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Deixa arder!

26-08-2016 - Francisco Pereira

O título deste pequeno artigo, tem origem numa frase ouvida numa reportagem televisiva acerca de um qualquer incêndio, dos muitos que mais uma vez este Verão assolaram Portugal de lés a lés, sem dar descanso às gentes.

Gente mais avisada e intelectualmente superior, já escreveu sobre a temática, temo estar a chover no molhado, ainda assim, não pude deixar de, perdoem-me a expressão, lançar a minha acha para a fogueira, tendo em conta que já escrevi várias vezes sobre este tema ao longo dos anos.

Antes do mais, convém dizer, que os incêndios naturais, são um mecanismo que a sábia Natureza arranjou para se renovar, desde tempos sem memória que o fogo é redentor e dador de vida.

O nosso país por incrível que pareça, têm um sério problema com a floresta, ou antes com a ausência da mesma, passo a explicar. A floresta autóctone, foi sendo desbastada ao longo dos milhares de anos que levamos de existência enquanto Estado, encurtando a coisa, o século XIX viu o plantio extensivo do pinheiro, a resina daí extraída alimentou uma florescente indústria até meados dos anos oitenta do século XX, quando começou a grande expansão do eucalipto, propiciada pela industria da celulose, governo após governo, a voracidade do eucalipto foi aumentando, aumentando também a probabilidade de incêndios devastadores dada a particularmente alta combustibilidade daquela árvore, culminando com o anterior governo, com a anedota de ministra da agricultura e com a absolutamente imbecil legislação sobre eucaliptos, que entretanto este governo já revogou. Aguardam-se melhoras!

Os problemas da nossa floresta estão há muito identificados. Só a incúria, o laxismo e a completa ineptidão de quem nos tem governado, explica este estado de miséria incendiária. Dentro de todos destacarei os seguintes;

O ordenamento

Como noutras áreas, a floresta precisava de ser ordenada, com uma gestão equilibrada de espécies, com mais espaços verdes nos meios urbanos, e sobretudo com o cuidado preventivo e manutenção. Era portanto urgente que existisse um ordenamento criterioso e sério, bem executado, responsável, inflexível na suas exigências, a começar pelo próprio Estado que é largamente o elemento mais prevaricador.

O Cadastro

O actual governo pela voz entaramelada do seu Primeiro-ministro, veio às televisões encher a boca com o cadastro da floresta, fazendo crer que o cadastro é o instrumento salvador, quando não é, o ordenamento e a limpeza são-no muito mais, como elementos primordiais da prevenção que quase não existe, ainda assim o cadastro é importante, para saber a quem pedir responsabilidades, mais uma vez apenas por causa da incúria, do laxismo e da completa ineptidão de quem nos tem governado é que não existe tal instrumento, veremos se é desta.

Os meios

Portugal é um país endemicamente em crise, a falta de meios é apontada para tudo e para nada. Faltam efectivamente meios, tanto humanos como materiais, em relação aos meios humanos, a crise, que gerou níveis recorde de emigração reduziu algumas corporações a 50% do efectivo, os meios aéreos que tanta negociata e esbanjamento propiciaram, falharam redondamente, a Força Aérea poderia ter desempenhado um papel importante, acaso não lhe tivessem retirado essa capacidade, por causa das negociatas, a extinção do corpo de Guarda Florestal, também não é das medidas mais inteligentes, estando eu em crer que com prevenção, manutenção, ordenamento e limpeza, os meios existentes chegavam e sobravam.

Uma última palavra para o legislador, que tem de pensar muito bem a questão dos incendiários e da sua efectiva punição, tratamento e reinserção, porque a coisa como está, é descabida e completamente ineficaz. Uma palavra também para os patetas e para as patetices. A protecção Civil, desde que ganhou estatuto e se profissionalizou, tornou-se um grande tacho para os alarves do costume, e é ver os patetas de fardetas e boinas, muitos nem sabem colocar a boina, aparecendo na televisão com um ar labrego e pateta, que mais apetecer rir do que levar a sério.

Caros senhores, nós não precisamos desse circo mediático, de boinas, de fardetas, de cretinos com casacos e coletes cor de laranja, a cirandar pelos teatros de operações, só para tirar fotografias e mostrarem-se, dado que na sua maioria não vêem um boi daquilo, nós o que precisamos é de acções, capazes, inteligentes e práticas que reduzam a um mínimo aceitável estas ocorrências.

Francisco Pereira

 

 

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