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PAIS

04-11-2016 - Henrique Pratas

Lembrei-me de escrever este texto para fazer uma simples e justa homenagem a todos os que o foram na verdadeira aceção da palavra. Convém esclarecer que neste título estão incluídos pais e mães. Esta minha ideia ganhou consistência quando li o texto publicado pelo Professor Daniel Sampaio, onde em termos de síntese ele escreve que “Os pais não são amigos dos filhos. São adultos e devem funcionar como tal”. Esta afirmação fez tocar as campainhas do meu cérebro e pensei eu não posso estar mais de acordo com o que foi dito e mais vai mais longe acrescenta que quanto os pais estão mais perto dos filhos “a sua autoridade enfraquece”.

Eu que andava a pensar escrever sobre as relações pais e filhos, fiquei entusiasmado com o que acaba de ler, porque partilho da mesma opinião e escrevo sobre o meu caso, porque não tenho a veleidade de conhecer todos mas os meus pais sempre me trataram desta forma, o meu espaço era o meu e o deles era o deles, desde muito cedo fui responsabilizado, apesar de der filho de um homem e uma mulher que vieram de uma aldeia para a cidade para fazerem a sua vida trouxeram também os princípios e os valores que achavam corretos incutirem-me e assim foi, aquilo que sou devo-o a eles, tudo, mas completamente tudo. Eu fui responsabilizado muito cedo, o que me disseram é que não gostavam de mentiras, era preferível ser eu a contar as asneiras que fazia do que virem a saber por outras pessoas, paralelamente a este princípio foi-me incutido o valor que era fazer a saudação às pessoas por quem passava na rua e mais outro o de ser solidário com as outras pessoas ajudar nos termos das minhas capacidades e assim tenho sido ao longo da vida, apesar das alterações sociais introduzidas em mantive-me fiel aos princípios que me foram ensinados e que eu quis assumir, não me foram impostos foram explicados e como eu os considerei que eram bons agi como tal.

Também para esta minha forma de ser e de estar contribuíram os meus avós e todos aqueles homens e mulheres da aldeia que os praticavam, perguntar-me-ão se isto foi bom ao mau, escrever-lhes-ei que foi muito bom, cedo aprendi o que devia e não devia fazer, de acordo com os valores que foram incutidos, ainda hoje os pratico quando entro num espaço que é utilizado por outros cidadãos dou as saudações, mas se por exemplo ninguém responde, acrescento “escusavam de responder todos ao mesmo tempo”.

Ao escrever-vos este texto ocorre-me um episódio que demonstra o que vos acabei de escrever, eu sempre gostei de observar como se fazia tudo desde a agricultura, à mecânica, à pesca, em todas as atividades sempre queria saber o porquê das coisas porque é que se fazia de uma maneira e não de outra, enfim um incómodo para quem tinha que me aturar, mas como me disseram que era preferível perguntar o porquê do que ficar na dúvida, segui completamente à risca o que me foi dito.

Um belo dia, eu teria entre 13 a 14 anos, os meus pais decidiram ir à procissão da Nossa Senhora da Boa Viagem, não perguntem porquê mas decidiram e eu lá fui direito a Constância, quando fazíamos a estrada entre a Golegã e Constância, chovia torrencialmente e muito perto de Tancos a uns 3, 4 quilómetros, o carro parou, tinha entrado água para a caixa de distribuição, o meu pai como sabia o motivo desenvolveu todas as ações necessárias para que o mesmo secasse, ele pegou numa folha de jornal, pegou fogo e com o devido cuidado, porque a caixa não podia aquecer muito porque podia partir, lá fez o que sabia para que a caixa secasse completamente e pudéssemos seguir viagem. Não conseguiu e como estávamos perto de Tancos ele disse-me fica com a mãe que eu vou ao café do João Fernandes ligar para Torres Novas, para ver se algum amigo cá vem resolver esta situação. Está bem disse eu, mas como tinha visto o meu pai fazer o que devia ser feito do alto da minha idade fui experimentar, apesar de a minha mãe me dizer para não fazer porque podia estragar. Executei as mesmas operações sentei-me no lado do condutor e dei à ignição e o carro começou a trabalhar normalmente. Eu que não queria dar a entender ao meu pai que já sabia conduzir, fiz o mesmo caminho debaixo de chuva torrencial atá ao café do João Fernandes e todo contente disse ao meu pai, o carro já está a trabalhar e como a chuva era diluviana ele só me respondeu, então porque é que não o trouxeste até aqui, embatuquei eu que estava convencido que o meu não sabia que eu conduzia às escondidas, demonstrou-me inequivocamente que sabia de tudo e eu a única coisa que fiz foi remeter-me ao silêncio, e acompanhá-lo até onde estava o carro parado com a minha mãe lá dentro a trabalhar certinho que nem um relógio. Ah, falta-me escrever que os dois olharam um para o outro e riram-se e eu encolhido, porque tinha inocentemente tomado uma atitude que eu pensavam que eles não sabiam, mas já estavam cansados de saber que eu conduzia, assim qua apanhava as chaves do carro.

Eu reduzi-me à minha insignificância e os meus pais continuaram viagem como nada se tivesse passado, ficaram contentes com a minha atitude mas não o deram a entender, só ouvi uma palavra que me deixou a pensar, “temos rapaz”.

Mas como esta tenho muitas, porque fui educado a ser respeitador, a saber ouvir, conversar com os adultos sempre e só quendo estes o consentiam e a cultivar a solidariedade e amizade.

Henrique Pratas

 

 

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