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CONTRA OS “VAMPIROS”, A “CANTIGA É UMA ARMA”

30-09-2016 - Francisco Garcia dos Santos

“No céu cinzento sob o astro mudo,
batendo as assas pela noite calada,
vêm em bandos com pés de veludo,
chupar o sangue fresco da manada…
Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada”!

(Zeca Afonso)

 

“A cantiga é uma arma.
Eu não sabia.
Tudo depende da bala e da pontaria.
Tudo depende da raiva e da alegria…”.

(José Mário Branco)

Sendo o Zeca e o Zé Mário pessoas indubitavelmente de “esquerda” e eu de “direita”, penso ser insuspeito ao afirmar que os seus versos de há mais de 40 anos, ainda que ideologicamente datados, são mais do que nunca atuais.

E já agora, face aos tempos que correm, interprete-se “esquerda” e “direita” de forma livre, sendo certo que para os mais atentos e politizados, hoje tais designações (e até conceitos, salvo ideais filosófico-políticos), as mesmas não significam o mesmo de outrora.

Aliás, modéstia àparte, penso que os “verdadeiros” auto-denominados de “esquerda” e de “direita”, ou por terceiros assim rotulados, excepto raras excepções, hoje muito pouco ou nada se entendem sobre a essência da praxis política, a qual penso ser o ideal ético de desinteressado serviço ao Povo e à res publica.

Mas pior do que não se entenderem, tem sido e é o “narcisismo” de parte a parte, auto-endeusarem-se, diabolizarem adversários e, in extremis, irracional e intolerantemente, de forma odienta e sectária, olharem o “outro” como inimigo.

Ao longo da vida tive o raro privilégio de conhecer e privar com “gente” da “esquerda” e da “direita” ideológicas (que não sociológicas), inteligente e culta, que me possibilitou (e ainda permite) abertas e longas conversas sobre ideias filosófico-políticas, História, sociologia, economia e formas de “conquista”, detenção e exercício do poder político.

Com todos tenho aprendido e aprendo!

E mercê de tal aprendizagem, sem abdicar dos meus princípios éticos, tenho evoluído na minha forma de pensar e de agir cívica, social e politica.

Assim, permanentemente questiono-me sobre o que significa ser-se hoje de “esquerda” ou de “direita”, bem como o que na atualidade representam tais posicionamentos filosófico-políticos e, sobretudo, onde estão os seus idealistas.

Dramaticamente confesso que, desde que possuo memória histórica vivida, apenas tenho visto e vejo “videirinhos” (designação queiroziana para quem se aproveitava dos “lugarzinhos” no “Ministério” e na administração do Reino), que ocupando cadeiras nos emicíclos de Estrasburgo, de São Bento, à mesa do Conselho de Ministros, da administração pública e até nas dos tribunais, se preocupam com tudo menos com o interesse nacional e a justiça.

Efectivamente, o que tenho assistido e assisto é a um entrelaçamento, tão difuso quanto obsceno, entre os “poderes” económico, político e, não raras vezes, judicial, cujos membros se defendem e promovem a si próprios e uns aos outros, agindo de forma absolutamente oligárquica, “enchendo as respectivas bocas” com as palavras “democracia” e “liberdade” só para o suposto ignaro Povo se convencer de que, tal como também Zeca escreveu, é ele “quem mais ordena”.

Portanto, volvendo aos versos de Zeca e de Zé Mário, com cuja citação iniciei esta prosa, tenho de afirmar que no presente, e desde há muito, “cinzentismo” vivido em Portugal (e não só), dia após dia e ano após ano vêm “bandos com pés de veludo chupar o sangue fresco da manada”, comendo tudo sem deixarem nada. Mas também contra os “vampiros” o Povo “contribuinte” tem de, sem medo, soltar bem alto a sua voz, porque a mesma dita, escrita ou cantada “é uma arma”, sendo que o êxito da sua revolta, com vista à afirmação e defesa dos seus mais legítimos direitos e interesses, bem como aspirações, depende “da bala e da pontaria”, disparada com convicção, “raiva” e “alegria”.

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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