Edição online quinzenal
 
Quinta-feira 2 de Maio de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

III - O OCASO DA DEMOCRACIA E A ASCENSÃO DOS PORCOS

04-11-2016 - Pedro Pereira

«Dêem-me o controlo sobre a moeda de uma nação e não terão que se preocupar com os que fazem as suas leis»
Mayer Amshel Rothschild (1743-1812)

A Emergência de uma Nova Era

Desde 2008 que vimos assistindo a um acelerar de mutações geopolíticas, sociais e económicas a nível mundial a que Portugal não é imune. Inevitavelmente, com a derrocada do sistema financeiro mundial, iniciado nos EUA, as suas funestas consequências sentem-se hoje particularmente no nosso país.

Os sustentáculos das actuais sociedades estão a ruir a passo acelerado com resultados de uma grande incógnita, mas certamente com um pico de impacto dramático de que se desconhece o prazo.

Novas formas de governo dos Estados, de condições laborais e de vida mudarão radicalmente as sociedades, cujas faces mais visíveis são:

- Crise Financeira Mundial

Há quase oito anos que o sistema financeiro mundial se encontra à beira da bancarrota, cujos sinais de alerta vieram do EUA, passaram à Grã-Bretanha e não obstante as injecções de dinheiro em quantias inimagináveis por parte de vários bancos centrais (Reserva Federal Americana, BCE, FED, Banco do Japão e o do Tesouro Britânico, por exemplo).

Na 6ª feira dia 19 de Setembro de 2008, da noite para o dia, o Tesouro e a Reserva Federal Americana mudaram drasticamente o carácter do capitalismo americano. Um verdadeiro golpe de Estado do estilo a que Franklin Dellano Rosevelt (antigo presidente americano) chamou de banksters, que significa a fusão das palavras banqueiro e de gangster, constitui uma verdadeira iniquidade a ser paga não só pelos norte-americanos mas pelo restante mundo durante as próximas décadas.

A dádiva de dinheiro público pretendida então pelos republicanos para salvar o país da bancarrota, foi manipulada pelo mesmo grupo que alertou a opinião pública americana para as armas de destruição maciça no Iraque.

- Emigração na UE

Face ao agudizar da crise económica e das tensões sociais e religiosas, centenas de milhar de cidadãos dos países das franjas da União Europeia, caso do Norte de África, mas também do resto deste continente, assim como da América Latina, vem «invadindo» diariamente países como a Itália, Grécia, Inglaterra, Alemanha… na miragem de melhores condições de vida. Calcula-se que existam cerca de oitenta milhões de emigrantes na UE, que a breve prazo, à medida que a crise económica se for agudizando, irão criar graves e dramáticos conflitos étnico-sociais.

- A União Europeia

Depois do Brexit, não restem dúvidas que a UE se encontra moribunda, sem projecto visível para um conjunto de 27 países que tem tanto de comum uns com os outros como o azeite tem com o vinagre. Poucos serão actualmente os cidadãos que acreditam no futuro de uma Europa Comunitária capitaneada por um grupo de indivíduos que não foram eleitos pelo povo.

4º - Emergência de Novas Economias

O desenvolvimento económico da China, sobretudo nas áreas da construção naval, da indústria têxtil, assim como da indústria automóvel, a par das emergentes potências económicas que são a Rússia, a Índia e o Brasil, substituirão em breve, de forma avassaladora a dos países tradicionalmente dominantes nestas áreas produtivas, caso da Europa Comunitária e dos EUA. Dados serem motores das suas economias, prevê-se também a breve trecho uma avalancha de milhões desempregados.

5º - O Despertar do Gigante

A reacção da Rússia ao «cerco» que a UE e os EUA lhe têm vindo a montar, quer sob o aspecto político quer militar, está a gerar uma nova «guerra-fria», que poderá emergir «quente», caso o diálogo diplomático entre ambos os blocos apodreça. Como seja, a velha Rússia começou de novo a impor-se quanto às regras do jogo no xadrez internacional.

Em Conclusão

Estamos a viver na Era das multinacionais: Era iniciada a partir de 1954, desenvolvida durante os anos 70 e 80, e plenamente operacional a partir dos anos 90. Nesta Era, o poder não é de tipo representativo ou electivo, e não se encontra localizado geograficamente. É exercido directamente pelos que controlam o sistema financeiro e a produção das mercadorias. Os instrumentos deste poder são o controlo da tecnologia 6, da energia, da moeda, e da informação 7. Este novo poder é global, planetário. Sem hipótese – aparentemente – de surgir poder alternativo, constituindo assim, um novo patamar de organização da Civilização, uma espécie de super-organização.

Os «donos do Mundo», a maior parte dos quais tem lugar cativo no Clube Bilderberg 8 não governam directamente, são os governos nacionais que tratam dos negócios por eles. Os Estados são empresas e os governantes, grupos de gerentes empresariais. Os tratados regionais e intercontinentais são fusões comerciais tendo como objectivo último, uma espécie de gigantesco hipermercado planetário.

