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A DANÇA DAS CADEIRAS NA AMÉRICA LATINA

16-09-2016 - Pedro Pereira

Patologias sociais graves, corrupção selvagem, brutalidade e boçalidade política, é neste caldo que navega um grupo de serventuários à frente de regimes vassalos dos EUA e comandita na América Latina, que têm vindo a assumir o poder e consequente controlo de vários países dessa região.

Estes novos capatazes de negócios por seu turno são controlados por banqueiros de Wall Street, pelo Banco Mundial e pelo FMI. São lestos a apoiar medidas sancionatórias sobre as populações como o corte de salários, de pensões e outros encargos sociais, diminuição dos impostos sobre as grandes empresas e privatização das mais rentáveis empresas p ú blicas no sector dos transportes, eletricidade, infraestruturas, latif ú ndios, petr ó leo, além de dezenas de outras atividades económicas.

Como constatado, trata-se de criaturas que foram recrutadas no seio de instituições da alta finança, nas «casas» de banqueiros norte-americanos.

De idioma castelhano, são apelidados de «novos gestores» de Wall Street pela imprensa financeira dos EUA, a qual tem vindo a proporcionar uma ampla cobertura política para os assaltos ao poder, ofensiva contra o mundo do trabalho e os crimes mais abjetos imaginados e perpetrados por essa nova fauna, que entre outros atos memoráveis de subserviência aos seus amos conta-se a usurpação ilegal do poder, políticas neoliberais selvagens, alterações radicais nas estruturas dos programas escolares nos seus países, cortes nos sistemas de saúde, de pensões e dos ordenados, além de outras malfeitorias de igual jaez.

Regista-se entre esses países a Colômbia e o México, por exemplo, países onde os oligarcas, funcionários dos seus governos e esquadrões da morte convivem e colaboram harmoniosamente com o exército dos EUA, o mundo dos negócios e da alta finança como já referido.

Tenhamos em conta que nas duas últimas décadas, mais de 100 000 pessoas foram assassinadas no México e na Colômbia mais de 4 milhões de agricultores foram expropriados das suas propriedades, tendo dessa forma (somados os dois casos) transitado para a posse de multinacionais norte-americanas e de países da União Europeia mais de 5 milhões de hectares de terras agrícolas e/ou de mineração.

Entretanto, centenas de biliões de dólares provenientes dos lucros resultantes do tráfico de droga são lavados por oligarcas colombianos e mexicanos e entram em contas privadas de bancos privados nos EUA.

Enquanto gestores mexicanos e colombianos se ocupam atualmente em nacionalizar setores económicos estratégicos, como o petróleo e a energia, outros capatazes/lacaios atacam ferozmente os movimentos sociais e respetivas dinâmicas dos seus países, tendo já sido assassinados centenas de professores, estudantes e jornalistas no México e milhares de ativistas dos direitos humanos e agricultores na Colômbia.

A dinâmica dos novos vassalos da América Latina aos citados amos, tem contado com intervenções indiretas dos EUA, até por razões geoestratégicas.

Como exemplos: em 2009, o presidente das Honduras, Manuel Zelaya foi deposto por um golpe militar encorajado e financiado pela secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, por alegadamente ser «culpado» de uma reforma agrária e outras iniciativas «radicais».

Em seguida, Zelaya foi substituído por Roberto Micheletti um lacaio dos EUA, que rapidamente encomendou (alegadamente, é claro…) a liquidação de centenas de trabalhadores rurais sem terra e ativistas indígenas. Após isto, os EUA foram lestos na confeção de uma cobertura pseudo constitucional que conduziu à presidência Porfirio Lobo Sosa, um grande latifundiário.

Em 2012, os EUA trataram de depor através dos seus «empregados» no parlamento panamiano, Fernando Lugo, ex-bispo católico, presidente do Paraguai, tendo sido substituído pelo vice-presidente, Federico Franco, que assumiu o cargo nesse mesmo dia.

Lugo havia prometido uma reforma agrária moderada e possuía uma agenda centrista para a integração regional.

