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CONTROLO E DOMESTICAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA

30-09-2016 - Pedro Pereira

« Aqueles que pretendem entender o passado e
moldar o futuro devem
prestar muita atenção não apenas às suas
práticas, mas também à
estrutura doutrinária que as sustenta»
Noam Chomsky

São passados mais de 260 anos, desde que David Hume ao abordar a problemática da obediência civil chegou à conclusão que o governo de uma nação se baseia no controlo da opinião pública, princípio que continua a ser praticado por todos os tipos de governos como sejam as ditaduras civis, ditaduras militares, nepotismos, despotismos e até as (ditas) democracias, como no caso dos países da União Europeia.

Assim, na prática, de acordo com os moldes de governança das democracias ocidentais, a população pode ser «espectadora», mas não «participante», salvo quando coloca o voto na urna no acto eleitoral. Ou seja, na ocasional escolha de partidos e respectivos líderes partidários. Por tal facto, a participação «democrática» dos cidadãos começa e acaba no acto eleitoral.*

Onde se definem os verdadeiros rumos da política é no campo económico, área de onde a população em geral deve ser excluída, de acordo com as máquinas «governativas».

Neste sentido, existem doutrinas concebidas para impor o novo «espírito» da «democracia» segundo os moldes neoliberais. Esta, de resto, atravessa actualmente uma crise bem negra…

Para os teóricos do controlo das massas, a manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões organizadas desses contingentes humanos, constituem importantes componentes das sociedades ditas democráticas.
Por tal forma, as minorias são instruídas que para atingirem os seus objectivos devem de fazer uso contínuo e sistemático dos mecanismos de propaganda para domesticação das mentes dos cidadãos.

Uma vez detentores dos processos mentais e dos padrões sociais das massas, as minorias dominantes do poder económico e político podem manejar com relativa facilidade a opinião pública, dado que por omissão informativa as populações consentiram tacitamente (por desconhecimento) em aceitá-la sem se manifestar, por desinformadas que estão.

A importância do controle da opinião pública define-se claramente à medida que a sociedade organizada consegue ampliar as modalidades de «democracia», fazendo emergir aquilo que as elites liberais denominam eufemisticamente de «crise da democracia», que sucede quando as populações relativamente apáticas ou passivas se organizam e tentam penetrar na esfera política na procura dos seus anseios e necessidades, «lesando» os interesses da «ordem» e da «estabilidade» da classe dominante.

Neste âmbito, a minoria informada assume-se como uma «classe especializada» responsável pelo estabelecimento de políticas de governo e pela «formação de uma sólida opinião pública», pelo que, deve encontrar-se distanciada da interferência do público em geral, este, formado por pessoas «ignorantes e intrometidas alheias ao processo».

Assim, o povo deve de ser «colocado no seu devido lugar», «aprender» a sua função, ou seja: a de «espectador da acção».
Nas sociedades com regras democráticas mais amplas, nas quais por força da lei e dos costumes não se deve recorrer à força, os administradores políticos fazem uso de sofisticadas técnicas de controlo, amplamente baseadas na propaganda. Se o leitor reparar, este tipo de actuação é aparentado à boa e velha doutrina leninista! A semelhança entre a teoria democrática progressiva (neoliberal) e o marxismo-leninismo é notável.

O quadro sumário aqui referido é vulgar numa sociedade gerida pelos interesses das grandes fortunas, dos grandes impérios económicos e empresariais (onde a classe política trabalha às suas ordens) que gastam quantias astronómicas em marketing para lavar a sua imagem.

Os exemplos nas ditas democracias ocidentais saltam aos olhos de qualquer cidadão mais atento. Note-se o que se passa nos Estados da União Europeia nos dias de hoje. Quadro paradigmático pelo qual outros países ocidentais se regem em moldes iguais.

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* Nas primeiras eleições livres do regime democrático português em 1975, um slogan esgalhado pela CNE apelando ao voto popular era precisamente: «O voto é a arma do povo». Logo, de acordo com essa frase lapidar, nos tempos que correm quando o cidadão deposita o seu voto na urna, a partir de então e até às eleições seguintes fica «desarmado» perante o poder político. Esta figura de estilo é muito mais importante do que aparenta ser, uma vez que após as eleições normalmente o partido maioritário forma governo e o que acontece depois, invariavelmente, é que todas as promessas com que aliciaram o eleitor a depositar o voto nele na esperança do cumprimento das mesmas, são deitadas para o caixote do lixo. É nessa altura que o eleitor toma consciência que o voto é na verdade uma arma.

Pedro Pereira

 

 

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