Os mercados financeiros não cuidam de cores políticas dos dirigentes dos Estados, o fundamental é que sejam cumpridos os critérios financeiros delineados pelo «governo sombra Mundial».

A resolução premente dos grandes problemas ecológicos, económicos e sociais, a gestão racional dos recursos naturais do planeta ao serviço de todos os seres humanos, nomeadamente dos combustíveis, da água, dos cereais e das florestas, necessitam, certamente, do advento de uma nova forma de poder global. Nesta óptica, a unificação do mundo através da economia e o declínio dos estados-nações foram decididos em parte como uma «nobre causa»; isto é, tornar impossível uma nova guerra mundial, que face à ameaça cíclica de um conflito atómico, significaria o fim da Civilização.

Mas a questão que se coloca, é saber ao serviço de quem e de que objectivos o actual poder global deve ser exercido? - Que poderes, quem o pode e deve exercer e quem o controla e equilibra? A mundialização versus globalização teoricamente em si mesma não é negativa. Potencialmente pode permitir o estabelecimento de uma paz mundial duradoura e de uma melhor gestão dos recursos planetários. Mas se continuar ao serviço e em benefício de uma elite e se conservar a actual orientação neoliberal, não tardará a consolidar-se uma ditadura à escala planetária, uma mercantilização integral dos seres humanos, a destruição total da natureza e formas inéditas de genocídio e de escravatura.

____________________

Notas

6. Os Satélites Microsoft renunciaram recentemente ao seu projecto Teledesic, uma rede de 288 satélites de comunicação que deviam constituir uma malha em redor do planeta. Mas outras companhias multinacionais preparam-se para criar redes de satélites de comunicação similares. Satélites de observação privados encontram-se já instalados. Duas sociedades comercializam imagens de elevada resolução de qualquer lugar do planeta susceptível de interessar os compradores.

7.Ficheiros privados. Numerosas sociedades fundadas nestes últimos anos (principalmente nos Estados Unidos) são especializadas na recolha de informações individuais, oficialmente para fins comerciais. Estes ficheiros privados começam a reunir milhões de perfis individuais muito precisos, de consumidores repartidos pelo conjunto dos países ocidentais. As informações destes ficheiros são vendidas a todo aquele que deseje comprá-lo e tenha capital para isso.

8. A primeira conferência do grupo Bilderberg teve lugar no Hotel Bilderberg, em Osterbeek, na Holanda, de 29 a 30 de Maio de 1954 a convite do Príncipe Bernhard dos Países Baixos. A ideia da reunião foi lançada pelo emigrante polaco e conselheiro político, Joseph Retinger, que, preocupado com o crescimento do anti americanismo na Europa Ocidental, propôs uma conferência internacional em que os líderes de países europeus e dos Estados Unidos pudessem reunir-se com o propósito de promover a discussão entre as culturas dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Retinger contactou o Príncipe Bernard da Holanda que concordou em promover a ideia, em conjunto com o primeiro-ministro belga Paul Van Zeeland.

. O GATS (Acordo Geral sobre o Comércio dos Serviços) é um acordo multilateral elaborado pela O.M.C. em 1995 sob o impulso dos Estados Unidos, que se refere aos serviços no sentido muito lato do termo. As negociações começaram em Janeiro de 2000 e terminaram em 2005, prazo fixado para a adopção do mesmo. As negociações foram conduzidas por Robert Zoellick, representante dos Estados Unidos e por Pascal Lamy, representante da União Europeia. De acordo com os serviços, GATS prevê a privatização total do «conjunto dos serviços públicos»: a distribuição da electricidade, os transportes públicos, mas também, a saúde e a educação. A prazo, isso significa uma baixa de esperança de vida, um regresso maciço do analfabetismo, das populações com um índice de intelecto cada vez menos desenvolvido e mais manipulável. No total, a GATS prevê a liberalização total de 160 sectores de actividade, que representam fabulosos mercados mundiais que excitam a cupidez do sector privado. Antes mesmo da assinatura da GATS, os governos europeus começaram já a levar a efeito a privatização dos serviços públicos. Os projectos de privatização já anunciados de certos serviços públicos, com efeito, são ditados pela GATS que os governos de direita e de esquerda elaboraram em segredo, nas costas dos cidadãos, e com o silêncio cúmplice dos meios de comunicação social. Mas também as organizações sindicais «colaborantes» da nova ordem económica. A GATS visa atribuir sempre e cada vez mais, liberdade e direitos às multinacionais, reduzindo o poder económico dos estados, e o desmantelamento metódico do conjunto dos regulamentos sociais e ambientais. Estes ataques simultâneos inscrevem-se naquilo que se pode considerar uma guerra. Uma guerra social interna e uma guerra das empresas contra os cidadãos. Graças à apatia do público e dos poderes sindicais, esta guerra encontra-se quase a atingir os seus objectivos: a anulação do conjunto dos direitos sociais adquiridos desde há mais de um século, a supressão de qualquer obstáculo à «liberdade» das empresas (liberdade de poluir, liberdade de explorar sem limites, liberdade de destruir vidas pela miséria e pelo desemprego…), e à destruição definitiva do poder das instituições eleitas (os estados) e por conseguinte, da democracia. Para fazer face a esta guerra que se encontra na sua fase final e cujas consequências aparentemente não tem retorno, é tempo dos cidadãos entrarem na Resistência. Sabotagem antes da privatização Para obter facilmente o consentimento da opinião dos cidadãos para a privatização dos serviços públicos, a estratégia mais frequente consiste em organizar de antemão a sabotagem dos serviços públicos, para que a sua «ineficiência» possa servir de pretexto à sua privatização. Esta estratégia tem sido aplicada maciçamente nos sectores da saúde e da educação.

