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Bob Dylan, Nobel da Literatura

21-10-2016 - Henrique Pratas

Esta surpresa faz todo o sentido, na minha humilde opinião e recolhendo uma série de comentários que alguns fizeram podemos ver que de uma forma ou de outra, ninguém esperava que tal acontecesse mas que é merecido é e da música à literatura, surgem reacções à escolha de Bob Dylan para Nobel da Literatura. Alguns lá vão deixando cair as suas observações como, "Fiquei muito surpreendido, não fazia ideia sequer da possibilidade do Dylan estar na lista dos possíveis laureados. Quando soube disto, fiquei bem espantado. Não sei qual é o significado deste prémio, mas parece-me que a academia não está, propriamente, só a premiar o Bob Dylan, mas sim a canção popular de um modo geral, tal como a conhecemos, e que ganhou poder, sobretudo, a partir dos anos 60-70. Acho que está a colocar a canção num patamar de respeitabilidade que ela nunca teve, pelo menos, da parte das academias." Carlos Tê, escritor, letrista, por outro lado Sérgio Godinho afirmou que "Foi uma grande surpresa, mas fico muito contente. Vem de uma tradição folk, do Woody Guthrie, depois começou a descobrir outros caminhos, passou pela canção política, pela canção vivencial, pelo surrealismo e é extremamente moderno. (…) É uma influência indirecta. Quando o oiço apetece-me compor e isso acontecia-me também, por exemplo, com Zeca Afonso. Ele é um escritor de canções, influência para várias gerações de músicos e essa arte deve ser premiada.” Também, o osso Presidente da República opina sobre esta atribuição, nem a festa se fazia sem a sua manifestação de interesses, evocando a sua juventude e recordando a canção "The Times They Are a-Changin” considera inesperada mas significativa, a atribuição do prémio Nobel a Bob Dylan, afirmando que para além da riqueza das suas letras se notabilizou pelas suas músicas, sinal claro de que os tempos estão a mudar...".

Luís Filipe de Castro Mendes, ministro da Cultura, afirma que "A atribuição do Nobel da Literatura a Bob Dylan é o reconhecimento de um grande poeta que alia de forma exemplar a palavra e a música, numa inteira expressão poética. Bob Dylan tornou-se voz de várias gerações e os seus poemas cantares dos tempos de mudança".

Miguel Esteves Cardoso, é mais cáustico e afirmou que, “Não há surpresa nenhuma, porque o Christopher Ricks, que é um grande crítico académico e professor de poesia, já defende Dylan, há quase 40 anos, como um génio da literatura mundial, numa obra sua de 2003, ele afirma que Dylan está à altura de Shakespeare e do Philip Larkin.”

“Foi uma surpresa relativa, porque havia outros escritores, mas o Bob Dylan é um grande poeta que soube inserir a poesia nas tradições musicais norte-americanas. Nomeadamente na pop e na folk. Só revela uma capacidade de actualização da Academia Sueca ao escolher um autor de canções, mas que é um grande poeta. (…)“. Bob Dylan Está, de facto, inserido, e muito bem, na tradição poética anglo-saxónica, havendo claro, influências directas de poetas/cantores como Leonard Cohen, de modo mais imediato, e de outros também, mas toda a grande poesia norte-americana, desde o Walt Whitman ao John Ashbery está muito presente na poesia de Dylan.”, afirmou Francisco Vale, editor da Relógio d’Água

Sara Danius, secretária permanente da Academia Sueca , afirmou que “Bob Dylan é um grande poeta na grande tradição poética inglesa. (…), O disco ‘Blonde on Blonde’ é um exemplo extraordinário da sua forma brilhante de rimar e do seu pensamento pictórico.”

Jorge Reis-Sá, da Quasi, que publicou "Tarântula", prosa-poema experimental de 1966 declarou, que, “Na altura nós tínhamos uma edição na Quasi que onde dávamos importância a músicos, onde publicámos o Caetano Veloso, a Adriana Calcanhotto, uma série de autores. No meio dessa pesquisa percebi que existia esse livro do Dylan e então comprei, li-o em inglês primeiro, percebi que era um texto muito experimental, tenso até, mas ao mesmo tempo um texto que merecia ser publicado em Portugal e que fazia sentido colocar naquela colecção de gente da música que é também escritora.

Vejo isto como uma pedrada no charco, estavam habituados a que o prémio Nobel da Literatura fosse atribuído a um escritor, no sentido lato do termo, quer fosse de prosa ou de poemas, mas esta de premiar uma fazedor de letras de canções, que colocaram em causa a prática de determinados actos realizados por Países designados como desenvolvidos e em algumas das canções colocou mesmo em causa, questionando os valores que certas sociedades punham em causa e em conjunto com isto fez a sua divulgação através da música.

Boa escrevo eu, é para que não pensem que só quem merece este prémio são aqueles que se dedicam única e exclusivamente à escrita, não os letristas de muitas canções que dedicam uma vida inteira à causa pública, também correm o risco de ganhar o Prémio Nobel da Literatura é que sem grandes letras não há grandes canções, que denunciem o que se passa de errado na sociedade temos que estar atentos e todos em conjunto quer através da escrita clássica quer deste tipo de escrita que é musicada, também se escrevem muito bons textos e sintoma disso é a recolha de diferentes opiniões que fiz e que quero partilhar convosco, alertando-os que este conceito de Literatura não é assim tão restrito é muito mais amplo e prova disso é que os senhores da Academia, demonstraram-no de forma inequívoca, só espero é que não fiquem por aqui existem muitos mais a compor excelentes poemas que são divulgados através da música e não do tradicional livro, há que ter uma perspectiva mais ampla do que é a Literatura, muitos dos poemas cantados por Bob Dylan, marcaram toda uma geração e um tempo de guerra inútil, sem sentido e foi através delas que crescemos tomando conhecimento desta forma o que se passava no Mundo e obrigou-nos abrir a pestana e a questionar muitas práticas que se faziam.

Termino fazendo alusão que foi graças a uma mulher, que o mundo ficou a conhecer Bob Dylan nos anos 70. Em 1963, a cantora e compositora Joan Baez – hoje também com 75 anos – era uma das cantoras mais populares dos EUA, interpretando canções folk e de protesto. Quando conheceu Bob Dylan ficou impressionada com as suas composições e fez questão de cantar algumas delas em concertos.

Pouco depois começou a convidá-lo para subir com ela ao palco e conduziu-o à fama, tornando-se sua protetora e até namorada durante cerca de um ano. O relacionamento terminou em 1965.

Para a história da dupla ficaram sucessos como ‘We shall overcome’, ‘With God on our side’ e ‘All my trials’.

Espectacular este sentido de oportunidade de atribuição do Prémio da Literatura.

Henrique Pratas

 

 

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