O trono é do charlatão
12-08-2016 - Mariana Mortágua*
O pretenso sucesso empresarial de Trump tem sido um dos seus maiores trunfos, numa campanha marcada por variados horrores. Não há quem não tenha tido ainda a infeliz oportunidade de ver o candidato a esfregar indiscriminadamente os seus milhões na cara de oponentes políticos. Vale a pena usar alguns minutos para desmontar a jogada, até porque ela não é exclusiva de Trump.
O primeiro equívoco está em achar que o sucesso de um homem de negócios o torna imediatamente qualificado para gerir um país. Não torna. No círculo de conselheiros económicos de Trump há magnatas do petróleo, da energia, do aço, administradores de fundos de investimento e investidores vários. Todos eles partilham o facto de serem financiadores da campanha eleitoral do candidato republicano e, além disso, de terem agendas políticas muito próprias. Gerir um país não implica só "fazer dinheiro". Implica também impor limites sociais e morais aos que fazem dinheiro à custa de todos os outros. Implica saber de que forma um setor específico, como o petróleo, afeta o ambiente, ou como a política monetária que mais favorece um fundo de investimento pode ser contrária aos interesses macroeconómicos. Os milhões de Trump não o qualificam para ser presidente seja do que for.
Mas a jogada não se fica por este primeiro equívoco. É que, mesmo como empresário, Donald Trump é uma fraude. É uma fraude com imenso jeito para a autopromoção e zero escrúpulos. É sabido que essas não são características proscritas do capitalismo, mas colocam-no a anos luz do autoproclamado self-made man inovador.
Trump entra nos negócios com o dinheiro e a proteção do pai, um famoso promotor imobiliário com bons contactos políticos. A sua carreira, dos casinos às companhias de aviação, está pejada de episódios de falências e resgates, ora pela Banca, ora pelo pai. A história completa já foi publicada e merece ser lida, mas a conclusão é muito clara. A única coisa que Trump tem para vender, nos negócios como na política, é o seu nome e a excentricidade ignorante que lhe confere um atraente jeito para a polémica.
Em suma, Donald Trump é um charlatão com ideias perigosíssimas e só a possibilidade de vir a ser presidente dos Estados Unidos da América dá arrepios, apesar do calor abrasador que se faz sentir em Portugal.
*DEPUTADA DO BE
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