No ano seguinte, em 2013, os EUA apoiaram a candidatura presidencial de Horacio Cartes um famoso patrão do crime, condenado por falsificação em 1989, por tráfico de drogas em 1990 e em 2010 por lavagem de dinheiro. Esta criatura é proprietária de duas dezenas de empresas, incluindo de tabaco, refrigerantes, processamento de carne e bancos. E por lá se mantém no poder…

Depois das golpaças nas Honduras e Paraguai, os EUA através dos seus «assalariados» trataram de acelerar a aquisição de bancos no Brasil, Argentina e Perú. E entre dezembro de 2015 e o corrente ano de 2016, mais destes «assalariados» intitulados «gestores» tomaram o poder na Argentina e no Brasil.

No caso da Argentina, após alcandorado ao poder, o «gestor americanado» Mauricio Macri começou a governar por decreto, ignorando a legalidade constitucional, despedindo milhares de trabalhadores da função pública, encerrando departamentos de serviços, nomeando juízes e promotores da sua confiança, sem que estes tenham sido sujeitos a votação no Congresso, como está constitucionalmente consagrado e ao arrepio das mais elementares regras legais mandou prender arbitrariamente dirigentes incómodos de movimentos sociais, e por aí fora.

As consequências dos «benefícios económicos» de Macri saldam-se por um desastre argentino à beira da catástrofe. Tomem-se como exemplos: taxas exorbitantes nos serviços públicos e transportes que aumentaram até dez vezes mais, brutal aumento de falências, cortes de gás e de eletricidade em milhares de casas devido ao incomportável custo de vida, etc.

Com uma taxa de inflação superior a 40% e uma dívida pública que só nos primeiros seis meses da nova presidência registou um aumento de 20%, o padrão de vida, a horda de desempregados e a corrupção aumentaram exponencialmente.

Fazendo eco destas «maravilhas», boa parte dos órgãos de informação norte-americanos, capitaneados pelo New York Times, seguindo-se o Financial Times, o Washington Post e outros, tecem maravilhas e cantam loas à políticas económicas de Macri, políticas estas desastrosas implementadas por banqueiros que se tornaram ministros, constituindo uma base ideológica que visa tão só o benefício e consequentes lucros a qualquer custo para investidores estrangeiros, sob a eufemística capa de «incentivos comerciais».

Por seu turno, no Brasil, num processo de contornos grotescos assente numa base parlamentar oportunista constituída em boa parte por criaturas a contas com o famigerado e megaprocesso de corrupção que leva o nome de «operação lava-jato», foi destituída da presidência a presidente (ou presidenta, segundo palavra inventada por ela) Dilma Rousseff, sendo substituída por Michel Temer, até então vice-presidente, um indivíduo envolvido em vários casos de corrupção, mas homem de confiança do atual poder nos EUA.

Não obstante, ainda foi possível prender três novos ministros «gestores» de fraude e lavagem de dinheiro. Note-se que o «presidente» Temer está inscrito na lista dos magistrados judiciais pelo seu papel no escândalo de subornos nos megacontratos da Petrobras.

O programa económico dos recentes «gestores» que começámos por referir no início deste artigo, não está programado para atrair novos investimentos produtivos. Os que a ele aderem são empresas especulativas de curto prazo.

O comércio e a indústria estão deprimidos como resultado da contração do crédito, resultando na diminuição da produção, do consumo, no exponencial aumento do desemprego e na redução dos gastos públicos em consequência das políticas de austeridade impostas pelos novos «capatazes/gestores».

Em suma:

No Brasil, o «presidente» Temer acelera a tomada de medidas a favor de grandes empresas e corporações multinacionais norte-americanas. A meta para alcançar este destino fica a poucas semanas. Ao mesmo tempo, juntamente com os seus apaniguados vai preparando a saída de «malas aviadas» para um dos próximos meses.

Na Argentina, Mauricio Macri vai tentando sobreviver à maré de greves e protestos que lhe batem à porta. Não obstante, a economia em queda e os saques do tesouro vão conduzir a breve trecho (mais uma vez, como em 2001) este país à falência.

Quanto aos outros países da América Latina, como o caso da Venezuela, reservamos a nossa análise para um próximo artigo.

Pedro Pereira

 

 

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