a Oriente, sob o Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês Deng Xiaoping (1978-1992), “sucessor” de Mao Tsé Tung, iniciou-se a efectiva “abertura” política ao Ocidente e foi criado o “socialismo de mercado”, hoje conhecido por “um país, dois sistemas” (Hong Kong, Macau e Taiwan, com sistemas de governo mais ou menos democráticos e economias capitalistas, em “convívio” com a autocracia política e economia “socialista” da China dita “continental”;
- mais a Ocidente, porém no Leste europeu, a União Soviética conhecia a “glasnost” e a “perestroika” sob a presidência de Mikhail Gorbachev (1988-1991), implodindo em 1991 após a “queda do Muro de Berlim” e dissolução da aliança político-militar denominada “Pacto de Varsóvia”, que “formalmente” terminou com a “Guerra Fria”, e já com Boris Iéltsin (1991-1999) foi instaurado na Federação Russa um sistema de governo “democrático” e uma “economia de mercado”, dando continuidade a tal o seu sucessor Vladimir Putin (ora Presidente, ora Primeiro Ministro, e assim sucessivamente, tendo já por “delfim” Medvedev);
- na Europa Central, o Chanceler da então República Federal Alemã Helmut Kohl (1982-1998) “reunificava” as duas Alemanhas em 1990;
- mais a Oeste, François Mitterrand (1981-1995) presidia a uma França aparentemente sem problemas sociais, salvo percalços terroristas como, a título de exemplo, os atentados do Verão de 1986 em Paris, atribuídos à Jihad Islâmica e ao Comité de Solidariedade com os Presos Políticos do Médio Oriente, os quais, por à data lá me encontrar de férias, vivi de forma intensa;
- no Norte Europeu, isto é, no Reino Unido, Margaret Thatcher (1979-1990) “domava” os sindicatos e instituía o “capitalismo popular”;
- nos Estados Unidos da América o Presidente republicano Ronald Reagan (1981-1989) “devolvia” aos seus compatriotas o orgulho de serem americanos, mediante incremento do respectivo poderio económico e militar;
- nas então Comunidades Europeias (depois Comunidade Europeia e finalmente União Europeia), Jacques Delors Presidente da respectiva Comissão (1985-1995), quiçá visionário herdeiro de Jean Monnet (1888-1979) e de Robert Shuman (1886-1963), tidos por uns dos “pais da Europa”, a qual remonta ao tratado de Roma de 1957, alargava a mesma a Espanha e Portugal em 1986, da qual já faziam parte, e por mera ordem alfabética, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Holanda, Itália, Luxemburgo, Reino Unido e República da Irlanda;
- por fim, mas nada despiciendo, na Santa Sé pontificava/reinava o Papa João Paulo II (1978-2005), hoje para os católicos apostólicos romanos S. João Paulo II, cuja influência carismática no seio da Cristandade e na política internacional foi inegável -isto para além de ter encetado “reformas” na Igreja com vista à sua adaptação ao Séc. XXI.
Após esta algo extensa resenha do meu passado cívico-político e histórica europeia e mundial, “centrada” na 2ª metade da década de “80” e 1ª metade da década de “90” do Séc. XX, reafirmo que nesses tempos, no vigor dos meus “20 anos”, era moderadamente optimista face ao futuro de Portugal e do Mundo, acreditando, talvez de forma ingénua, que volvidos 30 anos tudo seria melhor.
Porém, definitivamente enganei-me!
Acreditei que o legado de todos esses grandes líderes políticos seria acolhido e prosseguido/acrescentado pelos que se lhes seguissem, mas assim não foi.
A tais personalidades, salvo raríssimas excepções, sucederam-lhes toda uma panóplia de burocratas sem profissão e profissionais da política, sem verdadeiro “rasgo” de pensamento ideológico-político (tanto à direita como à esquerda), acomodando-se, quando não “vendendo-se”, aos grandes interesses da “alta finança” internacional cinzenta e sem rosto, mas que lhes “paga”… submetendo a política à economia/finança, permitindo que estas destruam Estados e condenem à miséria largas centenas de milhões de seres humanos e destruam o Planeta ávidas de lucro fácil e imediato.
Toda esta gente conseguiu que num período de cerca de 15/20 anos o Mundo se tornasse um local perigoso para viver!... Sem estabilidade e previsibilidade.
Assim, quem hoje se encontra na “casa” dos 40, 50 ou 60 anos e vive no designado 1º Mundo, i. e., países ditos desenvolvidos, teme pela segurança e qualidade de vida na velhice e pelo futuro dos seus filhos e netos.
Face ao exposto, quem se pode admirar de os Britânicos terem votado favoravelmente o “Brexit”, os Americanos eleito Donald Trump seu Presidente e os Italianos, segundo se “soa”, se preparem para se “Italixitarem” da U. E.?
Em bom rigor, nestes tempos, o pouco de certo dentro da incerteza que existe a nível mundial são o “imperador do meio” chinês Xi Jiping e o “czar” Putin na Rússia. O resto, como soi dizer-se, é paisagem!
É esta a mágoa de quem viu sempre a sua vida adiada!
São estes os anos do fim!
Francisco Garcia dos Santos
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