. Os exércitos privados existem já nos Estados Unidos. Tomemos como exemplo as sociedades DynCorp, CACI, e MPRI, protótipos dos futuros exércitos privados. A DynCorp já interveio numerosas vezes em regiões onde os Estados Unidos desejavam intervir militarmente sem assumirem a responsabilidade directa (na América do Sul, no Sudão, no Kuwait, na Indonésia, no Kosovo, no Iraque…). Em Maio de 2004, a DynCorp e o MPRI foram implicados nas torturas sobre os prisioneiros iraquianos. Os exércitos privados (chamados «sub-contratados» pelo Pentágono) representam 10% dos efectivos americanos no Iraque.

. Controlo Social – Como elemento primordial do controlo social, a Estratégia da Diversão Informativa consiste a desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mutações decididas pelas elites económicas e políticas, graças um dilúvio permanente de distracções e de informações insignificantes. A estratégia da diversão é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar pelos conhecimentos essenciais, nos domínios da ciência, da economia, da psicologia, da biologia, e da cibernética. Distrai-se a atenção do público relativamente aos assuntos sociais importantes, ocupando-os permanentemente com assuntos vazios de importância real, não lhes deixando margem para reflectir, para pensar, por vezes, criando artificialmente problemas, para em seguida oferecer soluções. Este método é chamado de: «problema-reacção-solução». Abordagem de um problema, de uma «situação» prevista de forma a suscitar reacção do público, conduzindo a que seja ele mesmo o requerente das medidas que deseja fazer-se aceitar. Por exemplo: deixar desenvolver-se a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, para que o público seja requerente de leis de segurança em detrimento da liberdade. Ou ainda: criar uma crise económica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

. A Estratégia da Degradação – Para tornar aceite uma medida aceitável, é necessário aplicá-la progressivamente e em crescendo, com uma duração de 10 anos. Foi desta forma que condições socioeconómicas radicalmente novas foram deslocalizações, baixos salários. Só estas mudanças teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas brutalmente.

. O FED (Fundo Europeu de Desenvolvimento) é o principal instrumento da ajuda comunitária no âmbito da cooperação para o desenvolvimento dos Estados ACP assim como dos países e territórios ultramarinos (PTU). O Tratado de Roma de 1957 previu a sua criação para a concessão de ajuda técnica e financeira, inicialmente aos países africanos que eram colónias na altura e com os quais determinados Estados mantinham laços históricos. Embora, na sequência do pedido do Parlamento Europeu, haja um título reservado para o Fundo no Orçamento Geral da Comunidade desde 1993, o FED ainda não faz parte integrante do orçamento comunitário geral. O Fundo é financiado pelos Estados-Membros e está sujeito às suas próprias regras financeiras, sendo gerido por um comité específico. A ajuda concedida aos Estados ACP e aos PTU continuará a ser financiada através do FED durante o período de 2008 a 2013. Cada FED é celebrado por um período de cerca de cinco anos. Desde a conclusão da primeira convenção de parceria em 1964, os ciclos do FED coincidem, em geral, com os dos acordos/convenções de parceria.

. George Orwell, pseudónimo de Eric Arthur Blair ( Bengala, 25 de Junho de 1903 - Londres, 21 de Janeiro de) britânico mais conhecido pelas suas duas obras maiores; O Triunfo dos Porcos e 1984. Poucas pessoas, mesmo entre as que lhe eram próximas, conheciam o seu verdadeiro nome, de tal forma o pseudónimo se tornou a sua segunda natureza. Irá tornar-se num rebelde, crítico do império britânico. Morreu de tuberculose, na miséria. Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (título original Nineteen Eighty-Four) foi publicado em 8 de Junho de 1949 e retrata o quotidiano numa sociedade totalitária. O título surge da inversão dos dois últimos dígitos do ano em que o livro foi escrito, 1948. Nele é retratada uma sociedade onde o Estado é omnipresente, com a capacidade de alterar a história e o idioma, de oprimir e torturar o povo e de travar uma guerra sem fim, com o objectivo de manter a sua estrutura inabalada.

Pedro Pereira

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome