Recordando: como eles prepararam o domínio do mundo
12-08-2016 - Matos Serra
Perguntar-me-ão “eles, quem” ? e quando? Responderei – As administrações americanas nos, relativamente, precedentes tempos que antecederam “A Cimeira das Lages, geralmente dita “A Cimeira da Vergonha”… a da pouca vergonha, digo eu.
Vou aqui abstrair de um lapso de tempo, de grande intensidade da sua ação, que vai desde 1973, data da queda da monarquia dos terra-tenentes do Afeganistão que era, então, assumida pelo rei Mohamed Zahir Shah,
legitimado pela exacerbada religião muçulmana e pelos setores mais radicalmente feudalizantes, mas, que, originou um descontentamento que aglutinou uma parte do povo, setores progressistas e alguns setores do próprio exército que derrubaram o rei e implementaram uma república, este lapso de tempo vai até ultrapassar, um pouco, os anos de dois mil, princípio dessa década, vamos marcar como referência o ano dois mil e um, por ser marcante.
É um tempo de tragicomédia americana que inclui o tempo de Ronald Reagan
aliado aos talibans para reverter a revolução anti-fundamentalista e anti-feudal iniciada com Babrak Karmal.
Por ser um tempo que vivemos com muita intensidade, (aqueles que o vivemos e sentimos…) vou rememorizar e reviver os dias que, imediatamente antecederam a Guerra do Iraque, porque foi a partir dela que os falcões puseram o mundo num badanal…
Foi, novamente, um tempo de tragicomédia americana… tempo de mobilização das forças e figuras subservientes aos ditames de Washington, tempo da invenção de mentiras, da fraude das armas de destruição massiva, tempo dos testas de ferro e dos falcõezinhos caseiros perfilados para se bajularem ao Tio Sam, tempo dos jornalistas mercenários vendidos a pataco, tempo dos Pachecos, dos Fernandes, dos Ratos, dos Delgados e outra gente com coluna vertebral de lesma… tempo de arregimentarem os sionistas de Israel, as monarquias teocráticas do golfo e, também algumas governanças europeias, umas mais descaradamente, outras mais encapotadas, tempo das CIAS e das NATOS, dos Blairs, dos Azenares, dos Barrosos e do patrão Jorg W. Busch, em que tudo culmina na mais vil, fraudulenta e belicista cimeira alguma vez acontecida neste desgraçado mundo e, ainda para maior vergonha nossa acontecida em terras portuguesas…
Recordo como o mundo reagiu à iminência da guerra…Por todo o mundo se mobilizaram milhões de pessoas em grandiosas manifestações e houve marchas contra a guerra que encheram ruas e praças por muitas cidades e houve referendos e onde os houve repudiaram a guerra mas os democratas do canhão não ouviram ninguém e marcaram a cimeira da guerra para o dia dezasseis, apesar de ser domingo e lá estiveram as quatro criaturas que a decidiram.
A minha cidade (Portalegre) é de brandos costumes, os que por causas sociais se batem são sempre os mesmos que sempre têm contado comigo. Foi nesse âmbito que na noite de catorze de março de 2003 fui contactado para, enquanto Presidente do Núcleo do Norte Alentejano da Associação 25 de Abril, participar e assegurar uma intervenção numa iniciativa a favor da paz e contra a perspetiva de guerra que teria lugar no dia seguinte, na Praça da República.
Esta iniciativa teve a designação “UM CAFÉ PELA PAZ”
COMO ME COUBE, NA ALTURA E NAQUELAS CIRCUNSTÂNCIAS FAZER A PRINCIPAL INTERVENÇÃO VOU TRANSCREVÊ-LA PORQUE DE LÁ ATÉ AQUI A HISTÓRIA ME DEU RAZÃO.
COMECEI POR DIZER:
Estou aqui para ajudar a engrossar a corrente contra a arbitrariedade e o despotismo dos grandes senhores do mundo, na esperança de que o ódio, que se instalou no peito dos falcões, possa ainda dar lugar a uma concertação e diálogo, que faça surgir uma solução que dissipe o espectro da guerra e da barbárie que paira sobre a cabeça de milhões de pessoas inocentes.
A questão candente que nesta hora se coloca à Humanidade, em geral, porque este é um problema de toda a Humanidade… é a da opção entre a guerra e a paz.
Como todos os Homens amantes da verdade, da justiça, da razão e da coerência, pela defesa do valor inalienável, entre todos, o da vida humana, estou com toda a força das minhas convicções, pela paz. Logo, portanto, a favor de uma via política e diplomática de diálogo, de concertação e de esforço comum, num processo que salvaguarde, na hora dramática presente, os indiscutíveis valores da dignidade humana.
Tenho sessenta e cinco anos de idade, tenho já um manancial de memórias muito vasto, a vida e a História já me ensinaram muita coisa… Tinha oito anos de idade quando terminou o holocausto nazi… nesse dia, que recordo como se tivesse sido hoje, (9 de Maio de 1945), o comboio chegou, à estação de Assumar, completamente engalanado, as pessoas abraçavam-se e choravam de alegria e de alívio, pelo fim da barbárie.
Recordo os anos transatos em que a guerra decorreu – anos de miséria e de fome…à escassez dos recursos juntava-se a escassez moral do regime, que, de forma encapotada, ajudou, não só moralmente, mas, até, materialmente, Mossuline Hítler e Franco.. e, contudo, o nazismo, só por si, dizimou cinquenta milhões de vidas, pelas armas, pela fome e pela barbárie que a guerra instalou.
Nos campos de concentração as pessoas comiam as vísceras dos seus companheiros de martírio para sobreviverem… Isto passava-se, sobretudo, com os judeus, mas não só…
Nesse tempo, a grande nação americana juntou-se, no esforço e sacrifício de guerra, com outras nações amantes da paz, para combater o nazismo e contribuiu com milhares de vidas dos seus filhos fardados, para que se pudesse pôr fim a tamanha barbárie.
Hoje, esquecendo o que lhes aconteceu no passado, prestando um falso culto aos seus heróis e mártires, os judeus fazem, na Palestina o que Hitler lhes fez a eles, e os americanos, digo, a administração americana ajuda-os nesse banquete de sangue, cada qual desonrando da pior forma a memória dos seus mártires.
Na Segunda Guerra Mundial foi tão grande o estendal dos mais macabros infernos, nos teatros de operações, por toda a Europa, a experiência de horrores foi tal, que, durante muitos anos, até quando eu já tinha os meus catorze/quinze anos de idade, as pessoas mantinham convicções de que seria impossível, alguma vez mais, na história do futuro da Humanidade, os seres humanos aceitarem ou muito menos apoiarem explicitamente ou pelo seu silêncio cúmplice, uma tal situação… isto é, deixarem-se manipular por qualquer um, ou alguns, arautos da violência, ou por qualquer outra atitude imperial como tinha sido a de Hitler!...
Afinal…A memória dos homens ou, pelo menos, de alguns homens é muito curta…E, por isso mesmo, é que se torna ainda mais significativa a atitude daqueles que não andam a dormir na História.
O problema que hoje se nos coloca, se coloca a todos os homens de boa vontade, àqueles que não estão dispostos a vender a alma por um prato de lentilhas, é o da luta pela paz. Porque os verdadeiros desígnios dos senhores da guerra, é o do domínio sobre os outros homens e a satisfação dos seus instintos de predadores, o que pode lançar o mundo numa tragédia de imprevisíveis consequências.
No seu receio de isolamento , na persecução dos seus desígnios bélicos de rapina e de domínio, a Administração Norte-Americana não tem olhado a meios para atingir os fins…
Temos assistido, nas últim as semanas, ao lançamento de um arsenal de demagogia, desinformação e invenção de verdades, que não resistem ao mais débil sentido crítico e análise lógica, nomeadamente, o processo de acrescentamento de provas ao trabalho dos inspetores da ONU, para, a todo o custo, justificar, à-prior, a sua ação de guerra.
Num esforço, sem precedentes, para emocionar a opinião pública mundial, mormente a da Europa, fazendo-a deslocar-se para o lado do apoio aos seus objetivos.
Na tentativa de domínio absoluto de uma região com uma das maiores reservas de petróleo do mundo, puseram em marcha uma operação de guerra psicológica, de proporções colossais. Para isso, lançam o espantalho do anti-americanismo, o chavão da cruzada contra a ditadura e pela democracia e o da pseudo-luta pelos direitos humanos de que se arrogam ser os defensores mais preocupados… a tese, canhestra, de “quem não é pela administração americana e seu programa bélico” é por Saddam Hussein, ou, a mais canhestra ainda, de que, “quem não é pela guerra é pelo terrorismo”, o que é uma absoluta anedota… já que a guerra deles com a previsão de três mil (3000) bombas logo nas primeiras quarenta e oito horas (48 H) e de um número incalculável de vítimas é, só por si, o mais requintado dos terrores.
Outra tese, que só não é anedótica em função da perspetiva dramática que a envolve, é a da libertação do povo Iraquiano, como se fosse a ação mais humanitária deste mundo, libertar um povo de uma ditadura matando esse mesmo povo…
Meus amigos, só não fica claro para quem não quiser ver, que a administração americana entrou num completo irracionalismo, que pode trazer ao mundo uma tragédia de consequências desastrosas.
Não está na tomada de posição daqueles que rejeitam a guerra, em causa, a amizade e o sentimento de consideração para com o povo americano, como querem fazer crer os corifeus da escalada bélica, incluindo as suas caixas de ressonância no nosso país como os Barrosos, os Fernandes, os Pachecos, os Ratos, os Delgados, etc…etc… O que está aqui em causa é se, mediante os dados que se conhecem, se conclui que o perigo é tão grande para a América e para o mundo, um perigo tão grande e iminente que justifique uma guerra com as proporções que se adivinham… e a conclusão é, por demais, claríssima, o perigo, nesta altura, vem do Norte.
É, contudo, animador verificar que, por todo o mundo, se levanta um clamor imparável, de protestos contra a iminência da guerra.
Perante isto duas coisas haverão de acontecer: Ou a Administração Busch se abstém, nos seus instintos belicistas, ou, apesar deste protesto geral, avança mesmo para a sua ação de força que, à partida, se sabe que irá ceifar um número exorbitante de vítimas, que não têm culpa, nem da arbitrariedade do Saddam nem da arbitrariedade, ainda maior, do senhor Busch que, ao que se prevê, será contra toda a comunidade internacional, nomeadamente, contra o Conselho de Segurança das Nações Unidas e, aí, ficaremos todos esclarecidos da natureza democrática da política americana…
É animador, também, e como português orgulho-me ao constatar que em Portugal há, também, um sentimento, muito forte, pela paz… pena que não tenha a mesma dimensão que tem, na maioria dos países da Europa, onde, por exemplo, na Inglaterra, apesar da atitude de falcão do senhor Blair, a percentagem de pessoas que rejeita a guerra é de 90%.
Mas Portugal é um país frágil e nas situações de perigo os fracos acolhem-se à proteção dos poderosos mesmo que isso implique, por vezes, uma subserviência vil, por isso é que a posição da França, Alemanha e Bélgica é de dignidade.
Outro fator que me anima é constatar que a atitude geral dos intelectuais portugueses – cientistas e homens e mulheres das letras, da cultura e das artes vêm, de Norte a Sul do país, reforçando com o seu apoio esta barreira moral imensa contra a força bruta, como maneira de dirimir os conflitos internacionais, escrevendo abaixo-assinados e dando a cara, frontalmente, em intervenções públicas.
Dir-se-ia que só ficam de fora aqueles aonde ainda prevalece um certo resquício de irracionalidade, mesmo que de si pensem o contrário. Alguns é por mero oportunismo e há já mesmo quem esteja a receber o prémio do seu servilismo, como é o caso do senhor Luís Delgado que já foi compemplado com uma promoção política.
Personalidades da nossa vida nacional, como o D.r Mário Soares, o D.r Freitas do Amaral, a D.ra Maria de Lourdes Pintassilgo, o D.r Carlos Carvalhas, o D,r Francisco Louçã e muitas outras destacadas figuras de prestígio do mundo das letras, da cultura e das artes, como o d.r Eduardo Lourenço, o cientista Alexandre Quintanilha, a escritora Agostina Bessa Luís, o arquiteto Álvaro Siza Vieira, o escritor e jornalista Eduardo Prado Coelho, entre muitos, têm vindo a apresentar, nos órgãos de Com. Social a sua sábia e prudente opinião de repúdio pela perspetiva da escalada bélica, contrabalançando, desta forma, o despudor belicista de alguns fazedores de opinião, cujos artigos em prol da guerra que, como o Busch, defendem a qualquer preço, nos vai cheirando a um fedorento nazismo.
Que esta grande jornada resulte e ajude, o coração dos falcões, a fazerem inversão de marcha, no sentido da paz, da justiça e da dignidade humana, por uma sociedade sem guerras e de convivência pacífica e mais fraternal e solidária.
Tenho dito
“Alguns dias antes da “Cimeira da Pouca Vergonha”
15 de Março de 2003.
Intervenção improvisada pouco antes da hora aprazada e cujo manuscrito guardei para memória futura.
Afinal a guerra com as 3000 bombas prometidas para as primeiras 48 Horas e um imenso rastro de muitos milhares de vítimas, horror e sangue, sempre avançou a 20 de março de 2003 e como eu no texto alertava, por mais que uma vez, pôs mesmo, até hoje, o mundo num badanal. Esta guerra de domínio e rapina é o símbolo da expressão máxima do terrorismo que hoje, de várias formas assola o martirizado mundo.
TIREM-ME DESTE FILME…
Matos Serra
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